Com 117,1 milhões de pessoas vacinadas, o equivalente a 35% da população, os Estados Unidos se preparam para abolir a obrigação do uso de máscaras para imunizados contra Covid-19 e relaxar o isolamento social. A recomendação de diminuir as medidas de proteção contra o vírus foi anunciada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) na quinta-feira (13). Morando nos EUA, cearenses vacinados contam como está sendo a volta à vida normal, mesmo que ainda com cautela.
“Quando eu tomei a vacina completamente eu me senti mais perto disso tudo acabar. Acredito que todo mundo espera que isso tudo acabe e a gente volte a viver normalmente, possa ver as pessoas que a gente ama, as pessoas que nós convivíamos normalmente”, diz Beatriz Benício, de 23 anos, professora de Química.
A jovem mora com o marido, Hemerson Benício, de 24 anos, há dois anos no estado de Michigan. O casal já foi completamente vacinado há dois meses e agora retomam atividades que antes não eram possíveis devido à possibilidade de contágio do coronavírus. Ir aos parques da Disney e tirar fotos sem máscara, por exemplo, foi um dos momentos recentes da vida pós-vacina dos dois.
Apesar de alguns espaços ainda pedirem o uso da máscara, como supermercados e lojas, Hemerson vê a medida como consequência de um progresso. “Esse regulamento já é um resultado da vacinação em massa que tá acontecendo. Inclusive, nós não temos ouvido casos de pessoas com Covid, pelo menos próximas a nós, já faz alguns meses”, relata o também professor.
Mesmo com a segurança da imunização individual, o casal ainda pretende manter o distanciamento e a máscara em ambientes fechados e com muitas pessoas desconhecidas. Para a cearense Ana Catarina Smith, de 23 anos, que ainda vai tomar a segunda dose no fim de maio, a sensação é a mesma. Sem certeza de como será a fiscalização de pessoas vacinadas nos ambientes comuns no estado de Indiana, onde mora, ela prefere continuar usando a máscara.
“Se você disser ‘ah tô vacinado’ eles tem que acreditar, entendeu? Então é meio que uma coisa de ética sua, não usar a máscara por ser vacinado”, diz Catarina. “Eu pessoalmente vou esperar um pouco, vou continuar usando a máscara quando tiver saindo de casa para minha própria proteção e proteção da minha bebê e da minha família”.
Planos retomados
Com a chegada do verão do hemisfério norte, viajar, fazer exercícios ao ar livre, levar filhos ao parque e encontrar amigos são alguns dos planos que estão sendo retomados pelos cearenses imunizados. Luciana Sales Montezuma, de 37 anos, já planeja atividades com a família após o comunicado do CDC.
“Poder ver amigos, se reunir, fazer um churrasco no final de semana. É outra vida, dá emoção!”, vibra. A cearense mora nos EUA há 13 anos com o marido, natural da Alemanha. Eles pretendem também viajar para ver a família dele no seu país de origem durante o verão.
A estudante Mara Raquel Torres, que mora nos EUA há dois anos e aguarda ansiosamente pela segunda dose da vacina, também está animada para continuar os planos no país. “Voltar ao normal acho um pouco complicado porque acho que a gente não volta mais ao que era antes. Mas viajar, poder ver as pessoas voltando a trabalhar, a economia voltando a girar, é o que eu mais quero. E poder voltar a estudar pessoalmente e ver meus amigos, é uma das coisas que eu mais sinto falta”.
Solidariedade e preocupação com o Brasil
Vacinada desde o dia 29 de março, a cearense Danielle de Paula Gouveia Benevides, de 45 anos, ficou contente por ter acesso ao imunizante, porém lembra dos parentes brasileiros que não tiveram a mesma oportunidade. “Esse foi um dia inesquecível pra mim, embora eu tenha sido um misto de emoções muito grande. Uma alegria imensa por me sentir protegida, mas também uma tristeza em saber que meu país ainda estava distante de vacinar a população com a mesma idade que é a minha”.
Quando ela estava se vacinando nos EUA, a mãe de 80 anos era o único membro da família de Danielle que tinha recebido pelo menos a primeira dose do imunizante contra Covid-19.
“Eu lamento muito que nesse momento no nosso país, o Brasil, que tem o SUS, que ele não tenha dado um show nesse modelo de vacinação. Nós temos históricos de anos de campanhas de vacinação com grande êxito”
Luciana, que perdeu um primo para a Covid-19, também lamenta o passo lento da vacinação no Brasil. Assim como Danielle, ela tinha planos de voltar para o país para visitar familiares, mas não conseguirá fazer a viagem. Isso ocorre porque pessoas que estiveram no Brasil são proibidas de entrar diretamente em solo estadunidense, precisando passar um período de 14 dias em outro país para ter a entrada liberada.
“Eu fico muito triste de ver tudo isso. Gente querendo viver, gente querendo pegar a vacina e não tem acesso. A gente [nos EUA] está num ponto em que a vacina é uma opção. Quem não toma é porque não quer. E no Brasil é completamente o contrário. Então é muito triste”, diz Luciana.
“Eu me solidarizo muito com o país, que é o meu e que eu amo. E eu gostaria muito que pudesse estar vivendo, nesse momento agora, esse clima de sobrevivência que a gente consegue já perceber aqui, e não o clima de luto que o Brasil vive”, afirma Danielle.