Após quase 11 anos à frente da Diocese de Petrópolis, no Rio de Janeiro, o monge beneditino Dom Gregório Ben Lâmed Paixão tomará posse no cargo de arcebispo de Fortaleza no dia 15 de dezembro, em cerimônia na Catedral Metropolitana. Sergipano de 58 anos, ele possui longa formação intelectual, inclusive com título de doutor, e já exerceu a função de exorcista durante passagem pela Bahia.
Dom Gregório foi anunciado como novo arcebispo de Fortaleza na última quarta-feira (11), quando o então líder da igreja em Fortaleza, Dom José Antonio Aparecido Tosi, se despediu do cargo, após uma coletiva concedida naquele dia. Padre Gregório ainda não está na Capital, pois faltam dois meses até a cerimônia oficial.
Dom Gregório, aos 19 anos, em 1983, ingressou no Mosteiro de São Bento da Bahia, onde exerceu quase todos os ofícios monásticos: bibliotecário, mestre de coro, organista, mestre de noviços, ecônomo, arquivista e prior (superior), dentre outros.
Durante o período de formação, cursou piano e órgão de tubos no Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador, e artes plásticas no ateliê do pintor Waldo Robatto.
Em 1987, dando sequência à formação, foi enviado para o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, onde cursou Filosofia e Teologia na Escola Teológica da Congregação Beneditina do Brasil, obtendo o grau de bacharel em Teologia.
Dom Gregório foi diretor do Colégio São Bento e da Faculdade São Bento, ambos na Bahia. Foi professor de Língua Grega, Antropologia Cultural e Homilética (a “arte” de pregar).
Realizou estudos de pós-graduação na Holanda, sendo o mestrado em Antropologia na Universidade Aberta de Amsterdã, da qual foi professor convidado de 1998 a 2006, e o doutorado em Antropologia Cultural, pela Open Universiteit van Amsterdam. Publicou quase 20 livros no Brasil, além de ter lançamentos na Itália, Alemanha e Estados Unidos.
Em 2006, foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, permanecendo até 2012. Ainda naquele ano, o Papa Bento XVI o nomeou bispo da Diocese de Petrópolis, onde realizará a missa de despedida no dia 2 de dezembro.
Em 2023, foi eleito presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Gregório Paixão foi padre exorcista
Durante sua passagem por Salvador, Dom Gregório foi nomeado para atuar em possíveis casos de exorcismo. De acordo com a Secretaria de Língua Portuguesa da Associação Internacional dos Exorcistas (AIE), ele serviu durante seis anos.
Além disso, ao ser transferido para Petrópolis, nomeou mais dois exorcistas, pois esse ministério depende da licença expressa de um bispo diocesano - e é confiado somente a sacerdotes dotados de “piedade, ciência, prudência e integridade de vida”, conforme o cânon 1172 do Código de Direito Canônico.
O padre e teólogo Lauro Freire Alves Filho, atualmente em Teresina e membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém (IRNJ), disse, em entrevista ao Diário do Nordeste, que “o catecismo nos ensina, em sua doutrina, que é possível sim a possessão diabólica, ou algumas manifestações sobrenaturais”. Ele já atuou na Arquidiocese de Fortaleza há alguns anos realizando a oração pela libertação do mal - um “exorcismo informal”, sempre sob orientação do arcebispo de Fortaleza.
Para o religioso, após a década de 1960, houve um movimento de descrédito do exorcismo por três alas: uma de “cientificistas” que não creem em intervenções sobrenaturais, outra dos que “veem o demônio em todo canto” e mais uma dos que “têm receio em lidar com algo desconhecido”. “Isso atrapalha bastante”, lamenta. Só no fim dos anos 1990, o ministério voltou a crescer, mas ainda a passos lentos.
Padre Lauro Freire reforça que um exorcismo “é uma questão estritamente de fé, mas que não exclui o apoio das ciências”. Para lidar melhor com os casos que chegavam a ele, pediu licença para fazer um curso de atenção psicossocial em psicologia e psiquiatria e também conta com a consultoria de profissionais dessas áreas. Porém, a palavra final é sempre do ministro de libertação.
Ele deve ter bom senso, ser uma pessoa equilibrada e que viva uma vida de oração. Em termos práticos, há pessoas más, mas quando é o demônio que se manifesta, existe uma maldade presente que nenhum ser humano é capaz de imitar. Essa é uma percepção de fé, e o exorcista deve ter essa capacidade de discernimento.
Segundo o sacerdote, não há fórmula mágica ou amuleto contra a influência do mal; a resposta está numa vida “de oração, de conversão, de busca sincera de Deus”. “Quando não queremos nos converter e viver à revelia da vontade de Deus, estamos abrindo a alma a alguém que não é Deus e quer ser Deus. Mas o demônio não pode tocar quem está em Deus de fato”, finaliza.
Atualmente, conforme a AIE, não há exorcistas nomeados no Ceará. Em todo o Brasil, são cerca de 40. Na falta de sacerdotes específicos, casos suspeitos são encaminhados ao Bispo diocesano que é, segundo as normas do Direito Canônico, o exorcista da Diocese.
Mensagem aos fiéis
Em mensagem gravada para os fiéis de Fortaleza, Dom Gregório Paixão prometeu ser um arcebispo “presente e amável“, comprometido especialmente “com os mais necessitados, os que perderam a esperança e todos os que foram postos à margem da sociedade”.
O arcebispo também cumprimentou autoridades civis, religiosas e militares. “Tenho certeza que somaremos esforços na construção de uma sociedade justa, fraterna e segura”, disse. “Não sou expert em muitas coisas, mas sou animado”, promete.
Nas redes sociais, Dom Gregório já se manifestou a favor da doação de órgãos e contra o aborto. Em 2022, foi voz ativa na luta pelo atendimento às vítimas de tragédias naturais após chuvas intensas na região de Petrópolis.
A Arquidiocese de Fortaleza informou que o novo arcebispo dará entrevista à imprensa apenas quando estiver em Fortaleza.