Só 33 cidades do Ceará atingiram 70% de dose de reforço e poderiam tirar máscaras em áreas fechadas

O avanço do reforço é cogitado pelo Governo do Estado como critério para aumentar a flexibilização do uso de máscaras. Mas, a aplicação ainda não é alta.

O Governo do Ceará avalia que a flexibilização do uso de máscaras em locais fechados só ocorrerá quando o Estado, de modo geral, atingir entre 70% a 80% da população vacinada com a dose de reforço contra a Covid-19. No atual cenário, dos 184 municípios, apenas 33 já alcançaram a marca de 70%. Portanto, se critério for adotado e aplicado por cidade, a cada 50 municípios cearenses, no atual cenário, somente 9 estariam aptos à ampliação da flexibilização do uso da máscara. 

A análise do Diário do Nordeste tem como base os dados do Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) até o dia 31 de março. No Estado como um todo, dos 6,8 milhões de moradores do Ceará acima de 18 anos, 3,6 milhões receberam a dose de reforço. Uma proporção de 53,94% da população.

No caso da dose de reforço, as únicas pessoas menores de 18 anos autorizadas a tomarem até o momento são as excessões como: adolescentes de 12 a 17 anos imunocomprometidos, gestantes e puérperas imunocomprometidas de 12 a 17 anos e grávidas e puérperas de 12 a 17 anos.

Caso o índice de referência para a desobrigação do uso da máscara em áreas fechadas seja de 80% da população vacinada com a dose de reforço, o número de cidades aptas é ainda menor. Só 15 municípios já atingiram essa meta.

Confira lista das cidades com 70% ou mais de pessoas vacinadas com a dose de reforço:

  1. Iguatu: 133%
  2. Guaramiranga: 107%
  3. Choró: 101%
  4. Cedro: 88%
  5. Baturité: 87%
  6. Varjota:  86%
  7. Senador Pompeu: 86%
  8. Reriutaba: 87%
  9. Itaiçaba: 86%
  10. Brejo Santo: 86%
  11. Ararendá: 84%
  12. Deputado Irapuan Pinheiro: 84%
  13. Jaguaribe: 83%
  14. Porteiras: 80%
  15. Pires Ferreira: 80%
  16. Quixelô: 79%
  17. Ipaporanga: 79%
  18. Aratuba: 78%
  19. Milhã: 77%
  20. Paramoti: 76%
  21. Icapuí: 76%
  22. Guaiúba: 75%
  23. Catunda: 75%
  24. Baixio: 75%
  25. Monsenhor Tabosa: 75%
  26. Pacujá: 75%
  27. Moraújo: 73%
  28. Ibiapina: 72%
  29. Piquet Carneiro: 71%
  30. Independência: 71%
  31. Lavras da Mangabeira: 71%
  32. Alcântaras: 71%
  33. Itaitinga: 70%

Em Iguatu, Guaramiranga e Choró, a população que já tomou a dose de reforço supera os 100% dos residentes com mais de 18 anos estimados no município.

Esse excesso ocorre pois, como não houve censo demográfico em 2020, os dados de referência sobre a quantidade de habitantes de cada município é uma projeção do IBGE. Na realidade, pode ser maior ou menor. 

No Ceará, o uso de máscara não é mais obrigatório em locais abertos desde o dia 21 de março. Com essa decisão, a população pode deixar de usar a proteção em vias públicas, parques, ambientes escolares ao ar livre, shows e eventos.

No Brasil, diversas cidades já aboliram o uso da máscara em locais abertos, e ao menos oito capitais flexibilizaram a obrigatoriedade também em ambientes fechados. São elas: Natal, Palmas, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Maceió, Florianópolis e Brasília.

Nessas cidades, as exceções para o uso em locais fechados são os serviços de saúde, o transporte público (ônibus e metrô) e também em dos locais de embarque e desembarque.

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Critério da vacinação é o mais adequado?

O médico infectologista e consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), Keny Colares, explica que a argumentação para a desobrigação do uso das máscaras tem tido diferentes critérios em distintos estados e países. “Não é um padrão”, reforça. 

