Em agosto de 2018, a Prefeitura de Fortaleza começou a tão esperada obra na Avenida Beira-Mar. Quando isso aconteceu, o debate sobre a necessidade da reestruturação já ocorria há, pelo menos, 16 anos na cidade. Hoje, quase 3 anos após ter sido iniciada, a obra está 93% concluída. Na nova Beira-Mar, parte das mudanças foram entregues durante a pandemia de Covid, período no qual a circulação da população tem sido diferenciada. E o que, de fato, mudou naquela região?
A obra é complexa e contempla cerca de 3 km que vão do Mercado dos Peixes ao Espigão da Rui Barbosa. Em agosto de 2018, a previsão era que duraria 24 meses, mas ainda segue em curso.
É o valor total da obra, segundo o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), Samuel Dias. Isso considerando os diversos contratos de cada etapa.
Entre elogios e queixas, quem circula pela Beira-Mar, um dos relevantes espaços tanto para moradores quanto para turistas, hoje percebe características diferenciadas. Algumas das mudanças, que até chegaram a ser idealizadas por antigas gestões, ganharam forma nos últimos anos. Na recente estimativa, Fortaleza conhecerá completamente a nova Beira-Mar até o fim de 2021.
O que já foi entregue?
No projeto, segundo o titular da Seinf, Samuel Dias, estava prevista “uma grande requalificação da infraestrutura, das calçadas, e da pavimentação”. Essas intervenções já podem ser conferidas, se não em sua totalidade, em caráter bem adiantado.
Do que já foi entregue, um dos principais diferenciais em relação ao cenário anterior é a engorda do aterro já existente na Praia de Iracema, e a criação de outro, no trecho entre os espigões da Av. Rui Barbosa e a Av. Desembargador Moreira, com o avanço de 80 metros rumo ao mar.
Com o aterramento realizado, houve a estruturação de uma via paisagística com calçadão e três pavilhões multiusos: para pedestres, para ciclistas, e um com quiosques de alimentação e bebidas. Essa última parte ainda está em construção.
Uma ciclovia e uma pista de cooper com 2,6 km de extensão também fazem parte dessa estrutura.
Outra mudança em relação ao cenário anterior é a criação de 350 vagas de estacionamento ao longo da avenida.
Outro diferencial é a instalação da nova iluminação, com fiação embutida, garantido melhoria estética.
Nos trechos reestruturados também houve acréscimo de espaços para a convivência e a instalação de um banheiro - dos sete que ainda deverão ser finalizados - , que no cenário anterior não havia. Além da reforma de quadras de vôlei de praia, pista de skate e anfiteatro.
O que ainda falta?
Dentre o que ainda precisa ser finalizado, estão os quiosques que irão substituir as barracas de praia, explica o secretário Samuel Dias, e acrescenta que as “antigas estruturas estavam feitas ali até de forma improvisada”.
“É uma obra que demora um pouco mais para ser feita porque na Beira-Mar não é possível que se faça um fechamento para que ela seja executada. Ela tem que ser executada com o trânsito de pessoas, com movimentação acontecendo”.
Segundo a Regional 2 a Prefeitura de Fortaleza deverá estruturar 40 quiosques comerciais padronizados. Desses, apenas três já estão edificados e têm cinco pontos comerciais em funcionamento. Os quiosques serão ocupados por quem antes atuava nas barracas.
No atual momento, os trabalhadores que atuavam nas barracas e ainda não foram instalados nos quiosques, conforme a Regional 2, “estão em contêineres provisórios destinados à finalidade”.
Outro ponto que também foi prometido na obra é a reestruturação da Feira de Artesanato da Beira-Mar. Conforme o projeto, a área em que ocorrem as vendas ganhará novo piso, iluminação e zoneamento com padronização dos boxes comerciais.
Na feira, segundo a Regional 2, neste momento, 662 permissionários estão cadastrados para atuar nos boxes.
Tanto a feira como os quiosques, segundo Samuel Dias, devem ser entregues completamente concluídos até o final de 2021. Hoje, a feira funciona em uma parte do novo calçadão, entre o espigão da Av. Desembargador Moreira e a Rua Nunes Valente.
A atividade ficou suspensa um período devido à pandemia e foi liberada no final de maio para funcionar 50% da capacidade, com turnos alternados de trabalho alternados e 331 boxes abertos por dia.
Outra intervenção prometida, mas que ainda deverá ser concluída é a estruturação de um espaço destinado às embarcações, com 18 guarderias e rampa de acesso na Enseada do Mucuripe.
No caso dos sete complexos de banheiros só há um concluído. A manutenção desse espaço, que não existia na antiga estrutura, de acordo com a Regional 2, está a cargo da empresa Imperial, vencedora da licitação.
Uma demanda histórica
Embora as promessas tenham algumas distinções em cada gestão municipal, a necessidade de revitalização da Beira-Mar começou a ganhar ênfase ainda em 2002. Desde então, foram muitas polêmicas e até disputas judiciais.
Em 2009, um Concurso Nacional de Ideias para reestruturação da Beira-Mar foi organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil no Ceará (IAB-CE) e realizado na gestão de Luizianne Lins. Na época, o projeto, assinado pelos arquitetos Fausto Nilo, Ricardo Muratori e Esdras Santos, venceu.
Durante a gestão do prefeito Roberto Cláudio, a obra começou a sair do papel, com a assinatura da ordem de serviço em julho de 2018 e início das obras em 21 de agosto.
O presidente do IAB-CE, Jefferson John, explica que o projeto executado da nova Beira-Mar é totalmente diferente no ganhador do concurso de ideias. Dentre os exemplos, ele menciona, a estrutura do Mercados dos Peixes, os desenhos dos quiosques, dos banheiros e o novo formato da Feira. “A proposta arquitetônica era diferente", reforça. Além disso, pondera que alguns pontos precisam de atenção, principalmente, a paisagem. Segundo ele, o cenário- que é o principal potencial, não está sendo preservada.
"Nós temos um grande calçadão, um espaço que fugiu dessa escala humana, e de contato visual com o mar. E temos outro ponto que é, em vários momento, criaram edificações (na Beira-Mar) que impedem de ter contato visual com a praia. Estamos perdendo porque nós enchemos a praia de edificações.".
Ele avalia que a organização do sistema viário é uma melhoria geradas pela reestruturação, e acrescenta “tem a troca da pavimentação, uma obra de drenagem feita. Esperamos que seja resolvido aquele problema antigo de drenagem. A recomposição do aterro, que é um exercício contínuo e foi importante. Isso é fundamental para a recuperação da nossa orla”.