O desaceleramento da inflação, em setembro último, puxou para cima a rentabilidade da poupança. Um cenário positivo para a caderneta que não se via há mais de dois anos, desde agosto de 2020. Apesar desse movimento, economistas ponderam que o retorno desse investimento ainda segue baixo e apontam uma opção conservadora, mas mais rentável.
Naquele mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou negativo em 0,29%.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Raul dos Santos Neto, observa que, comparada a outras aplicações também conservadoras, a poupança continua com baixo rendimento. Atualmente, a caderneta paga 0,5% ao ao mês mais a Taxa Referencial (TR).
A Selic, taxa básica de juros, está em 13,75%. O economista acrescenta, contudo, ser uma boa opção para o pequeno poupador, com os seguintes perfis:
- Quem pretende guardar algum dinheiro, mas pode usá-lo a qualquer momento;
- Para quem nunca poupou dinheiro e quer ter um primeiro contato com o mercado.
“Mas, rapidamente, depois de entender como funciona e se organizando financeiramente, com previsibilidade de receitas e de gastos, o investidor tem de migrar para outros produtos”, observa Raul.
“Então, no médio e longo prazo, eu não aconselharia a poupança. Independente de ser para o investidor de menor, média ou maior renda. Para todos os investidores, ela não é um bom investimento”, destaca.
O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e conselheiro Regional de Economia (Corecon), Ricardo Coimbra, frisa que a rentabilidade da caderneta está relacionada à Selic.
“Existe um corte da taxa em relação à remuneração, acima e abaixo de 8,25%. Como a Selic está num patamar de 13,25%, vai para a regra antiga, que é de 0,5% mais a taxa referencial. Isso significa dizer que, nesse momento, com uma pequena redução da inflação, o percentual da poupança está um pouco acima do índice inflacionário”, explica.
“Acaba havendo algum tipo de ganho, mas ele é muito pequeno em relação ao que você poderia ter em outras operações financeiras, visto que a própria taxa Selic está 13,75% ao ano”, enfatiza.
Coimbra aponta, todavia, haver ponto positivo na poupança, considerando a vinculação com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para valores de até R$ 250 mil. O FGC é um mecanismo de proteção de poupadores e investidores.
Como começar a sair da poupança sendo um investidor iniciante e/ou conservador?
O economista Ricardo Coimbra esclarece que algumas instituições financeiras disponibilizam informações gratuitas de percentuais de remuneração da poupança e de demais investimentos de renda fixa e até variável. Portanto, o consumidor pode fazer as comparações antes da decisão.
A renda fixa é a modalidade de operação na qual é possível estimar o rendimento do investimento, considerando que as taxas e os indexadores foram previamente definidos, como a poupança e o Tesouro Direto.
Já a variável possui negociações cujo retorno não pode ser dimensionado no momento da aplicação e variam, positivamente ou negativamente, conforme as expectativas do mercado.
Coimbra aponta que o Tesouro Direto pode ser uma alternativa para os conservadores que ensaiam sair da caderneta. Essa categoria consiste na compra de títulos públicos (emissão de dívida feita pelo governo) de forma online. A partir de R$ 30, já é possível começar.
O risco desse investimento é baixo em razão da impossibilidade de quebra do emissor. Isso porque, na prática, é feito um empréstimo ao governo, que pagará em determinado prazo acrescido de rendimentos.
“A depender do percentual e do valor a ser aplicado, tem essa opção via as instituições financeiras e, muitas vezes, algumas corretoras não cobram nem taxa de movimentação. Ou seja, você vai receber 100% da taxa de remuneração básica da Selic", orienta Coimbra.
“Então, pode ser interessante as pessoas começarem por aí. Elas podem comprar frações de títulos e tem diversas opções e prazos diversos também para resgate”, complementa.