Na avaliação do infectologista, "essa argumentação, feita com base na população vacinada, é um pouco inadequada porque as vacinas reduzem as chances da pessoa ter doença grave. Mas, a partir do momento que a proteção é parcial e também é transitória, fica difícil a gente trabalhar com esses números”

De acordo com ele, a avaliação sobre o número de casos, óbitos, procura por leitos que, afirma o médico, “mostram a consequência real da doença”, são mais relevantes para cogitar a flexibilização.

Segundo Keny, no Ceará, apesar da onda de alta de casos - em janeiro - “estamos em um situação que estamos próximo de alcançar níveis de casos e óbitos próximos de novembro quando houve uma certa estabilidade”.

A médica infectologista do Hospital São José, Melissa Medeiros, reitera que há registros de uma redução global do número de casos e Covid e completa que o Centro de Controle de Doenças, (Center of Deseases Control and Prevention), órgão do governo americano, estabeleceu que a taxa de infecção por Covid é considerada alta quando há mais de 100 infecções por 100 mil a cada semana.

“Quando há menos que isso, e talvez, 50 casos a cada 100 mil por semana tem infecção muito baixa. E poderia considerar essa retirada da máscara".
Melissa Medeiros
Médica infectologista do Hospital São José

Ela destaca que a Covid não irá “desaparecer e, existem alguns locais onde temos um foco maior e um risco maior de exposição. A priori, mesmo em ambientes fechados com a taxa elevada de vacinação, isso daria segurança. Mas a gente precisa ter um pouco de cuidado”

Meios de transporte, por serem locais onde há contato com muitas pessoas e ambientes muito aglomerados, pondera ela, podem facilitar transmissão de doenças, não só de Covid, mas outras infecções respiratórias, inclusive a influenza. Por isso, mesmo quando há flexibilização e retirada da máscara, nesses locais é necessário manter o uso.

"E se você está doente é importante que utilize máscara para que a gente consiga realmente barrar essa transmissão da Covid”, reforça.

Reforço vacinal precisa avançar

O médico infectologista Keny Colares, também esclarece que o Brasil tem uma cobertura vacinal boa, mas não excelente, sobretudo, quando se avalia o reforço.

“Esse clima que a pandemia acabou, faz com que as pessoas não vacinem com o reforço. Nesse sentido, precisamos continuar avançando no processo de vacinação, sempre partindo da ideia de não ficar contando com a possibilidade que o problema esteja resolvido”.
Keny Colares
Médico infectologista

Ele acrescenta que se o vírus ainda circula “de uma forma importante nos países da Ásia e da Europa”, e o Ceará tem uma circulação nacional e internacional de turistas muito grande, “se não estivermos protegidos, o problema vai crescer novamente entre nós”, alerta.

Quanto mais for possível manter o uso de máscaras em ambientes fechados, analisa ele, “seria um pouco mais seguro”.

Grupos que devem manter a máscara

Ainda que haja a flexibilização do uso da máscara, a médica infectologista do Hospital São José, Melissa Medeiros, pondera que há pessoas que pertencem a grupos de risco e o ideal é que elas mantenham o equipamento de proteção em ambientes fechados, mesmo vacinadas. 

Esses grupos, lista ela, são:

  • Idosos;
  • Gestantes;
  • Pessoas imunocomprometidas

“Os mais jovens mostram uma resposta imunológica excelente independentemente da vacina utilizada. Isso quer dizer que eles têm uma imunidade muito boa. Por isso que a priori não se pensa em dose de reforço. Diferentemente da resposta que a gente percebe em idosos, pessoas transplantadas, têm uma resposta bem inferior”, explica a médica.

De acordo com ela, a decisão sobre retirar a obrigatoriedade das máscaras, assim como outras na pandemia depende muito do cenário epidemiológico, e não é definitiva. “Estamos progredindo. Uma decisão que é tomada hoje pode ser revogada daqui a um mês, dois meses, dependendo da situação”.

No atual momento, completa ela, “tem países com essa abertura, flexibilidade. É possível sim abdicar da máscara. Mas é preciso estar alerta a vários cuidados como higienização e se tiver doente não pode conviver com outras pessoas”