Com 60% dos cearenses com a 3ª dose contra a Covid, saiba qual a estratégia de imunização atual

Passaporte vacinal deve ser readequado caso mude a orientação quanto ao número de doses por faixa etária; veja outros pontos

Sair de casa sem máscara e sem medo das consequências graves da Covid é um movimento que acontece com a ampla cobertura vacinal no Ceará - são 93,08% cearenses com a D1, 84,51% com a D2 e 59,6% com a D3. Mesmo com cenário de baixa transmissão, a dose de reforço ganha relevância para manter os bons índices.

Isso pode ser alcançado com a cobrança do passaporte vacinal conforme faixa etária, a distribuição das doses e o acompanhamentos dos municípios com dificuldade na logística de aplicação.

A inclusão do imunizante contra a Covid no Programa Nacional de Imunização (PNI) também deve fortalecer a cobertura. No Estado, campanhas de vacinação e diálogo com a sociedade são caminhos para garantir a proteção dos cearenses.

Esse incentivo já acontece com a exigência do comprovante de vacinação. Medida que deve ser expandida, conforme as mudanças nas aplicações, como avalia Kelvia Borges, coordenadora da Célula de Imunização da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

“Nós pretendemos incentivar os municípios com o passaporte vacinal para outras faixas etárias. A gente entende que a vacinação dos adolescentes, quando for instituída a dose de reforço, será considerada no passaporte”, aponta.

A gente entende que o cearense abraçou a vacinação, que as equipes fizeram um belíssimo trabalho nos municípios, e que a gente tende a finalizar a imunização das crianças e continuar com as doses de reforço para o restante da população
Kelvia Borges
Coordenadora da Célula de Imunização da Sesa

O balanço da imunização até aqui, quanto a D1 e D2, é satisfatório para a coordenadora. “Os municípios são aqueles que executam - em paralelo a todas as questões de saúde - eles têm a problemática da pandemia e o desafio da maior campanha de vacinação das últimas décadas”, analisa sobre o cenário.

Assim, o reforço vacinal deve ser prioridade. Em entrevista ao Diário do Nordeste, a epidemiologista e professora na Universidade Federal do Ceará, Lígia Kerr, frisou essa relevância.

“Ainda não temos condições de dizer o que vai acontecer a partir de agora, mas estamos com muita gente sem a dose de reforço. Sem ela, a variante BA.2 vai passar e pegar essas pessoas”, alertou.

Em paralelo, ocorre a segunda dose de reforço - ou quarta dose - para idosos com mais de 80 anos e pacientes imunossuprimidos

Distribuição e acompanhamento

Há um ano as doses de proteção contra a Covid chegam às cidades cearenses com apoio de caminhões, aviões e helicópteros. Logo que o repasse do Ministério da Saúde chega ao Ceará, começa essa logística de distribuição feita pela Sesa.

“Existe um período para que as doses cheguem até os municípios. No Estado, a gente faz tudo para que esse período seja o menor possível, mas o município também precisa buscar na regional, distribuir nas equipes e aplicar”, detalha.

Com um bom índice de aplicação das duas primeiras doses iniciais, o desafio atual se relaciona com o maior alcance da população com o esquema completo.

É um processo tranquilo, a gente sabe que tem pessoas que precisam tomar a dose de reforço e a gente tem o passaporte vacinal como aliado, estimulando as pessoas a buscar a dose de reforço. Com o passar do tempo, a gente vai conseguir essa meta
Kelvia Borges
Coordenadora da Célula de Imunização da Sesa

Ainda assim, algumas cidades apresentam dificuldades para conseguir uma velocidade favorável à aplicação das vacinas. No início deste mês, apenas 33 cidades do Ceará atingiram 70% de dose de reforço.

“Quando a Secretaria detecta que, por muitas semanas, algumas regiões de saúde tem municípios com essa dificuldade, a gente entra em contato e faz visita presencial para saber o que está acontecendo”, explica Kelvia.

Dessa forma é feita uma orientação para adequar à rede de saúde. E essa dinâmica varia muito conforme o avanço da campanha de imunização, como observa a coordenadora.

“Tem municípios que não enfrentam dificuldades, porque talvez tenham um sistema de saúde mais organizado, uma saúde da família mais fortalecida. Mas tem diversos municípios, principalmente, os pequenos que até a própria gestão não está bem estabelecida”, completa.

Inclusão da vacina no calendário nacional

Outro medida relevante para manter a população protegida contra a Covid é a inclusão da vacina no PNI.

“A gente tende a fortalecer e aguardamos que o Ministério da Saúde insira no calendário vacinal para que a gente possa trabalhar junto com todo o outro escopo das vacinas que a gente já tem”, frisa.

A gente tem a meta de vacinar todos aqueles que tomaram D1 e D2, que finalizem o esquema, mas a gente aceita 90% da população considerando as indicações de faixas etárias
Kelvia Borges
Coordenadora da Célula de Imunização da Sesa

O Ministério da Saúde informou por nota que distribuiu mais de 476 milhões de doses de vacinas a todos os estados. "Para garantir a máxima proteção contra a Covid-19 e conter o avanço de novas variantes no país, a pasta reforça a importância da segunda dose e da dose de reforço", destacou no texto.

A pasta também recomenda a busca ativa da população que ainda não completou o esquema vacinal. No entanto, não respondeu quanto à entrada da vacina contra a Covid no PNI.

Mas no cronograma pessoal de cada cearense, existe um fator que pode atrasar o período para que o esquema vacinal esteja completo.

“Se a pessoa tomou a vacina há 4 meses e está marcado para tomar a nova dose, mas a pessoa está com sintomas sugestivos para Covid, tendo contato com alguém que confirmou, é indicado que essa pessoa realize o teste. Se positivo, espere as 4 semanas, explica.

Diálogo com a sociedade

Os cearenses passaram a entender sobre a fabricação de vacinas, taxas de eficácias e como os imunizantes agem no corpo. As autoridades e profissionais da saúde aprenderam sobre como comunicar sobre a doença nova.

“A vacinação no Ceará nos possibilitou um maior diálogo com a população, com as equipes de saúde - a gente estabeleceu um melhor diálogo com a imprensa. Então, é uma campanha que nos tem desafiado”, analisa Kelvia Borges.

Esse diálogo também considera doenças antigas, que voltam a preocupar no Estado devido à queda na cobertura vacinal durante o período.

“Com a pandemia, algumas vacinas que são parte do calendário de imunização caíram, mas porque a Covid, no início, necessitava de um intervalo entre as doses”, observa a especialista. Mentiras e desinformação também se associam ao problema.

A gente já teve outras epidemias, por exemplo de sarampo, que a gente teve uma dimensão da nossa real capacidade de vacinação. O Ceará sempre fez um belo trabalho de imunização e dessa vez reafirmou o protagonismo nas equipes de vacina
Kelvia Borges
Coordenadora da Célula de Imunização da Sesa

Mas, com a mudança da indicação que permite a aplicação de outras vacinas associadas a da Covid para adultos, a expectativa é de recuperar esse prejuízo.

“A gente espera que agora, sem essa indicação, a gente consiga melhorar novamente as nossas coberturas vacinais e seguir com o calendário do PNI, incluso a vacinação da Covid, e assim a gente conseguir uma alta cobertura para todas as vacinas”.