Ontem, terça-feira, na hora do almoço, na sede do seu grupo BSpar – conjunto de empresas que atuam nas áreas da construção civil, da incorporação imobiliária e dos negócios financeiros – o empresário Beto Studart reuniu quatro jornalistas e 12 intelectuais com o propósito de trocar ideias sobre o cenário da economia e da política no Ceará e no país.
A reunião, realizada no 13º dos 18 andares do moderno edifício BS Design, foi muito agradável, mas frustrou o anfitrião e muito mais os jornalistas, que esperavam bons e novíssimos comentários a respeito do aconteceu domingo passado no primeiro e do que acontecerá no segundo turno da eleição municipal de Fortaleza, marcado para o próximo dia 27.
Entre os convidados, estavam os ex-governadores Luiz Gonzaga Mota – exibindo uma bela e elegante bengala que Beto Studart trouxe para ele de sua última viagem a Abu Dabi, com o especial cuidado de mandar confeccionar uma borracha especial que foi fixada na ponta do acessório para “evitar qualquer escorregão” do seu usuário – e Lúcio Alcântara, que mantém intacta sua extraordinária memória a respeito dos fatos recentes e remotos da política do Ceará, principalmente.
Também estavam o presidente do Instituto Histórico do Ceará, general Lima Verde Campos de Oliveira; o ex-reitor da UFC, professor Cândido Albuquerque; o ex-presidente da Academia Cearense de Letras, José Augusto Bezerra; e o artista plástico Hermínio Castelo Branco, o Mino.
No princípio, a conversa girou em torno de reminiscências. Gonzaga Mota contou histórias de sua passagem pelo governo do Ceará e de quando presidiu a Comissão de Economia da Câmara dos Deputados, tempo em que escreveu alguns livros versando sobre temas que ainda são atuais – a Reforma Tributária e o Plano Real.
Uma dessas histórias gonzagueanas arrancou gargalhadas. Ele lembrou que, em certo dia, estava em seu gabinete quando, sem aviso prévio, nele surgiu a figura de Mino, o pintor, cartunista, poeta, cordelista e mil e uma coisas mais, apresentando-lhe uma grave reclamação:
“Governador, seu secretário de Educação, Ubiratan Aguiar, encomendou-me alguns milhares de cartilhas com histórias em quadrinhos para crianças e adolescentes. Eu cumpri o contrato, entreguei o que me foi encomendado. Porém, Ubiratan acaba de me dizer que não é ele o responsável pelo pagamento do meu trabalho, mas o secretário da Fazenda, Firmo de Castro, com quem acabo de conversar” – contou Mino
“E o que o Firmo lhe disse?”, quis saber o governador.
“Que ele irá para a cadeia se me pagar, porque, para isso, serão necessárias providências não tomadas, a começar pelo processo burocrático que exige a realização de uma licitação que demandará julgamento da Procuradoria Geral do Estado, etecétera e tal. Governador, minha geladeira está vazia e minha mulher exige que eu reponha o que está faltando, o mais cedo possível” – confessou o angustiado artista, que esperava uma salomônica solução do chefe do Poder Executivo à sua frente.
Gonzaga Mota foi salvo pelo chefe do seu gabinete, Artur Silva Filho, que entrou na sala como o Salomão bíblico, interrompendo a conversa e entregando-lhe o contracheque mensal contendo os vencimentos do mês do governador.
“Pronto, Mino, está resolvida a questão. Tome este cheque, vá ao Banco Popular, receba os R$ 12 mil que são o que recebo todo mês como governador, fique com a metade e traga-me de volta a outra metade, que eu também tenho uma mulher que se queixa do esvaziamento de nossa geladeira. É mentira, Mino?” – perguntou Gonzaga Mota com toda a majestade que lhe concedia o poder, conquistado pelo voto popular.
“Verdade, tão verdade que me lembro como se fosse hoje: enchi minha geladeira de tudo que foi possível comprar com os R$ 6 mil que você me deu”, disse Mino, encerrando a história.
Um jornalista presente achou que a reunião precisava de ser aquecida com assuntos mais quentes e atuais. E perguntou a opinião de Beto Studart e dos intelectuais presentes sobre como viram o resultado do primeiro turno da eleição para prefeito de Fortaleza e que projeção poderiam fazer para o segundo turno que se aproxima.
Os intelectuais, honrando sua privilegiada condição, saíram-se muito bem, esgrimando as palavras e fugindo do tema. E o anfitrião, que tem estreita proximidade com esse seleto e culto estrato da sociedade, foi pelo mesmo caminho. Os jornalistas entreolharam-se.
“Ludibriaram-nos”, cochichou um no ouvido do outro, que logo teve a ideia de sugerir uma votação simulada para o segundo turno da eleição municipal fortalezense. A secretária de Beto Studart, em dois segundos, a pedido do chefe, providenciou caneta e papel. Cortou-o em pedaços uniformes e os distribuiu entre os presentes, cada um dos quais escreveu o nome do seu provável candidato.
Beto Studart escrutinou os votos, abrindo lentamente cada um dos papeis. E anunciou o resultado, que, para fúria do leitor desta coluna, vai aqui somente com o placar: 11x4 e uma abstenção.
E quem ganhou? Insiste em perguntar, e com razão, o leitor.
Como foi uma votação dessas que apenas animam auditórios, sem qualquer valor científico, esta coluna opta por manter o maior segredo de um almoço que foi agradável e apetitoso do princípio ao fim.