É dia de celebrar nossos mortos. De lotarmos cemitérios e missas, com direito a muitas flores e velas, para homenagear aqueles que perdemos e cujas memórias também contam sobre nós. É dia de sair com as sombrinhas em punho para nos proteger do sol.
Dia de uma oração ou uma conversa com quem já não está aqui, à beira dos túmulos, sejam aqueles bem tradicionais ou os mais novos, que juntos mais parecem um jardim.
Aqui não temos os famosos pães dos mortos mexicanos, mas internamente sempre gostei de pensar que dedicamos nosso 2 de Novembro a visitar cemitérios porque, assim como os hermanos, acreditamos que celebrá-los é uma forma de mantê-los vivos - se não no outro mundo, neste mesmo, na nossa memória de cada dia.
Afinal, como mais poderíamos explicar o porquê de milhares de romeiros irem ao Cariri neste dia?
Hoje é dia da maior romaria do ano no caminho do Horto. Centenas de milhares de pessoas são esperadas pelo Padre Cícero, lá em cima, com seu cajado a conceder graças aos romeiros.
Você já foi lá dar três voltas no cajado para pedir milagre? Ou levou ex-voto para agradecer os pedidos de saúde alcançados? É dia de celebrar todos os mortos, santos ou não.
É dia também de memória, de encontrar familiares na nova morada dos que partiram, de relembrar suas histórias em vida. É dia de lembrar quem fomos, de exaltar essa memória.
É dia também de ajudar quem está na porta do cemitério, vendendo vela e flor para colocar comida na mesa. Assim rezamos para quem está aqui e para quem partiu, que ambos ganhem os céus.
Finados é sobre honrar a vida dos que nos antecederam e enviar-lhes luz. Por isso, leitor, peço licença para também homenagear aqui os meus mortos, espalhados em tantas cidades que não terei como visitá-los.
E, para não citar todos, o faço enviando muita luz para meu filho Francisco, anjinho que não teve nem túmulo, mas que gostamos de homenagear com flores na igrejinha de São Pedro, pertinho da praia que tanto sonhei levá-lo para nadar.
Peixinho, que seu espírito esteja em festa neste dia junto com seus bisavós Francisco e Luiz. Hoje celebro a vida de vocês com toda a carga cultural da nossa tradição de Finados, com sombrinhas, velas e flores nos cemitérios lotados de luz.