Paciente vai para última quimioterapia com carro decorado e celebração em Fortaleza: ‘etapa vencida'

Festa beneficente também deve ser realizada para ajudar pacientes com câncer de mama

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Nivia
Legenda: Nivia agora passa para outra etapa no tratamento contra o câncer de mama
Foto: Acervo pessoal

No corpo machucado e na mente abalada, pelo câncer de mama, a dor sufoca por dentro. Já a felicidade-alívio de vencer um ciclo do tratamento ecoa alto nas buzinas, como convida Nivia Rocha, de 45 anos, num carro decorado para a última sessão de quimioterapia mobilizando o trânsito de Fortaleza, nesta quinta-feira (23).

“Minha última quimio. Buzine pra mim. Comemore comigo”, estampava o veículo durante o trajeto marcado por barulho, palavras de apoio e de felicidade, até o hospital onde a família distribuiu chocolates para a equipe médica. Uma festa beneficente também será organizada.

“Tudo partiu dos meus filhos, eu estava naquela alegria e na ansiedade para a última quimio. Inclusive, seria na semana passada, mas eu gripei e consegui me recuperar nessa semana”, detalha Nivia.

Aquela comemoração foi na hora que eu estava indo com muita alegria, eu queria mostrar para as pessoas que mesmo com tanta dor é possível sorrir e passar esperança. Recebi mensagens lindas
Nivia Rocha
Autônoma

Braços erguidos de quem comemora um feito. Mãos juntas de quem agradece por um pedido realizado. Comemorar vem como uma tomada de fôlego para transmitir a mensagem da alegria mesmo na dor, como observa a paciente.

“Uma etapa vencida, porque acho que ainda vou passar por cirurgias. Consegui terminar os ciclos das quimios, mas ainda tem radioterapia e a cada 21 dias tomar medicação numa clínica”, completa.

Ela, que ajudou a sogra durante o tratamento contra o câncer antes de receber o próprio diagnóstico, leva a mensagem da prevenção e do suporte às pacientes.

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“Uma pessoa me procurou para fazer uma festa, que eu quero que seja beneficente para ajudar pessoas. Conheci muitas mulheres que precisam de apoio, porque moram no interior e chegam aqui, com a máquina quebrada, precisam de uma casa”, observa.

Essa vontade de ajudar, mesmo num período de fragilidade, abraça agora uma pessoa querida que ligou para Nivia momentos antes da entrevista para essa reportagem. Combo de sentimentos que embarga a voz.

“Eu acabei de receber uma mensagem de uma amiga, que viu tudo ontem e acabou de receber o diagnóstico também. Falei que vou estar ao lado dela, que é possível, porque esse momento é uma das partes mais dolorosas”, diz ao lembrar da própria história.

O baque do diagnóstico

Logo que a sogra de Nivia encerrou o tratamento contra o câncer, período em que ela acompanhou de perto, começaram a surgir os indícios no corpo, ainda que “você nunca pense que vai acontecer”, como reflete.

“Foi quando eu comecei a sentir umas dores estranhas, mas eu tentei não aceitar (que poderia ser câncer), mas começou a se intensificar. Em 2019, tinha dado um nódulo benigno, mas veio a pandemia e eu meio que deixei de lado”.

Os exames apontaram um carcinoma invasivo com impactos nas mamas e axila. Foi necessária então a mastectomia e um isolamento ainda mais rígido por causa da baixa na imunidade anterior ao câncer devido à cirurgia bariátrica.

Diagnóstico
Legenda: Diagnóstico da doença foi um dos momentos mais difíceis
Foto: Acervo pessoal

“Minhas taxas de vitamina e imunidade sempre foram baixas, então me pegou de uma forma muito pesada”, lembra. Uma gripe se tornou séria, o cabelo começou a cair, uma fraqueza se alastrou pelo corpo onde também foram descobertos miomas.

O tratamento também abre portas para infecções graves, como a causada por uma bactéria que atingiu o tornozelo direito da paciente.

“Tive que me internar, meu pé ficou deformado, estava no auge do uso de morfina, mas não passava mais a dor. Eu achava que ia perder o meu pé”

Contato
Legenda: Contato com família e amigos é uma das experiências mais importantes no cotidiano de Nivia
Foto: Acervo pessoal

Agora ela deve dar prosseguimento à busca pela saúde, sempre mantendo a positividade. “Se pesquisar no Google, a gente pensa que vai morrer em 3 dias”, brinca. Mas enfatiza a importância do diagnóstico precoce para evitar o que ela experiencia. 

“A minha mensagem é a prevenção, porque se eu tivesse buscado atendimento, provavelmente, não teria passado por tanta dor. Tudo é aprendizado: o caminho é a prevenção”, reforça.

Refúgio na natureza e na arte

A necessidade de ficar longe das pessoas machucou ainda mais Nívia, que faz acompanhamento com psicóloga porque o último ano “minou as forças”, como define.

“Eu gosto muito de estar com pessoas, de conversar, abraçar, brincar e compartilhar. A pandemia pôs fim nisso e veio meu diagnóstico. Uma gripe para mim já era como a Covid, muito pesada”, frisa.

Eu tenho um longo caminho a seguir, vou começar as radioterapias, são cerca de 26 a 28 sessões, mas não são tão invasivas quanto a quimio. Não tem nada para me prender dentro de casa, longe das pessoas e que me tire alegria
Nivia Rocha
Autônoma

Quando não podia estar cercada de pessoas, o verde farto do sítio e a pintura - atividade descoberta durante momentos de dor para retratar as plantinhas que tanto gosta - foram válvulas de escape.

sítio
Legenda: Paz do sítio ajudou durante momentos tensos do tratamento
Foto: Acervo pessoal

“Meu refúgio era na minha mãe, no sítio onde tem muita planta. Quando eu tinha reações, ela entendia e fazia chás. Também (encontrei forças) na minha família, nos meus filhos, nas minhas amigas que mandaram muito apoio”, completa.

Pintura
Legenda: Pintura também tem papel terapêutico em momentos de dor para a paciente
Foto: Acervo pessoal

A fé também foi decisiva no período, porque “Deus é minha força, meu tudo, minha base e de forma muito concreta, quando eu pedia, ele me dava respostas. Ele escuta a gente”, testemunha.

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