Após meses de fortes altas em que se tornou item de luxo, o preço da picanha vem caindo em ritmo cada vez mais acelerado. Na região metropolitana de Fortaleza (RMF), o quilo do corte já reduziu 4,63% este ano e é encontrado a partir de R$ 37,99.
O alívio na pressão inflacionária foi apontado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o acompanhamento, desde janeiro de 2022 a picanha vem ficando mais barata mês após mês, completando uma sequência de 16 meses seguidos de baixa, que começa a ser refletida para o consumidor final somente agora.
A reportagem realizou uma pesquisa direta em frigoríficos e supermercados da Capital e observou que o quilo da picanha pode variar de R$ 37,99 a R$ 170,00 - sendo o menor valor registrado em promoções de supermercados que promovem ofertas de diversos cortes às quartas e quintas e, o valor mais alto, referente a tipos de picanha importados.
É importante ressaltar que os valores muito abaixo da média costumam ser temporários e praticados para a picanha nacional.
Além da picanha, outras peças como o acém (-7,5%), fígado (-4,70%), contrafilé (-4,07%), chã de dentro (-3,99), alcatra (-3,76%) e costela (-1,21%) também apresentaram redução nos valores.
O que motivou a queda
O analista de mercado da Ceasa, Odálio Girão, explica que a suspensão temporária das exportações para a China em função da suspeita de caso da vaca louca deixou os produtores inseguros, que injetaram parte significativa do que seria exportado no mercado interno.
A decisão foi tomada para evitar maiores perdas, uma vez que não se sabia quando as exportações seriam autorizadas novamente. O aumento na oferta de carne bovina no País tem puxado os preços para baixo, gerando alívio no bolso dos consumidores.
"Além disso, a carne produzida no Nordeste recebeu um impulso em função do bom período de chuvas deste ano, que melhorou bastante o pasto e a engorda do gado", pontua Girão.
No atacado, o analista revela que a carne bovina em geral caiu cerca de 5% somente em abril na Ceasa.
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, reforça a influência do recuo nas exportações para os valores mais acessíveis.
Ele aponta que as exportações de carne bovina caíram 26,5% em março na comparação com o ano passado. O movimento seria reflexo exatamente da suspensão dos embarques para a China, que vigorou entre 22 de fevereiro e 23 de março.
O especialista ainda indica que, segundo dados preliminares de abril da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a média diária dos volumes exportados atingiu 5,6 mil toneladas até o dia 10 de abril, o que representa uma queda de 26,5% em relação a abril, enquanto os preços médios recuaram 5,8% em relação à média de março,
para aproximadamente USD 4,5/kg.
No mercado interno, a suspensão das exportações para a China influenciou nos preços e nas negociações do mercado físico, com oscilação de preços da arroba do boi gordo ao longo do mês. Com o fim do período de chuvas mais volumosas, a tendência de aumento da oferta de gado nos próximos meses tende a pressionar os preços da arroba para baixo"
Aguiar avalia que as exportações brasileiras de carne bovina permanecem bastante competitivas no mercado global da proteína, uma vez que há expectativa de menor oferta em outras regiões, como a América do Norte, e a recente habilitação de novos mercados compradores – como o México e a Indonésia.
Ainda assim, os temores de uma recessão econômica nos EUA e o cenário macro ainda pressionado no Brasil têm limitado expectativas mais otimistas para os frigoríficos brasileiros no curto prazo.