"É uma parte de mim que se vai", confessa Frankley Tavares, 57, após saber da morte de Gal Costa na manhã desta quarta-feira (9). O cearense produtor de Moda é fã da cantora desde os sete anos de idade e coleciona momentos ao lado da artista.
O último, a propósito, aconteceu em agosto deste ano durante o show de Gal em Natal (RN). Na ocasião, ela homenageou Frankley na frente de milhares de pessoas.
"Tem um fã meu de Fortaleza que veio só para ver esse show. O nome dele é Frankley. Sabe aquela época em que eu era muitíssimo jovem e ele era muitíssimo jovem? Ele me recebia com toda a minha discografia, tem um carinho imenso por mim", disse a diva, cantando, na sequência, "Um dia de domingo" – música assinada por ela e Tim Maia (1942-1998).
Apesar de esse ter sido o último contato presencial entre os dois, Frankley conta ter se comunicado com Gal nos últimos dias por meio das redes sociais. Bastante emocionado, o fã diz que foi convidado pela própria cantora para a gravação do próximo DVD dela.
"Tinha sempre uma grande atenção, ela dizia que me amava muito. Postou até uma foto minha com ela no instagram, na ocasião desse show. Sempre foi minha cantora preferida. Não tinha outra pessoa".
Robusto acervo
Como é de imaginar, não apenas de instantes a relação entre fã e ídolo se desenvolveu. Frankley guarda da colher que Gal Costa utilizou para tomar café até a garrafa onde ela tomou água. São relíquias, preciosidades. O cearense se sente privilegiado por ter travado uma relação tão profunda com a baiana.
"Ela era bastante reservada. Não era todo mundo que tinha acesso. Muito cuidadosa, preocupada com as pessoas. Tive a sorte de encontrar a minha diva sempre".
Dentre as canções favoritas na voz de Gal, está "O Ciúme" (1995) e "Negro Amor" (1977) – esta regravada com o uruguaio Jorge Drexler em 2020. Quanto aos álbuns, "Gal Tropical", lançado em 1979, é considerado um marco para Frankley. "Foi uma reviravolta que a reacendeu".
O trabalho, a propósito, resguarda uma história interessante. Frankley conta que, à época do lançamento, voltou para casa a pé somente para comprar o disco. "Até hoje, tenho várias unidades de cada álbum dela". A paixão se transformou também em figurino. No último show de Gal em que esteve, o cearense foi vestido por uma peça cuja estampa compila todos os discos da cantora.
Eterno amor
Declarando-se "sem chão e sem ar" pela partida da pessoa que tanto amou, o produtor afirma não existirem mais pessoas tão devotadas a artistas, capazes de fazer tanto por eles e para estar com eles.
No caso de Gal, ela chegou a dizer que ia dar um presente a Frankley no próximo show. "Agora, vai ser bem difícil", lamenta o fã. "Eu sempre dizia para ela, 'quando Deus criou a voz, ele criou a tua'. Ela não tinha uma voz, tinha um instrumento. Não sei como vão ficar as coisas".