Seis meses após o retorno do Teatro da Praia, que agora ocupa novo endereço, na avenida Monsenhor Tabosa, o diretor, ator e idealizador do espaço, Carri Costa, reflete sobre a cena cultural da Capital com olhar atento ao futuro, mas focado no presente. A reabertura após quase três anos de hiato – entre 2020 e 2023 – pede pé no chão e estratégias para manter o teatro em pé de forma permanente.
Conseguir reerguer a casa que se tornou uma das mais importantes na cena teatral de Fortaleza não tem sido fácil. O teatro, que completou 30 anos no ano passado, precisou se adaptar física e conceitualmente para receber o público, repensando número de lugares e programação. Mas o diretor já vê uma grande recompensa: o carinho do fortalezense.
“A gente teve muito receio em relação a como seria essa receptividade, como seria esse retorno a um lugar que agora tem aspectos diferentes, aspectos físicos diferentes”, explica Carri. “Mas o que a gente viu e ouviu muitas vezes foi esse compromisso afetuoso de se fazer presente nesse local que tem uma história diferenciada”, completa.
Atualmente, o teatro tem dois espetáculos em temporada: “Loucuras de Amor”, sucesso há 16 anos, apresentado às sextas-feiras, e “Xibiu – A Comédia das Quebradas”. Um musical infantil, 80% concluído, aguarda apoio e captação de recursos para sair do papel e deve sair do papel em agosto, também em temporada.
Mas com um público ainda “tímido” em relação a encenações de companhias locais – um dos sintomas do pós-pandemia, para Carri –, as conquistas existem em meio a muitos desafios. O principal deles é a falta de financiamento, já que o teatro funciona de forma independente, sem apoio de entes públicos ou privados.
Sempre tivemos esse aspecto de acolhimento, esse aspecto de interatividade, de ações que promovessem a cultura de maneira muito independente, muito autoral. Isso realmente demonstra que o Teatro da Praia insiste, persiste e resiste – e precisaria ser entendido assim pelo poder público também, porque a gente sabe que os afetos da cidade a gente já tem."
Outro ponto é a constante necessidade de "conquista" do público, que muitas vezes prefere ver espetáculos de companhias de fora ou “ficar em casa, no streaming” a ver peças cearenses. “É como se a cidade ainda não se apropriasse muito da potencialidade dos seus artistas. Isso torna muito restrito o público de teatro”, explica Carri.
Escola para atores busca impulsionar cena local
É certo que o Teatro de Praia tem feito sua parte para ampliar a paixão cearense pelas artes cênicas. Além de resgatar a tradição das temporadas de espetáculos – algo raro na Capital –, o espaço tem se aproximado e recebido peças de companhias de teatro do interior do Estado e buscado diálogo com equipamentos culturais do Governo do Estado, como o Dragão do Mar e a Biblioteca Estadual do Ceará (Bece) para uma possível parceria entre eles.
“A gente está aqui, a gente está na vizinhança, então seria interessante a gente dialogar. Seria interessante que houvesse essa reciprocidade, esse apoio”, pontua Carri Costa. O diretor ainda aguarda uma resposta sobre a possibilidade de ações conjuntas.
Outra iniciativa do Teatro da Praia para impulsionar a cena local é a criação da Escola de Teatro Carri Costa, que já está com inscrições abertas e tem o início das aulas previsto para o mês de agosto.
Com duas turmas, uma para crianças (aos sábados) e outra para adolescentes e adultos (às terças e quintas-feiras), o espaço de formação foi pensado em parceria com o ator e professor Dyego Steffan e visa fomentar o ensino de artes cênicas na Capital, além de viabilizar o funcionamento do teatro.
“Eu nunca tinha tido um espaço compatível com uma qualidade melhor para poder acolher as pessoas que quisessem aprender mais sobre teatro, aprender sobre improviso, audiovisual, interpretação para comédia, interpretação para drama. A gente nunca teve um espaço bom, confortável para isso acontecer. Agora a gente tem”, explica Carri.
Além de professores com ampla experiência artística e espaço para ensaios – e para a apresentação de conclusão do curso, que será realizada no fim do ano –, os alunos terão acesso ao acervo e à biblioteca do teatro.
As mensalidades custam R$ 200 (turma infantil) e R$ 250 (turma adulto). Para se inscrever, basta entrar em contato com a equipe do espaço pelo WhatsApp (85) 99446-9493 ou pelo e-mail escolacarricosta@gmail.com.
O teatro para além dos palcos
Assim como a escola, a vontade antiga de Carri de levar os espetáculos de sua Cia. Cearense de Molecagem para fora dos palcos também deve se tornar realidade em breve. O primeiro deles, “Xibiu”, já ganhou roteiro para uma série e aguarda patrocínio para ser viabilizado.
“É uma história de comunidade, uma história periférica legal. E ele traz uma comédia diferenciada, que não é nada pejorativa”, destaca Carri. “A gente trabalha a jocosidade do dia a dia dessas pessoas, como elas vivem, como elas interagem”, completa.
Já “Loucuras de Amor” está sendo adaptado e deve virar longa-metragem. “Estou trabalhando no roteiro, junto com um parceiro meu, para a gente colocar em propostas. Botar debaixo do braço e sair correndo atrás de edital”, aponta Costa.
A ideia de enveredar pelo audiovisual, segundo o artista, visa incluir um estilo próprio de comicidade, “realista, jocoso e de respeitabilidade”, nas produções de comédia locais.
“São espetáculos nossos que estão em cartaz há décadas, então está na hora de a gente ir para outras linguagens, de a gente fazer escola, dizer para as pessoas como é que podemos fazer isso, o que é que a gente entende e como a gente entende”, conclui Carri Costa.