Vice-presidente do Fortaleza fala sobre saída de Felipe Alves e reforços; leia entrevista exclusiva

Alex Santiago detalhou as operações do clube para a temporada 2022

O Fortaleza encerrou a temporada de 2021 de modo histórico: semifinalista da Copa do Brasil, no G-4 da Série A e com vaga inédita na Libertadores. Os resultados se eternizam, mas são passageiros, e a gestão compreendeu a necessidade de manter a ambição esportiva no futuro (e no presente). Para 2022, o clube fez o maior investimento em elenco do futebol cearense.

Com foco no crescimento do nível técnico, cerca de R$ 20 milhões foram destinados para a aquisição de direitos econômicos de jogadores. Além de uma ampla reformulação do plantel, com reforços de peso e diversas saídas da equipe principal. Assim, o plantel leonino se transformou mais uma vez.

No papel ativo da mudança, o diretor de futebol e vice-presidente Alex Santiago. Parte da chapa do presidente Marcelo Paz, eleita para um novo triênio até 2024, o gestor conversou com o Diário do Nordeste sobre o momento leonino e a possibilidade da chegada de mais contratações.

Entrevista com Alex Santiago

 

DN: O que motivou a grande reformulação do elenco do Fortaleza para 2022?

"Na reformulação de 2020 para 2021, muitos titulares mudaram. Já entre 2021 e 2022, tem uma estrutura de time preservado, inclusive Éderson e David começaram conosco, mas saíram por outras situações de mercado. O que a gente fez foi buscar situações de mercado para rejuvenescer o elenco e ampliar as opções táticas do Vojvoda. Mais opções de zagueiro, atacantes com características diferentes, então são ajustes para dar opções ao repertório técnico, variações de sistema, com linha de três ou quatro, dois noves de referência, um trio de ataque, alternância no meio-campo para ter cinco atletas, por exemplo, então entregamos qualidade para promover isso”.

DN: O movimento teve diversas saídas do elenco, com ciclos encerrados, como Wellington Paulista, e outros mantidos, como Boeck. Como entender que um ciclo deve ser concluído?

"Analisamos muito o papel técnico para 2022 e a oportunidade de mercado. Optamos por um perfil diferente de atleta, essas saídas de fim de contrato não tiveram relação com problemas com jogadores. É uma renovação de ciclo, em que esses atletas foram ao mercado e já se reposicionaram. O clube analisou muito o critério para o uso dos jogadores para a temporada”.

DN: No âmbito das saídas, o Fortaleza também liberou muitos atletas por empréstimo, como o goleiro Felipe Alves para o Juventude. O que motivou essa transferência?

"É uma situação encaminhada desde o ano passado. Perdeu espaço por questão técnica, houve um desgaste entre o Felipe e a comissão técnica. Isso foi discutido internamente com a diretoria e optou-se por afastar o atleta por uma situação de mercado, para ele seguir o caminho dele em outro clube, mas permanecendo como ativo do Fortaleza, tem contrato até 2023. Tratamos todos os atletas dentro da mesma ideia de respeito. É importante que o torcedor entenda que nenhum atleta está na frente da instituição e, no caso do Felipe Alves, tinha uma situação de convívio insustentável”.

Atletas emprestados pelo Fortaleza em 2022:

  • GOL - Felipe Alves (33) | emprestado ao Juventude.
  • GOL - Kennedy (22) | emprestado ao Sergipe-SE.
  • ZAG - João Paulo (24) | emprestado ao Náutico.
  • ZAG - Quintero (26) | emprestado ao Vasco da Gama.
  • LAE - Pedro Vitor (23) | emprestado ao Náutico.
  • LAE - Bruno Melo (29) | emprestado ao Corinthians.
  • LAE - Miguel (20) | emprestado ao Boa Vista-RJ.
  • LAE - Nathan (23) | emprestado ao Athletic-MG.
  • VOL - Pablo (24) | emprestado ao Vitória-BA.
  • MEI - Ryan Guilherme (19) | emprestado ao Boa Vista-RJ.
  • MEI - Luiz Henrique (22) | emprestado ao Vasco da Gama.
  • ATA - Gustavo Coutinho (23) | emprestado ao Botafogo-PB.
  • ATA - Thiaguinho (22) | emprestado ao RB Bragantino.

 

DN: A janela atual também resultou na maior venda direta da história do futebol cearense, com a saída do David ao Internacional por R$ 10,8 milhões. Como foi essa operação?

