124 cidades do Ceará já registraram mortes por Covid em 2022

Os óbitos devido à doença voltaram a ser contabilizados em parte dos municípios. Há casos de locais que já estavam há 6 meses sem ocorrência do tipo

Um cenário triste e alarmante voltou a ser vivenciado em dezenas de cidades do Ceará: pessoas morrendo devido à Covid. Em 2022, conforme levantamento do Diário do Nordeste, a partir de dados dos boletins das próprias secretarias municipais, dos 184 municípios, ao menos 124 já confirmaram a ocorrência de mortes em decorrência da doença. Em alguns casos, lugares que já estavam há mais 6 meses sem óbitos, voltaram a registrar. As informações foram levantadas até o último dia 10 de fevereiro.

Dos 184 municípios cearenses, em 57 cidades, felizmente, segundo as informações divulgadas nas páginas oficiais das Prefeituras, cruzadas com os boletins publicizados nas redes sociais oficiais das gestões, não houve acréscimo de mortes em 2022, mesmo com o registro de novos casos da doença.

Mas, o número de mortes, devido à vacinação, não chega a ser tão elevado como nas ondas anteriores da pandemia.  

Conforme dados do Integrasus, plataforma da Secretaria da Saúde, em 2022 foram contabilizadas 854 mortes.

“O que tem sido observado no mundo todo é a elevação do número de casos e semanas depois a elevação do número de óbitos”, observa Keny Colares, médico infectologista e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE).

O especialista destaca que esse comportamento acontece em países como Estados Unidos e Israel com semelhança do que é observado no Brasil. Além disso, a confiança de que a variante Ômicron seja mais leve faz com que haja afrouxamento na prevenção.

“O enfrentamento dessa onda se deu dentro de uma visão na sociedade como uma doença mais leve e que todo mundo estava vacinado. Obviamente as pessoas estão mais protegidas e talvez menos óbitos do que a gente teve, mas perdemos muita gente”, observa.

Show more

Em cidades pequenas como Potiretama, que em 2021 chegou a ficar 4 meses ininterruptos sem mortes, em 2022, já foi contabilizado mais um óbito por Covid. Em São João do Jaguaribe, a cidade chegou a ficar 7 meses sem óbitos por Covid, mas também voltou a registrar em janeiro deste ano. 

Guaramiranga é outro exemplo de cidade que atingiu a marca de 7 meses sem mortes por Covid, mas também em janeiro de 2022, teve o ciclo positivo interrompido e voltou a registrar mortes.

Na cidade serrana, conforme a gestão municipal, no dia 27 de janeiro, uma paciente 91 anos, que morava em Fortaleza se mudou para Guaramiranga há poucos meses, chegou ao hospital municipal em estado grave e não resistiu. 

Ela faleceu na mesma data em que deu entrada no hospital. A paciente, segundo a Secretaria de Saúde de Guaramiranga, tomou duas doses da vacina contra a Covid em Fortaleza, mas ainda não havia recebido a dose de reforço.  

No município de Pires Ferreira desde junho de 2021 não há mortes por Covid. Mas, um óbito ocorrido esta semana está sendo investigado, segundo a gestão municipal, para saber se foi em decorrência da doença. Caso confirmado, é mais uma localidade que perderá em 2022 o índice positivo.

Velocidade de contágio e mais mortes

Das 125 cidades com óbitos em 2022, 57 foram em janeiro. As demais contabilizaram as últimas mortes esse mês. Já entre as cidades que não tiveram mortes em 2022, a que está a mais tempo sem óbitos, permanece desde maio de 2021 com o cenário positivo. 

Em três cidades, Barro, Ibicuitinga e Chorozinho, não foi possível, a partir das informações disponibilizadas em boletins tanto nos sites oficiais das prefeituras, como nas redes sociais, detectar em que data houve registros óbitos mais recentes por Covid. 

Em 2022, com a terceira onda da pandemia de Covid, os casos saltaram de forma acelerada e expressiva no Estado. Janeiro foi o mês com o maior número de confirmações em toda a pandemia e chegou a ter um pico de 12 mil casos em um único dia. 

A médica de família e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Magda Almeida, destaca que os óbitos "são marcadores tardios da doença. Só aparecem de 7 a 15 dias depois do pico de casos, geralmente".

De acordo com ela, é preciso avaliar, nesses casos, se o registro que está sendo feito considera a data do óbito ou a do registro dessa morte, "porque pode estar havendo atrasos na notificação", completa.

Com base nas informações do Integrasus, Magda explica que no Ceará, o tempo médio de internaçào antes do óbito é de 12 dias, e acrescenta que "29% dos pacientes que foram a óbito tinham comorbidades e a média de idade era de 68 anos".

"Ainda não sabemos o status da vacinação dessas pessoas que foram a óbito, mas no restante do mundo, é clara a diferença dos desfechos entre os grupos de vacinados e não vacinados".
Magda Almeida
Médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC

Alertas sobre o atual cenário 

A imprevisibilidade do coronavírus não permite abandonar o uso de máscaras e manter o distanciamento físico. Manter o ciclo vacinal em dia também se coloca como estratégia indispensável.

“O que a gente puder fazer para impedir a transmissão, as medidas que já são muito discutidas, mas que infelizmente nem sempre são cumpridas”, analisa Keny Colares.

A queda da positividade de casos pode estar relacionada com a alta transmissibilidade do vírus, mas não é possível prever se novos aumentos repentinos, nas chamadas ondas de Covid, possam acontecer.

Aparentemente a tendência é que a gente, até o fim de fevereiro, tenha uma queda na curva de casos e o que vai acontecer depois é uma grande interrogação
Keny Colares
Infectologista

Há a possibilidade de redução dos números da pandemia em março, mas isso depende do comportamento social na adoção da prevenção e da imunização.

“Há quem diga que (a pandemia) vai estabilizar e ficar endêmica com uma pequena quantidade de casos, mas eu acho que isso é ser muito otimista. A gente pode ter esse ano ainda outras ondas e a curva de óbitos a gente não sabe até quando vai continuar subindo”, conclui.

A médica Magda  Almeida reitera que apesar do grande número de casos de modo explosivo, a maioria não evoluiu para internação ou óbito, "principalmente por conta da vacinação". 

O que precisamos fazer é nos imunizar. Tomar as doses de reforço. A vacina foi o que permitiu com que não precisassemos restringir mobilidade ou ativiades econômicas.
Magda Almeida
Médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC