Alimentos, gasolina, aluguel e plano de saúde: por que está tudo tão caro?

Segundo economistas, encarecimento dos produtos e serviços é interligado e pressão de alta deve continuar com a volatilidade do dólar e desorganização das cadeias globais

O custo de produtos e serviços essenciais para a população ficaram mais altos nos últimos 12 meses. Os alimentos e bebidas, por exemplo, apresentaram inflação de 16,1% em Fortaleza, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos primeiros dois meses de 2021, o índice na Capital cearense e Região Metropolitana já acumula avanço de 1,7%.

Mas não foram só os alimentos que apresentaram alta expressiva de preços ao longo dos últimos meses. Morar de aluguel, por exemplo, ficou mais caro. Isso porque os contratos são, em geral, reajustados pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro acumulou alta de 28,94%.

A forte aceleração do índice, que é composto pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M), Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) e Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), é influenciada pelos preços dos alimentos, conforme explicação do economista Alex Araújo.

"Houve um aumento no custo de produção dos alimentos e uma boa parte dessa alta foi absorvida pela indústria e pelo atacado", diz, destacando que o IGP-M subiu bem mais que o IPCA (alta de 5,20% em 12 meses na média do País).

Inclusive, diante da forte alta do IGP-M, uma alternativa apresentada por corretores imobiliários e buscada pelos consumidores e a negociação do reajuste do contrato de aluguel pelo IPCA no lugar do IGP-M, já que um dos efeitos da pandemia é justamente a perda de uma fatia expressiva da população.

Veja como economistas explicam a alta em cada segmento:

Alimentação

O professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Fortaleza, Allisson Martins, detalha que é importante considerar que, no contexto global, os preços das commodities (produtos com preços determinados pela oferta e procura internacional) subiram muito nos últimos meses.

"Um exemplo é a soja, o trigo e o petróleo. De uma forma geral, as commodities estão nessa pressão de alta pela retomada da atividade econômica internacional. Essa pressão pelo consumo de alimentos no mundo deve continuar", diz.

O economista Alex Araújo também destaca que a desorganização das cadeias globais em decorrência da pandemia do coronavírus contribuiu para elevação dos preços das commodities, com destaque para o impacto sobre os alimentos. "A China está ajudando a impulsionar o preço dos alimentos com o forte consumo de soja e milho, que disparou no mercado internacional", explica.

Combustíveis

Outro componente que contribui para a elevação dos preços dos alimentos é a alta nos preços dos combustíveis, que encarece o transporte dos produtos. Mas por que os combustíveis estão mais caros?

Alex Araújo avalia que um inverno rigoroso no hemisfério Norte, dificultando a produção de energias alternativas, aumentou a demanda por petróleo, elevando o preço da commoditie. Como a Petrobras possui uma política de preços que acompanha o mercado internacional, os combustíveis internamente encarecem nas refinarias e o reajuste é repassado ao consumidor final pelos postos de combustíveis.

Como as commodities são dolarizadas e o próprio dólar está em patamar bem elevado ante o real, isso também impacta tanto nos alimentos como nos transportes. "O componente transporte afeta diretamente no custo dos produtos, então o impacto é direto, talvez não instantaneamente, mas em algum momento ele vem", explica Allisson Martins. A expectativa é que o dólar continue em volatilidade de alta nos próximos meses.

"Outro ponto é a própria desvalorização do real ante o dólar. E esse é um ponto muito importante, é outra vertente que sofre a influência de uma série de fatores: questão ambiental, fluxo de capitais, risco financeiro e risco político, que é algo que os investidores colocam na conta", detalha o coordenador.

Aluguel

Preços dos transportes em alta afetam os preços dos alimentos, que pressionam o IGP-M, que reajusta os preços dos contratos de aluguel. "O IGP-M é uma composição de preços, dentro deles temos o Índice de Preços por Atacado, que é influenciado pelos preços dos alimentos. Tudo é conectado", diz Allisson Martins.

Além disso, ele acredita que a aceleração da atividade imobiliária, com uma pressão de demanda em relação à construção civil, influenciou o INCC-M, impactando o IGP-M.

Planos de saúde

Os planos de saúde sofreram o impacto diretamente da pressão ocasionada pela pandemia do coronavírus. Alex Araújo pontua que, diante da crise provocada pela doença, mesmo com perda na renda, a população prioriza o pagamento dessa despesa médica.

Com o avanço da pandemia comprometendo o sistema público e o sistema particular de saúde, a demanda por insumos médicos cresceu. Alex Araújo e Allisson Martins explicam que a compra desses insumos entram no custo médico, que é considerado no cálculo do reajuste submetido à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

"Se trata de uma planilha de custos que gera o que chamamos de inflação médica. Essa inflação médica é discutida com a agência reguladora para a definição do reajuste", explica, justificando que, durante a pandemia, houve um alto consumo de insumos médicos.

"A gente já vem observando o aumento dos planos de saúde nos últimos 20 anos também em decorrência da chegada de novos tratamentos. A área de diagnóstico avançou muito, por exemplo. Isso é um custo a mais para o sistema de saúde, vários exames ficaram muito mais modernos. E existe uma tendência de avanço da tecnologia", detalha Alex.

Neste ano, além da mensalidade ainda a ser reajustada com os valores de 2021, os boletos ainda trazem também a cobrança do reajuste de 8,14% que deixou de ser pago no ano passado por conta da pandemia, parcelados em 12 vezes, ou seja, até o fim de 2021.