Fernanda Torres e a vitória no Globo de Ouro, um feito a ser celebrado

Primeira brasileira a levar o prêmio de melhor atriz de drama não acreditava que pudesse triunfar na premiação, mas já era ovacionada pelos brasileiros

Escrito por
Beatriz Jucá ceara@svm.com.br

“Meu Deus, eu não preparei nada”, disse a atriz Fernanda Torres no palco do Globo de Ouro enquanto segurava firme a estatueta que reconheceu mundialmente seu trabalho no filme “Ainda estou aqui”. A inesquecível Fátima de “Entre Tapas e Beijos” e a memorável Vani de “Os Normais” venceu na categoria de melhor atriz de drama por viver Eunice Paiva e a dor de sua família durante a ditadura militar brasileira. Fernanda mostrou ser grande muitas vezes e, embora já viesse sendo ovacionada no Brasil pelo desempenho, não acreditava que pudesse triunfar na premiação. Disse que a indicação já valeria estourar o champagne.

A mãe, Fernanda Montenegro, não comprou o discurso, que parecia tentar reduzir as grandes expectativas de um país inteiro. “Mamãe tinha certeza que eu ia ganhar”, ela disse. As duas foram as únicas brasileiras a serem nomeadas ao prêmio, e Torres levou a estatueta 25 anos depois de sua mãe ser nomeada pelo trabalho no filme Central do Brasil. O Brasil sempre esteve com as duas e tomou a premiação como pessoal, com aquele velho sentimento competitivo que costumamos nutrir em tempos de Copa do Mundo. Talvez por isso ver Fernanda Montenegro celebrar com força a vitória da filha em um vídeo, ao lado de vários familiares, tenha sido tão emocionante. Com cabelos muito brancos, ela levantava os braços com força, aos gritos de parentes.

A vitória inédita de Fernanda Torres, de fato, é um feito a ser celebrado pelos brasileiros. Pelo talento, pela história do filme que, segundo ela mesma, nos ensina a sobreviver a tempos difíceis de autoritarismo, que ainda nos ronda, mais de 60 anos depois do golpe militar. Nas vésperas do 8 de janeiro e do “aniversário” de uma nova tentativa de golpe, celebramos Rubens Paiva e Eunice. Celebramos a força feminina na vida e na arte.

Fernanda nos lembrou de celebrar também a grandeza do Brasil. Depois de receber o prêmio das mãos de Viola Davis - outra marca simbólica da noite -, foi questionada por um jornalista se seria o início de uma carreira internacional. Ela disse que não separava nacional e internacional, que tinha uma carreira só. Que era mais uma brasileira pelo mundo. Fernanda, que você conquiste o mundo.

A vitória acende uma nova esperança pelo Oscar. Será que vem aí? Não sei, mas complexo de vira lata também não cabe aqui.

A imprensa estrangeira destacou a escolha de Fernanda Torres. Todos se curvaram à vitória “estranha” e “esquisita” da atriz brasileira pelo papel em um filme falado em português. Eles contaram que ela dedicou o prêmio à mãe, que o jornal El País chamou de “grande dama da dramaturgia brasileira”, e cravaram que aquela escolha foi a única surpresa da noite. Alô, turma! Fernanda é tão grande quanto Angelina Jolie e Nicole Kidman.

Nas redes sociais, só se falou mal de Fernanda por não ter levado junto a amiga Sueli, personagem interpretada por Andréa Beltrão em “Entre Tapas e Beijos”. “Avisa que é SHE”, disse alguém na antiga rede do passarinho. Fátima e Vani, as referências de Brasil cruzaram o tapete vermelho com Fernanda? Viva a cultura brasileira! Viva o cinema brasileiro!

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.