Azul e dona da Gol Linhas Aéreas assinam acordo para possível fusão entre companhias aéreas

Duas das principais empresas do setor de aviação brasileiro passam a estudar formalmente a sinergia das operações

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
(Atualizado às 21:40)

A Abra, holding dona da Gol Linhas Aéreas e da colombiana Avianca, e a Azul Linhas Aéreas assinaram nesta quarta-feira (15) um memorando de entendimento (MoU) não vinculante. Com esse acordo, as duas empresas divulgam a intenção de unir as operações em território brasileiro.

Esse acordo, inicialmente, não traz obrigações e responsabilidades de ambas as partes, mas sim traz detalhes sobre como se dará a parceria futuramente. O assunto foi divulgado pelas duas companhias e pela Gol por meio de fato relevante divulgado aos acionistas. O grupo Abra destaca que "a Gol não faz parte do MoU". 

"A GOL destaca que o MoU anunciado na presente data representa uma fase inicial de um processo de negociação entre a Abra e a Azul para explorar a viabilidade de uma possível transação. O acordo não tem impacto na estratégia, na condução dos negócios ou nas operações rotineiras da GOL", frisa a Gol Linhas Aéreas.

A Azul, por sua vez, reforça que o MoU "descreve os entendimentos das partes sobre a governança da entidade resultante da operação e reforça o interesse das partes em continuar as negociações em relação à proposta de troca de ações e demais condições da operação".

Como de praxe em transações do gênero, o próximo passo previsto para a sinergia das operações deverá ser enviar uma notificação para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). É o órgão que analisa fusões e demais negócios que envolvem empresas brasileiras ou que operam em território nacional.

Gol continua em processo de recuperação judicial

A brasileira Gol destacou que, por enquanto, não haverá impactos nas operações da empresa no País. Vale lembar que a companhia está em recuperação judicial há um ano. Em janeiro de 2024, a aérea deu entrada com pedido de Chapter 11 no Tribunal de Falências dos Estados Unidos (processo legal em território estadunidense e utilizado pelas empresas para levantar capital e reestruturar as finanças enquanto operam normalmente). 

A Gol "continua focada em concluir as etapas restantes dos seus procedimentos do Chapter 11 em andamento, com o objetivo de emergir de seu processo de reestruturação como uma companhia independente e capitalizada".

Essa condição inclusive é parte decisiva do MoU assinado entre Abra e Azul. De acordo com o que foi divulgado pela Gol aos acionistas, a possível fusão entre as duas empresas "estaria sujeita à consumação do plano de reorganização no âmbito do procedimento de Chapter 11, bem como a outras condições e aprovações para o fechamento a serem negociadas em conexão com a potencial transação".

Tanto a Gol quanto a Azul reforçaram na comunicação aos acionistas que ambas vão manter os certificados operacionais e as marcas independentes uma da outra. A associação entre as duas empresas, conforme o entendimento das aéreas, vai trazer combinação de operações e ganhos de eficiência.

"A Abra e a Azul também concordaram no MoU com um princípio comercial de que qualquer combinação resultará em uma alavancagem líquida da entidade combinada que será pelo menos comparável à alavancagem líquida da GOL imediatamente antes do fechamento da potencial transação após a consumação de seu plano de reorganização", detalha a Abra.

"Após a conclusão dessa transação, espera-se que as empresas Gol e Azul mantenham suas marcas independentes e certificados operacionais, atendendo a mais de 200 destinos no Brasil e internacionalmente, com planos de expandir suas redes aéreas e conectividade e criar mais postos de trabalho", completa a empresa.

Acordo de associação começou a ser divulgado há quase um ano

Desde os primeiros meses de 2024, começaram a circular notícias no mercado da aviação comercial de que Azul e Gol estudavam a associação. Essas questões combinam sucessivos resultados negativos, como o processo de Chapter 11 da empresa controlada pelo Grupo Abra. 

"Temos o prazer de anunciar nossa intenção de explorar uma combinação dos negócios da Gol e da Azul para criar um player de aviação global mais competitivo e resiliente e aumentar a democratização do setor. Como parte da estratégia da Abra de fortalecer o mercado brasileiro, esta é uma oportunidade importante para intensificar ainda mais nossa presença no Brasil e fortalecer nossa rede global".
Manuel Irarrázaval
CFO da Abra

Além do acordo do Cade, órgão antitruste — que analisa se fusões entre empresas podem aumentar o poder e controle sobre o mercado —, as duas empresas só terão a associação definida, conforme explicado pela Abra, caso haja a "conclusão satisfatória da due diligence, celebração de contratos definitivos e satisfação das condições habituais de fechamento", além da reorganização financeira da Gol.

A dona da Gol Linhas Aéreas ressalta que não haverá nenhuma alteração devido à assinatura do MoU tanto na companhia brasileira quanto no Grupo, que controla ainda a Avianca Colômbia (empresa sem relação com a extinta Avianca Brasil).

Está em vigor ainda desde junho de 2024 um acordo de cooperação comercial entre Azul e Gol. Na transação do codeshare, como é chamado, os clientes podem adquirir passagens de uma em voos operados pela outra, aumentando a oferta de trajetos de ambas. Essa parceria inclui rotas domésticas exclusivas das companhias — operadas por uma das duas empresas.

Que impactos a fusão pode ter no Ceará?

Em maio do ano passado, o colunista de aviação do Diário do Nordeste Igor Pires trouxe detalhes sobre os possíveis impactos entre a associação de Azul e Gol no Ceará. 

Nos três principais aeroportos do Estado, a participação das duas companhias era semelhante. À época, Fortaleza contava com 25% de voos da Gol e 20% da Azul. Em Juazeiro do Norte, a Azul tinha mais de 40% do mercado e a Gol, 34%.

Já no aeroporto de Cruz-Jericoacoara, a Gol era responsável por 36% dos voos e a Azul, 20%. Em demais aeroportos cearenses, a Azul operava com a subsidiária regional, a Azul Conecta, mas vai descontinuar as rotas a partir de março deste ano. 

Atualmente, nem a Azul, nem a Gol têm centros de conexões (hubs) estabelecidos em Fortaleza, ao contrário da Latam, que tem na capital cearense a base da companhia no Nordeste. Antes da pandemia, a Gol tinha o hub da empresa na cidade, mas ele foi posteriormente transferido para Salvador. O da Azul, na região, fica em Recife.

Apesar da associação, o especialista afirmou que "não seria um bom cenário de curto-médio prazo" em virtude da necessidade de conexões de Fortaleza com outras cidades, como Recife e Campinas (hubs da Azul) e Salvador e Brasília (hubs da Gol). 

Em novembro do ano passado, em notícia divulgada no portal CNN Brasil, a Azul tinha interesse em fazer uma oferta pela compra da Latam Airlines Group. A empresa é chilena e resultado da associação entre a chilena LAN e a brasileira TAM, acordo ocorrido em 2016.