Covid-19: 150 cidades do CE têm risco de médio a altíssimo de incidência
Novo indicador divulgado pela Secretaria da Saúde mostra os níveis de alerta dos municípios com base nas altas de casos diários, internações, testes positivos, óbitos e leitos de UTI ocupados entre os dias 15 e 28 de novembro
Oito a cada 10 municípios do Ceará têm risco moderado, alto ou altíssimo de incidência da Covid-19, conforme levantamento divulgado pela Secretaria da Saúde (Sesa), ontem, por meio da plataforma IntegraSUS. A classificação considerou os aumentos nos números de casos diários, óbitos pela doença, internações por causas respiratórias, testes RT-PCR com resultados positivos e leitos de UTI específicos ocupados nas semanas epidemiológicas 47 e 48, entre 15 e 28 de novembro.
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Os níveis de alerta são divididos de 1 a 4, em que 1 é o "novo normal", 2 é "moderado", 3 é "alto" e 4 é "altíssimo". De acordo com o painel, o Ceará registrou, nas últimas duas semanas epidemiológicas (47 e 48), 137 novos casos diários da doença pandêmica a cada 100 mil habitantes, nível de alerta "moderado" e com tendência de queda.
As internações por doenças respiratórias (66 casos), assim como o percentual de leitos de UTI-Covid ocupados (59,7%) e a taxa de letalidade por Covid-19 (0,4%), também têm tendência "decrescente" nas duas últimas semanas. Nesses indicadores, o nível de alerta é classificado como "baixo". Por outro lado, a taxa de positividade dos exames RT-PCR apresenta alerta "alto": 62,7% dos testes tiveram resultado positivo para infecção, percentual que mostrou tendência de crescimento entre 15 e 28 de novembro.
Dos 184 municípios cearenses, 21 estão em alerta máximo, nível 4, com risco considerado "altíssimo" se analisados os índices epidemiológicos. Nesses locais, explica a plataforma, mais de 75% dos exames RT-PCR para identificação do novo coronavírus têm dado positivo, a taxa de letalidade pela doença está igual ou superior a 3% e mais de 95% dos leitos de alta complexidade estão ocupados.
Cidades como Sobral, Aquiraz, Cedro, Icapuí e Milagres, por exemplo, estão nessa situação.
Já o risco "alto", posicionado no nível 3 de alerta, foi identificado em Fortaleza e outras 32 cidades cearenses, como Boa Viagem, Brejo Santo e Aracati. Nelas, a taxa de positividade dos testes, por exemplo, está entre 50% e 75%; e a ocupação de leitos de UTI, entre 80,1% e 95%.
Na Capital, conforme o IntegraSUS, foram confirmados 201 novos casos de Covid-19 por dia a cada 100 mil habitantes, nas duas últimas semanas de novembro, e cerca de 54% dos exames para diagnóstico da virose deram positivo no período. As duas taxas, porém, apresentam tendência de queda, assim como a ocupação dos leitos e as internações. A única que teve aumento foi a taxa de letalidade, que está em 0,4%.
Outras 97 localidades, como Itapipoca, Canindé, Quixadá, Crato e Juazeiro do Norte acenderam alerta "moderado", nas semanas 47 e 48. Isso significa que o cenário da doença nesses municípios mostrou piora e requer atenção. Nesses municípios, de 25% a 49,9% das pessoas testadas têm tido resultado positivo para presença do coronavírus. Além disso, entre sete e oito a cada 10 leitos de UTI estavam ocupados no período analisado, e a incidência de novos casos e internações aumentou.
Em todo o Estado, apenas 34 (18%) cidades aparecem com nível 1 de alerta, ou seja, têm indicadores considerados baixos em relação a novas infecções, hospitalizações, testagens positivas e ocupação de leitos. Entre elas estão Paracuru, Pacoti, São Luís do Curu e Granjeiro. Apesar disso, parte dos locais onde a situação está relativamente mais "tranquila" tem tendência de aumento em alguns indicadores, o que demonstra a necessidade de vigilância constante.
Segunda onda
A Sesa explica que um indicador está "crescendo" quando há aumento do valor superior a 15% entre as duas últimas semanas epidemiológicas; "decrescendo" quando há redução do valor superior a 15% no período; e "estabilizando" quando apresenta "quaisquer outras situações". Keny Colares, infectologista do Hospital São José (HSJ), em Fortaleza, alerta que os índices têm aumentado pela primeira vez desde maio, mas que ainda não é possível classificar como uma segunda onda.
"Os indicadores têm aumentado desde outubro, e existe toda uma questão se é ou não segunda onda. Esse aumento ainda não é exagerado, mas já sinaliza que existe uma tendência perigosa. Como vemos o que está acontecendo na Europa e no Sul e Sudeste, o primeiro sinal já tem que ser encarado com seriedade. Os locais em que os indicadores estão aumentando começam, então, a ser sinalizados. Não temos nenhum município que esteja em franca epidemia de novo, mas são sinais de que é preciso ficar de olho", frisa.
O cansaço das pessoas em relação a todo o conjunto de etiquetas necessárias para frear a pandemia é um facilitador do surgimento de novos casos, como opina o médico. "Existe uma fadiga natural sobre cuidar da saúde. Quando você está com muito medo e muita dor, faz tudo certo. Quando melhora, começa a relaxar. Por isso, é importante estarmos chamando atenção. Desde o final de maio, as notícias sempre são boas, de redução de casos até metade de outubro. Isso faz com que as pessoas relaxem", pondera Keny.
O secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, observa que a alta da positividade dos testes RT-PCR, que é um dos indicadores que aumentam o nível de alerta em Fortaleza e no interior do Estado, tem sido verificada entre a população jovem: 80% dela até 49 anos de idade. "Temos visto um acréscimo importante nos testes positivos, e é preciso entender as repercussões para o sistema de saúde e os riscos para a população. Por enquanto, isso se reflete num incremento pequeno nas internações", pontua.
O gestor assume, contudo, que o Governo já tem ampliado a capacidade da rede de assistência, diante das projeções de aumento de novos casos de Covid-19 e de internações pela doença. "Nossa primeira providência é tratar da estrutura do sistema. Em abril e maio, foram mil leitos extras. Estamos ampliando novamente, considerando as diferenças entre as regiões de Fortaleza e do Ceará. A segunda medida é reforçar o estímulo ao cumprimento das regras sanitárias. Nas últimas quatro semanas, o Governo não tem evoluído no seu plano, e essa é uma mensagem importante: com isso, ele diz que não há condições de ampliar a abertura do plano de flexibilização", finaliza.