Caixa Cultural Fortaleza reabre com programação variada e proposta de fortalecer artistas locais

Retomada do programa de ocupação faz casa respirar novos ares com programação de música, dança, teatro artes visuais e mais

Matar a saudade ou finalmente conhecer as dependências daquele prédio bonito, feito de pedra, ao lado do Dragão do Mar. Seja qual for a intenção, a Caixa Cultural Fortaleza está novamente de portas abertas. Desde o último 15 de setembro, a casa respira novos ares ao retomar ações do Programa de Ocupação dos Espaços, parado há quatro anos.

Isso significa o fortalecimento de uma programação voltada para contemplar seis linguagens artísticas: Teatro, Dança, Música, Cinema, Artes Visuais e Vivências, resultado de seleção pública. Esta recebeu número recorde de inscrições – foram mais de 7.700 –, cujo fruto se converterá em inúmeras atividades, apoiadas financeiramente com R$30 milhões.

“É muito bom a gente falar da Caixa Cultural em pleno funcionamento de novo”, festeja a gerente da unidade em Fortaleza, Clara Marcília. “A bem da verdade, o equipamento nunca parou. Apenas esse projeto de ocupação, responsável por trazer nomes maiores do cenário cultural cearense e brasileiro, ficou realmente paralisado”.

Segundo ela, projetos como o “Gente Arteira” – de caráter arte-educativo, focado sobretudo na realização de oficinas, palestras e cursos para públicos de todas as idades – continuou sendo executado na instituição de forma virtual e, mais recentemente, de modo presencial. Momento propício para o espaço se conhecer mais como centro cultural, avaliar possibilidades e o que deseja mostrar para a cidade.

Passado esse instante, agora as prioridades são outras. Continua a vontade de democratizar o acesso à cultura – a maior parte da programação pretende ser gratuita ou a preços populares, como sempre foi – mas o enfoque em artistas da terra será maior, bem como o investimento em intercâmbios culturais, visando estabelecer pontes com nomes e projetos de mais praças.

“Algo decisivo para essa reabertura foi a força de vontade de todos os envolvidos, inclusive os produtores; diálogo com patrocinadores; o fato de os equipamentos voltarem a ter ocupação de domingo a domingo; e a participação efetiva das pessoas que se inscreveram no edital e quiseram participar e contribuir com essa retomada”.

Os projetos que passam a ocupar as unidades da Caixa Cultural foram anunciados no início de agosto. Também serão divulgados os projetos que serão patrocinados para ocuparem os espaços entre abril e dezembro do próximo ano. Entre eles, estão shows, espetáculos, mostras de cinema, feiras e oficinas.

A banda Francisco, El Hombre, o cantor e compositor Macaúba do Bandolim e a 5ª Feira do Cordel Brasileira são alguns que já passaram pelo equipamento nessa nova leva. Os próximos momentos serão protagonizados por Leci Brandão, pela oficina “Percussão Brasileira - Ritmos Populares”, pelo espetáculo “Eu de Você”, com Denise Fraga, entre outros.

Acessar e desburocratizar

Também selecionado via edital para integrar as ações do equipamento, o cantor e compositor Juruviara estreou na Caixa Cultural Fortaleza entre os dias 3 e 5 de novembro com o show “PreAmar, Juruviara e Banda”. O interesse dele e da formação em estar na casa foi apostar na presença de artistas da própria cidade em locais dessa natureza.

“Apesar de se localizar na Capital, a gente não via a Caixa Cultural ser ocupada anteriormente por artistas de Fortaleza, do Ceará. A maior parte dos shows eram de pessoas renomadas nacionalmente”, observa. “Então, por já estarmos com o show pronto de lançamento do meu segundo disco, decidimos fazer a inscrição”.

Para ele, importa bastante o que chama de “igualdade de cena”, ou seja, palco, estrutura e cachês equilibrados entre os diferentes artistas e agentes culturais que circulam pela instituição, sejam eles da própria terra ou não. “Essa minha presença lá como artista de Fortaleza serve para isso, para fomentar o interesse de outros artistas de ocupar um lugar que realmente é nosso, daqui”.

Apesar de elogiar a estrutura do espaço e a boa receptividade da equipe, Juruviara acredita que a quantidade de público razoável nos três shows deveu-se à pouca divulgação, resultado do que ele aponta como burocratização da Caixa. 

“Nossa luta é a desburocratização do sistema classificatório, para que possamos ter mais acesso, tendo em vista que nem todo mundo conta com produção própria. Ou seja, quanto mais desburocratizar, mais acesso outros artistas vão ter para tocar nesse equipamento”.

Valorizar o Ceará

Clara Marcília reitera o compromisso desse novo momento da casa de valorizar ainda mais nomes e manifestações genuinamente cearenses. Não à toa, conforme destaca, mais de 30% dos projetos aprovados no Programa de Ocupação são voltados ao Estado. “Sentíamos que o Ceará, os artistas e as produções precisavam desse incentivo”.

Além disso, mesmo com projetos de envergadura nacional, ela diz que a equipe faz questão de ter profissionais daqui para esse apoio. No caso da peça da atriz Denise Fraga, por exemplo, houve necessidade de contratar um produtor, um assessor de imprensa, enfim, toda a equipe de Fortaleza. “Esse movimento da economia cultural é um foco da Caixa”, sublinha.

“Inclusive, estamos estudando uma forma mais abrangente de distribuição de ingressos, considerando a famosa fila que se forma no equipamento. Mas nosso lado social, de ser uma Caixa para todos – fazendo com que pessoas de diferentes espaços da cidade venham para o equipamento – permanece. É uma aproximação, eu diria, até gostosa, pois o público vem para buscar o ingresso, forma fila, mas acaba também ficando para conferir as exposições, conhecer o prédio etc”.

Encerrando a conversa em tom de entusiasmo por todo esse caminhar, a gestora ainda enfatiza o quanto o cenário cultural de Fortaleza vibra junto quando algo, feito esse renascimento de um espaço, acontece. “Esse é o momento de aproveitar a onda, esse mote grande que a cultura está tendo, esse fortalecimento que a gente vem recebendo nesse cenário. É como ratificamos nosso centro cultural”.

 

Serviço
Caixa Cultural Fortaleza
Av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema. Visitação: de terça a sábado, das 10h às 20h; domingo e feriados, das 10h às 19h. Entrada franca. Mais informações pelo site, pelas redes sociais do equipamento ou por meio do contato (85) 3453-2770