A vacinação contra Covid-19 da aposentada Maria Neusimeire da Silva, 57 anos, estava agendada para o meio-dia desta sexta-feira (11) no Centro de Eventos do Ceará (CEC). Após mais de um ano de espera pela dose, foi com frustração que recebeu o diagnóstico positivo para a doença, compartilhando a angústia de não poder tomar a vacina com outros cearenses do público geral na mesma situação.
No caso de Maria, seu cadastro foi realizado ainda em março deste ano. Desde então, estava esperando com ansiedade a abertura para o público geral. “A gente sente muita frustração e tristeza, porque se a vacina tivesse chegado antes, talvez teria até evitado eu pegar a Covid-19 pela segunda vez”, coloca.
Até a última terça-feira (8), 64 dos 184 municípios cearenses já haviam iniciado a vacinação do público geral contra a Covid-19, representando 34,7% do total, de acordo com Vacinômetro, do Governo do Estado. O levantamento considerou a aplicação da primeira dose de imunizantes em pessoas da faixa etária de 45 a 59 anos.
A primeira vez que Maria recebeu o diagnóstico positivo para a doença foi durante a 1ª onda da pandemia, ainda no mês de março de 2020. Apesar de todas as precauções tomadas, como o respeito ao distanciamento social e a utilização da máscara, foi positivada pela segunda vez no dia 2 de junho deste ano.
Estava esperando bater com a minha idade para poder me vacinar. Agora que chegou a minha vez não pude tomar. Estou triste, porque esperei tanto tempo e agora fiquei com Covid
Para ela, a vacina representa um símbolo de segurança e, uma vez recuperada da doença, já declarou que irá buscar um centro de imunização em Fortaleza. “Eu não quero mais pegar Covid-19 e tenho esperança que vou tomar a vacina, para me proteger”, conclui.
Expectativa de rápida recuperação
Já para o fabricante de vela Antônio Carneiro Coelho, 56 anos, o desejo de ser vacinado tem sido sentido com mais intensidade nas últimas semanas, depois que apresentou os primeiros sintomas da Covid-19 entre o fim de maio e o início de junho.
Foi enquanto realizava o exame da doença no posto de saúde do bairro Monte Castelo que também efetuou seu cadastro com a ajuda de agentes de saúde. Logo descobriu que estava agendado para dia 20 deste mês.
Eu estou chateado, porque já era uma dose de esperança, infelizmente eu tive Covid e agora estou me recuperando, espero que daqui para lá possa me recuperar e tomar a vacina.
A demora em realizar o cadastro ocorreu pelas dificuldades que ele e a esposa tiveram em utilizar a plataforma. Mesmo com o acesso à internet, tiveram dúvidas que foram retiradas no posto. “Estou um pouco chateado com minha atitude de demora, mas depois que tomar minha vacina, pretendo curtir a segurança com minha mulher”, finaliza.
Luto para quem não foi possível esperar
Desde que viu as irmãs enfermeiras se vacinando contra a Covid-19, o então trabalhador industrial Francisco das Chagas, 47 anos, aguardava com ansiedade a sua vez para receber a primeira dose do imunizante. Tomava todos os cuidados, como o uso de máscara, a higienização constante e o respeito ao distanciamento social.
Na família, a urgência de se precaver contra Covid-19 se tornou ainda maior quando perderam a mãe de 79 anos para Covid-19. A dona Maria José faleceu após uma parada cardíaca na noite de 4 de maio de 2020.
Um ano e quatro dias depois da morte da mãe, em 8 de maio de 2021, Francisco também veio a óbito em decorrência da doença na espera por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), detalha a irmã e técnica de enfermagem Francineide Moraes Brandão, 41 anos. Ele morreu menos de um mês da abertura da vacinação do público geral.
Ele pediu tanto por ele por essa dose, mas infelizmente não resistiu. Você se sente impotente, não pode fazer nada. Porque não é uma coisa que a gente possa ir lá e comprar, né?
Com sua partida, Francisco deixa sua pequena filha Letícia, de apenas 8 anos, órfã da figura do pai. Em seu lugar, Francineide percebe que fica a saudade pelo que o irmão foi e o que poderia ser.
Cuidados entre a recuperação e a vacina
Em caso de resultado positivo para a Covid-19, a recomendação é aguardar quatro semanas do início dos sintomas, aponta o médico infectologista Pablo Eliack Linhares de Holanda, também atuante em unidades de saúde como o Hospital São José (HSJ) e Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).
Lembrando que é do início dos sintomas e não da alta ou da melhora clínica. Caso o paciente seja assintomático e realizou o teste por algum motivo e veio positivo conta-se quatro semanas da data da coleta do teste.
Segundo coloca, apesar dos riscos de tomar a vacina nesse período serem pequenos, é interessante respeitar o tempo de espera para que os médicos consigam distinguir os efeitos adversos da vacina com uma possível piora do quadro clínico da doença, “que é muito imprevisível”, relata.
Outro risco que também coloca é a possibilidade de diminuir a eficácia da vacina pelo fato do sistema imunológico também estar lidando com o “vírus selvagem” da doença confirmada, ao invés do vírus inativo, inserido no imunizante.