QUE NEM TU | Elaine Quinderé: 'é lucrativo para o mercado da moda e beleza promover a gordofobia'

A consultora de estilo especialista em plus size e colunista do Diário do Nordeste defende um vestir que liberta e aumenta a zona de conforto de si

A roupa, sapato e acessórios que você veste conversam, o tempo todo, com a sociedade na qual está inserida. É expressão do tempo, território, cultura e comportamento. Ao mesmo tempo, pode potencializar a identidade, sentimentos, corpo e os humores de quem as veste, como também abrigar preconceitos e aprisionar em estereótipos. A comunicadora e consultora de estilo, Elaine Quinderé, viu a potência da moda como ferramenta para transformar. Através do conhecimento do vestir-se, ela propõe ampliar zonas de conforto e também levanta a bandeira política de que roupa é também acesso e, por isso, precisa chegar a todos os corpos.

Com esse pensamento, Elaine é uma voz potente no movimento de combate a gordofobia. No episódio desta quinta-feira (18) do Que Nem Tu, ela falou sobre como a indústria da moda, beleza, cosmética e "saúde" preferem trabalhar com o preconceito contra corpos gordos para lucrar mais a todo custo. 

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"É muito lucrativo eu ir por esse ponto sabendo que existe uma parcela de pessoas que sofre por isso. Que não passa na catraca, que não acha roupa, que não se sente bem ambientes, que tem um escrutínio pelo corpo que tem. Ninguém quer se gordo. Pegar por essa fragilidade é muito lucrativo para nutrólogo, nutricionista, indústria da beleza, do cosmético, da saúde. É muito lucrativo pra quem quer trabalhar com emagrecimento.  A pessoa quer emagrecer, ok! O problema do movimento antigordofobia não é esse. O problema é a glamourização disso. De que você só é uma pessoa válida quando emagrece", alerta.

A especialista e colunista do Diário do Nordeste também reforça que é preciso estar atento para o que esse movimentos da moda propõem como tendência e o impacto delas na saúde das pessoas. Ela exemplificou como o "comeback' dos anos 2000 voltou a incentivar transtornos alimentares.

Estamos vivendo o comeback dos anos 2000, período de pessoas magérrimas, anoréxicas, glamourização da doença, dos transtornos alimentares. Era legal ter anorexia, era legal ser bulímica. A gente está de novo alimentando transtornos alimentares que a gente viu a destruição que eles fizeram na cabeça de tantas crianças a adolescentes dos anos 2000. 
Elaine Quinderé
Consultora de estilo

E a mensagem há alguns anos de que a moda, enfim, estaria desfilando um conceito mais plural de aceitação da diversidade de corpos, com um discurso político de inclusão e democratização de acesso foi ficando mais escassa. Para acessar vestimentas que foram pensadas para todos os corpos, é preciso mais esforços e conhecimento. E foi por isso que Elaine resolveu se especializar no mercado plus size. Viu o quanto a dúvida  e a falta de conhecimento poderia aprisionar ainda mais os corpos gordos e colocou seus serviços para reverter a situação.

"A consultoria de estilo é para que a roupa não seja um problema. A dúvida é muito lucrativa. Quanto mais dúvida a gente tem, mais a gente compra. Você entender quem você é naquele momento, o que você quer, aonde você quer chegar. E ficar muito tranquilo porque estilo e e roupa são transitórios. A gente só sabe lidar com as mudanças quando tem conhecimento. E o conhecimento de si mesmo é muito caro. Nem todo mundo está preparado pra olhar pra dentro e olhar pra si mesmo e dizer: 'eu sou assim'. É mais fácil olhar para a blogueira que eu sigo e ver o que ela está usando e tentar imitar aquilo. Aí olhar pro espelho não gostar e dizer que é o que tem", pontua.

Mesmo assim, Elaine é crítica também com o setor onde atua. Ela denuncia que ainda nos anos 2024 existem muitos profissionais que continuam a fazer consultoria apontando o que pode e o que não pode e apostando em clichês de estilo. Parece faltar criatividade e boa vontade. 

"O conhecimento da consultoria de estilo está muito datada de que a mulher elegante usa salto, vestido, tons sóbrios. E você pode ser elegante de outras formas. A gente precisa estar nesse lugar estereotipado, nesse clichê, falando as obviedades? Cada pessoa é uma pessoa. Cada pessoa tem uma rotina específica e o vestir precisa acompanhar isso e não o contrário.
Elaine Quinderé
Consultora de estilo

A entrevista passou ainda por alguns mitos do que é se vestir bem, um desejo que está no topo de quem resolve fazer uma consultoria de estilo. Elaine falou ainda sobre como sua carreira chegou até a moda, explicou os serviços e consultorias, sua estratégia digital e até sobre os haters que precisa enfrentar por defender um discurso antigordofobia.