Com o início das operações do hub da Air France/KLM em parceria com a Gol Linhas Aéreas Inteligentes no Aeroporto Internacional Pinto Martins, na próxima quinta-feira (3), o terminal cearense cresce em relevância e, em breve, também em número de passageiros, passando a fazer parte do grupo de aeroportos que sediam centros de conexões das principais companhias aéreas do País.
Os hubs brasileiros hoje são os aeroportos de Guarulhos e Congonhas (SP), Brasília (DF), Galeão (RJ), Confins (MG), Viracopos (SP) e Recife (PE). De acordo com análise da consultoria holandesa To70, o Aeroporto de Fortaleza deve se tornar um dos grandes hubs brasileiros, impulsionado pelos investimentos das companhias aéreas e também da Fraport na infraestrutura do terminal.
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Grandes cidades
O hub, na maioria dos casos, é estabelecido pelas companhias aéreas em cidades grandes. "Por conta da maior densidade de voos com destino final nessa cidade, isso gera economias para a empresa que está pensando em colocar um hub. Ela não vai colocar numa cidade pequena, não vai viver só de conexão", explica o pesquisador Alessandro Oliveira, do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA).
Os reflexos do equipamento para a economia partem da oferta de mais conexões diretas para os habitantes, inclusive podendo baixar os preços, e seguem com a atração de mais passageiros, o que proporciona mais dinamização da economia local. "Com mais demanda, mais passageiros com destino à cidade, vários setores, aqueles diretamente ligados com o transporte aéreo, como turismo, hotelaria, serviços associados, todos serão beneficiados".
Na avaliação do engenheiro aeronáutico Jorge Leal Medeiros, professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), uma das principais vantagens para a cidade diz respeito à possibilidade de que passageiros que não tenha como destino final Fortaleza possam fazer uma pausa no meio da viagem e ficar alguns dias na cidade sem custos adicionais (o chamado stopover).
"Que vai aumentar o número de turistas, vai com certeza, mas depende também do que é oferecido a eles", pondera o professor. "O Ceará terá que expandir essa capacidade (de atender e oferecer opções aos visitantes), mas, por ser um Estado bem avançado em turismo, isso facilita a ampliação do fluxo turístico proporcionado por essas novas conexões".
Mais investimentos
Além disso, é possível que o hub cresça e atraia ainda mais investimentos. "Pode acontecer de uma companhia aérea resolver estabelecer, além de um hub, uma base operacional, onde coloca centro de manutenção, traz escritórios, contrata maior número de pessoas. É o exemplo de Atlanta com a Delta, que tem lá seu headquarter. Essas cidades se beneficiam desses investimentos, que tem efeitos multiplicadores e induzidos", explica Oliveira.
Essa era a proposta da Tam em 2015, hoje Latam, para o estabelecimento de um hub no Nordeste. De acordo com o levantamento da Oxford Economics, contratado pela empresa, o equipamento iria trazer um crescimento adicional de US$ 374 milhões a US$ 520 milhões por ano ao PIB de Fortaleza, Natal ou Recife nos cinco primeiros anos de operação, equivalendo a uma alta anual de 5% a 7%.
Com a queda da demanda de passagens aéreas provocada pela crise econômica, a companhia pôs o projeto na geladeira. No ano seguinte, a Azul estabeleceu projeto semelhante, mas menor, no Aeroporto de Recife e, aproveitando os primeiros sinais de recuperação da economia, a Air France/KLM e a Gol anunciaram em setembro passado o hub internacional em Fortaleza, que será inaugurado na próxima semana.
Para recuperar o tempo (e espaço) perdido, agora a Latam volta a dar sinais de que pretende ampliar sua presença no Aeroporto de Fortaleza. A companhia chegou a anunciar em conjunto com o governo que realizaria um evento, que teria sido na última quarta-feira (25), em que anunciaria novos voos nacionais e internacionais a partir da Capital, mas foi adiado por questões de agenda do governador e ainda não há data definida.