Não está fácil a vida do brasileiro! Além do anúncio do reajuste da cerveja, os amantes de um sextou pelos botecos já devem sentir também as altas dos petiscos, como croquetes de carne e batata-frita. Bares de Fortaleza já experimentam aumento de 70% com os preços elevados de insumos e energia elétrica.
O empresário Thales Parente, dono de um bar no bairro Meireles, na Capital, conta que vem sentindo o aumento desde a primeira retomada e, por isso, o impacto teve de ser repassado ao consumidor. No caso dos petiscos que envolvem carne, o reajuste chegou a 70%.
“Desde a primeira retomada, quando liberaram a gente para trabalhar já sentimos esse aumento grande em tudo, principalmente, nas carnes. Recentemente, tivemos o reajuste da cerveja e a gente não consegue repassar todo para o cliente".
Apesar disso, o empresário diz que, desde outubro, já experimenta uma recuperação do negócio e projeta um faturamento 30% maior para dezembro comparado a outubro.
“Porém, ainda estamos com bastante receio para 2022, por conta dessa nova variante, mas a expectativa é positiva, porque é ano de Copa. Para donos de bares e restaurantes sempre é um bom momento”, afirma.
Substituição de insumos
Um pub localizado no bairro Parquelândia acumula um aumento de 30% em todo o cardápio. Conforme o dono, Gustavo Linhares, o repasse ao consumidor foi inevitável.
“Tentamos segurar ao máximo. Nem conseguimos repassar 100%, porque o poder de compra do cliente não acompanhou, então não conseguiríamos vender”.
Linhares relata ainda que, com isso, as margens de lucro caíram pela metade e tiveram de fazer substituições de insumo, como alguns cortes de carne por peças mais baratas.
“Preferimos deixar de trabalhar com o filé mignon, por exemplo, para recorrer a proteínas mais baratas para continuar sendo acessível ao cliente”, lamenta.
Assim como Parente, o empresário é otimista para fim de ano e para 2022. A perspectiva é de que o faturamento seja 40% maior que num mês comum, com as confraternizações e as pessoas querendo sair de casa.
"Vejo um momento de muita demanda em 2022, mas quem lida com questão das margens vai ter que ser cada vez mais profissional. O nosso mercado está cada vez mais tirando os amadores porque se você não tiver o controle, vai acabar sendo engolido pelo mercado”.
Cenário de recuperação
“Mesmo reduzindo nossos custos e espremendo margens, os aumentos foram bastante expressivos, não tivemos escolha e tivemos que fazer um reajuste em setembro de 13% em nossos produtos. De lá para cá, já tivemos diversos aumentos ainda que nós não repassamos, porém, se continuar essa tendência de alta não teremos opção e teremos que fazer um novo reajuste”, sinaliza Pedro Dias, proprietário de bar no bairro Maraponga.
De acordo com Dias, o cenário hoje para o setor é de recuperação, mas em uma velocidade bem menor que ocorreu no último trimestre do ano passado. “Acreditamos que essa baixa velocidade está ligada ao poder de compra do brasileiro que foi encolhido com as altas de preços de maneira geral”.
"Em 2022, acreditamos que será um ano de transição bastante delicado, observamos atentamente a evolução da pandemia e o receio com uma possível terceira onda, mas não podemos parar, temos que voltar a investir, sempre com muita responsabilidade e com atenção redobrada devido ainda a situação delicada que estamos vivendo".
Inflação segue em alta
De acordo com os dados de outubro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a batata inglesa acumula alta de 19,4% nos últimos 12 meses em Fortaleza e o patinho, de 25,27%.
Outros que apresentam destaque de alta foram: linguiça (14,21%), frango em pedaços (34,74%), ovo de galinha (19,24%) e azeitona (19,74%).
O resultado prévio da inflação da Capital para novembro marcou alta de 1,35%, maior variação para o mês desde 2002, quando o índice foi de 2,73%. Com o resultado, no ano, o indicador acumula alta de 10,53% em Fortaleza. Já nos últimos 12 meses, o índice possui variação de 11,90%.
O economista Ricardo Coimbra pontua que o que pode ajudar na perspectiva da recuperação econômica do setor é o passaporte sanitário. "As pessoas que temiam frequentar esses locais vão se sentir mais seguras, gerando um aumento de consumo. Porém, com relação ao repasse de preços isso vai depender da conjuntura".
Contudo, o economista ressalta que, para 2022, a tendência é de que a inflação siga, porém em um ritmo menor do que deste ano.
"Para o ano que vem, o mercado estima algo em torno de 5 a 6%, você ainda terá elevação dos preços, há de se esperar o que vai acontecer com o ritmo de produção, as chuvas de fim de ano em algumas regiões produtoras, principalmente, de grãos".