O interesse das companhias aéreas brasileiras em estabelecer hubs no Nordeste é recente. O assunto foi trazido à tona pela Tam (agora Latam), em 2015, quando a empresa anunciou o interesse de investir em um dos aeroportos de Fortaleza, Natal e Recife, em uma espécie de “licitação às avessas” que pôs os governos dos três estados em disputa pelo equipamento e que, pelo menos até agora, não vingou.
Mesmo assim, foram realizadas mudanças na legislação dessas cidades para atrair o investimento, que incluíram a isenção de Imposto sobre Comercialização de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente sobre o combustível da aviação, entre outros benefícios. Com isso, outras companhias aéreas resolveram ampliar suas presenças no Nordeste – primeiro a Azul, em Recife, e agora a Gol, juntamente com a Air France-KLM, em Fortaleza.
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Antes disso, os hubs das companhias aéreas se concentravam no Sudeste, principalmente em São Paulo, que possui maior tráfego de passageiros, e também em Brasília, impulsionada pela demanda das instituições públicas e pela posição geográfica vantajosa para conexões domésticas, segundo avalia Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA).
“As empresas estão fazendo tomadas de decisão que são geograficamente distintas, o que não era muito comum na história da aviação do Brasil. Historicamente, as empresas grandes estavam em todos os aeroportos na mesma proporção”, aponta o pesquisador. “Esse fenômeno é recente com a entrada da Azul, com empresas tomando decisões mais localizadas, escolhendo mercados geográficos para atender e satisfazer plenamente os passageiros”.
São Paulo
O Aeroporto de Guarulhos, o mais movimentado do Brasil, é considerado o portão de entrada do País, o principal hub doméstico e internacional. No ano passado, 37,4 milhões de pessoas passaram pelo terminal, segundo dados do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. Tamanha é sua importância que ele é hub de três das quatro maiores companhias aéreas do País: Latam, Gol e Avianca, enquanto a Azul se concentra no Aeroporto de Viracopos, em Campinas.
A Latam considera Guarulhos como seu principal centro de conexão internacional e doméstico, com distribuição de voos para diversos continentes. Lá, a Gol foca mais nas conexões internacionais dos voos próprios e de parceiros, como Delta e Air France-KLM. Ambas têm fatias semelhantes do mercado e são responsáveis por pouco mais da metade das operações, seguida pela Avianca, que vem aumentando sua participação no terminal.
Na capital paulista, 21,5 milhões de pessoas passaram em 2017 pelo Aeroporto de Congonhas, o segundo de maior movimentação no País e que opera em sua capacidade máxima. Quase 90% das operações do terminal estão nas mãos das duas maiores, Latam e Gol. Esta última o considera um centro de conexões que visa atender principalmente os clientes da cidade de São Paulo.
Já Viracopos, em Campinas, apareceu como um grande player do mercado após a Azul instalar lá seu hub. O Aeroporto é dominado pela companhia, responsável por quase 90% das operações do terminal, que recebeu 9,2 milhões de passageiros em 2017 e garantiu a 6ª posição no ranking dos mais movimentados do País. Segundo Oliveira, é natural que os três terminais paulistanos sejam hubs devido à força econômica da região.
Conexões
O Aeroporto de Brasília foi o terceiro mais movimentado em 2017, com 16,7 milhões de passageiros, seguido de perto pelo Galeão, no Rio de Janeiro, que recebeu 16,1 milhões de pessoas no período. O primeiro, assim como Guarulhos, abriga os hubs de três companhias aéreas: a Latam, a Gol (que juntas, detém mais de 70% das operações do aeroporto), e a Avianca.
Já o Galeão é o principal hub da Gol, tanto para conexões internacionais com voos próprios e de parceiras, como também é o principal fluxo de conexões domésticas Sul-Nordeste da companhia. É seguida pela Latam e pela Avianca, com menor participação da Azul. De acordo com Oliveira, o terminal carioca é, juntamente com o de Guarulhos, um portão de entrada para o Brasil. “É o que Fortaleza e Recife aspiram ser um dia”, avalia o pesquisador. O Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, assim como Viracopos, também foi impactado pelo crescimento da Azul no terminal, que possui uma fatia de mais da metade das operações - seguida pela Gol e pela Latam. Foi o quinto mais movimentado no ano passado, quando recebeu 10 milhões de passageiros.
“É um aeroporto importante para a malha de qualquer empresa, mas vide que as duas grandes, Latam e Gol, observaram o fenômeno do crescimento da Azul e não fizeram muito para segurar esse market share”, destaca Oliveira.
Nordeste
Com a ampliação das operações da Azul no Recife, em Pernambuco, a partir de 2016, o Aeroporto do Guararapes ultrapassou o de Salvador e encerrou 2017 em 9º lugar no ranking de movimentação no País e o 1º do Nordeste, com 7,7 milhões de passageiros. O hub fez com que a companhia aérea passasse a ser responsável por quase metade das operações no terminal pernambucano, seguida pela Gol, Latam e Avianca, respectivamente.
Já no Aeroporto de Fortaleza, a concorrência é mais acirrada - a Latam já chegou a operar metade dos voos do Pinto Martins no início da década, conforme lembra Oliveira, e hoje tem quase a mesma fatia que a Gol. O terminal encerrou o ano em 12º lugar no ranking de movimentação de aeroportos no Brasil, com o tráfego de 5,8 milhões de pessoas no ano passado.
“Hoje, ela está páreo a páreo com a Gol, mas quem cresceram foram as médias, Avianca e Azul. (Fortaleza) é um aeroporto extremamente competitivo, onde as duas médias são relativamente fortes. É um hub diferente, que tem mais concorrência”, avalia o pesquisador.