Agro faz revolução com Insumos biológicos, mas indústria é contra

Está prestes a ser votado projeto que permite a produção pelas empresas agrícolas de defensivos sem ativos químicos. Mas a indústria e grupos de esquerda estão contra: preferem os agrotóxicos

Esta coluna volta hoje a um dos temas aqui ontem veiculados, o da incrível união das organizações e movimentos de esquerda, tradicionalmente contrários ao uso de defensivos químicos pela agricultura brasileira, com as empresas industriais, quase todas elas estrangeiras, que produzem o chamado “veneno do agro”. 

Há, como sempre houve, um abismo ideológico separando as duas partes, mas, neste momento, a ideologia que se exploda, pois o que interessa de verdade a ambas é o oportunismo gerador da desconfiança de que, por trás desse conluio, deve haver outros inconfessáveis e heterodoxos interesses.

O que pode juntar a ideologia socialista do alho com a ideologia capitalista do bugalho? São antagônicas! A primeira é declarada e reiterada inimiga da segunda, e vice-versa. Como, então, explicar por que elas estão juntas neste justo momento, quando está para ser debatido e votado na Câmara dos Deputados o projeto de lei que permite às empresas agrícolas a produção de insumos biológicos destinados ao combate das doenças e pragas que infestam as suas lavouras?   

Insumo biológico – o nome está a dizer – é o que não contém qualquer ativo químico. E ativo químico é o eufemismo que se usa para denominar o agrotóxico ou o “veneno” que se põe na mesa do brasileiro, de acordo com o discurso dos mesmos grupos de esquerda que, agora, estão de mãos dadas com os fabricantes desse “veneno”. Acreditem, caríssimos leitores, pois tudo isto é verdadeiro neste país dos contrastes.

Vamos por partes. Primeira parte: o defensivo agrícola – assim chamado nos países desenvolvidos, mas aqui apelidado de agrotóxico – tem a mesma finalidade de um medicamento que se compra na farmácia da esquina para a saúde do ser humano. 

Dentro de sua embalagem, há uma bula, ou seja, um manual de instruções, que indica para o agrônomo, que é o médico das plantas, a dosagem correta para cada cultura – de soja, algodão, milho, frutas, legumes ou verduras. Funciona igual, por exemplo, ao Paracetamol, cujas pílulas devem ser ingeridas de 6 em 6 horas, ou de 12 em 12 horas, segundo a prescrição médica. Se você ingerir uma dose maior do que a recomendada, sofrerá as consequências. Quem toma, de uma golada só, todos os comprimidos de uma caixa inteira de Paracetamol, correrá risco de morte. 

É assim, também, com o defensivo agrícola: ele matará a planta ou causará danos à saúde do aplicador ou do consumidor, se for preparado e espargido em desacordo com a sua bula. Todos conhecem a regra, os da ideologia de esquerda a conhecem melhor do que os da ideologia de direita.

Segunda parte desta inacreditável história: a mídia está a noticiar que o poderoso lobby da indústria química, há dois anos, pressiona o governo – por meio do ministério da Agricultura – e a Câmara dos Deputados, onde tramita o projeto de lei dos insumos biológicos, no sentido de impedir a sua aprovação. 

Traduzindo para o José da Silva que está sentado na arquibancada, acompanhando os acontecimentos: os grupos de esquerda, que sempre foram contra os agrotóxicos, estão agora a favor deles, e não só isto, aliaram-se à própria indústria fabricante, que teme a concorrência das empresas agrícolas que estão a produzir seus próprios insumos biológicos, gerando uma mudança radical no agro brasileiro, contribuindo para a preservação da natureza e para melhorar a qualidade dos seus produtos.

Praticar uma agricultura livre de insumos químicos deve ser – e é – a meta de quem, responsavelmente, produz no campo com boas práticas agrícolas. Livrar de agrotóxicos a agricultura brasileira – a mais moderna, eficiente e competitiva do mundo – deve ser o objetivo de quem faz as leis no Brasil. Pois é sobre os legisladores e sobre as autoridades do governo que – junto e misturado – está agindo fortemente o estranho e incrível lobby dos grupos de esquerda e da indústria química, cujo objetivo não é o de defender o alto interesse do consumidor, mas o de seguir impondo seus agrotóxico na longa lista de alimentos produzidos pela agricultura brasileira. 

A pergunta que surge é uma só: por que o Executivo e o Legislativo não se unem para dar às empresas agrícolas deste país uma regra legal que o permita produzir em suas fazendas, como já acontece em vários estados e em alta velocidade, os insumos biológicos para combater as pragas e doenças de suas lavouras? E para preservar o meio ambiente?

Na ideologia política, há razões que a própria razão desconhece.