“É preciso ser reconhecido: o Marcelo Paz fez tudo que podia para mantê-lo aqui, inclusive igualando as situações salariais, mas era a vontade do atleta de ir. Ele deixou claro que queria ir, então a gente buscou receber a melhor condição possível para o Fortaleza na venda. Conseguimos um valor satisfatório, que corresponde ao percentual de ativo que temos, além de um percentual futuro. A gente torce bastante e desejamos toda a sorte ao atleta, e já tivemos reposições. O clube não poupou esforços para usar o valor no reforço do elenco, com nomes como Silvio Romero, artilheiro na Argentina, Renato Kayzer, principal goleador do Athletico-PR, e Moisés, destaque da Série B”.

DN: As chegadas citadas fizeram parte de cerca de R$ 20 milhões investidos em jogadores para 2022. O que permitiu esse investimento e como foram negociações com esses atletas?

"Eu diria que essas contratações foram possíveis por dois fatores: a definição estratégica dos alvos, todos estudados ainda durante 2021, não apenas no fim da temporada, como o monitorando do Moisés durante toda a Série B. E o segundo ponto é o sigilo, o silêncio. No caso do Silvio Romero, por exemplo, a única diferença da nossa operação com os outros clubes, é que uma negociação veio a público e a outra não, além da soma desses pilares com o calendário de jogos, a comissão técnica e a seriedade da gestão, um ponto fundamental. Isso permitiu a chegada de nomes como o Kayzer também, que tinha mercado, mas acreditou no projeto do Fortaleza, em contrato longo, de disputa internacional, e foi a maior compra do futebol cearense porque acreditamos nele, no retorno técnico”.

DN: O movimento do mercado também tornou evidente o olhar do Fortaleza para o âmbito internacional, de desbravar novos cenários. Qual a importância disso para o clube?

“Nós vivemos um processo de internacionalização, não é algo que ocorre em um ano, é preciso de estrutura para receber esses profissionais, mas ampliamos o olhar, ao invés de uma única porta, inclusive para treinador, temos agora quatro, cinco ou seis. Isso tem muito a ver com essa internacionalização. Tivemos resultados esportivos e nos tornamos matérias nas mídias argentina, chilena e uruguaia. Hoje, nos tornamos o primeiro clube cearense classificado para a Libertadores com um técnico argentino e um gol de um atacante argentino na classificação. Conseguimos nomes como Landázuri, campeão da Sul-Americana, e Ceballos, que estava em scouts de gigantes europeus, e o foco é tornar isso cada vez mais comum. No dia a dia do Pici, hoje, temos 10 estrangeiros: cinco na comissão técnica, dois atletas argentinos, um equatoriano e um colombiano. O Fortaleza se tornou um clube mais cidadão da América do Sul”.

DN: O clube ainda busca contratações no mercado? Há alguma prioridade no time atual?

“O clube está atento ao mercado e temos no planejamento a necessidade de reforçar o meio-campo, principalmente na posição de volante. É uma reposição inicial para o Éderson, mas vamos trazer entre um e dois jogadores para o setor, uma função que envolve muito desgaste físico e tem importância para o Vojvoda. Estamos buscando com calma, mas vamos reforçar com qualidade. É importante dizer que não existe cadeira cativa no Fortaleza, todos devem brigar por espaço. E além do plano inicial, situações podem ocorrer no mercado e viabilizar a chegada de outros nomes”.

DN: Recentemente, o Santos teve uma oferta recusada pelo Fortaleza para o volante Ronald. O clube recebeu outras propostas nesta janela de transferência?

“Alguns atletas foram procurados sim, como Ronald, mas o momento do mercado hoje é outro. Cada operação dessas precisa ser muito vantajosa para o clube, precisa ter rentabilidade porque temos um presidente que prioriza bastante o aspecto desportivo. O torcedor não comemora balanço financeiro, comemora é o balanço da rede. Então o Fortaleza não vai ceder jogadores de qualquer modo. Algumas situações chegaram e não foram interessantes, descartamos. O futebol brasileiro mudou e muita gente não percebe isso, ainda possuem uma visão preconceituosa do Nordeste, enquanto temos projetos de gestão consolidados como Fortaleza e Ceará”.

DN: O Vojvoda e a comissão técnica estão satisfeitos com o elenco atual do Fortaleza?

“O Vojvoda está muito satisfeito com a montagem do elenco. Esse ano ele participou desde o início da escolha dos jogadores e acompanhou o nosso esforço para qualificar as peças dele, reconhece isso. Temos um elenco com maior variação tática e acreditamos no nosso treinador para conseguir um caminho positivo ao longo do ano, com cinco competições pela frente”.

DN: Por fim, qual a expectativa para o futebol do Fortaleza na temporada de 2022?

“O Fortaleza terá na temporada de 2022, um momento de continuar consolidando um projeto de evolução do clube a nível nacional e internacional, firmado em muita responsabilidade financeira, com muita calma, mas sem deixar de lado a ambição de fazer o melhor no âmbito desportivo. Temos que preservar esse momento histórico”.