Militares acusam catador de latinhas morto de assassinar Evaldo no RJ; 'Revoltante', diz viúva

O carro da família do músico foi atingido por, pelo menos, 62 tiros — ao todo, foram 257 disparos de fuzil e pistola que partiram dos militares

A defesa dos 12 militares que respondem na Justiça Militar pela morte do músico Evaldo Rosa acusou, na quarta-feira (14), o catador de latinhas Luciano Macedo, morto na mesma ofensiva, de ter assassinado Evaldo. As provas, no entanto, não foram apresentadas. As informações são do Uol.

O advogado Paulo Henrique de Mello apresentou versões contraditórias para o crime durante as quatro horas de manifestação.

As viúvas das vítimas se indignaram com a acusação, que não condiz com o relato dos sobreviventes da ação militar assim como a perícia feita no local. Não foi encontrada qualquer arma que pertencesse a Luciano na cena do crime.

De acordo com a viúva de Luciano, Dayana Fernandes, o marido tentou ajudar Evaldo depois que o carro da família do músico ter sido atingido por, pelo menos, 62 tiros — ao todo, foram 257 disparos de fuzil e pistola que partiram dos militares, segundo a perícia.

Reação

Na versão dos militares, Luciano desempenhava a função de "olheiro" do tráfico local e atirou na tropa para fugir.

O suposto ataque, conforme a defesa dos militares, teria levado à reação deles, que dispararam centenas de tiros contra o veículo em que estava a família de Evaldo.

'Indignada'

"É revoltante, eu estou indignada. Estão insinuando que meu marido tinha envolvimento com o tráfico da região, que meu marido foi culpado pelo que aconteceu com o Evaldo. É muito fácil acusar quem já está morto e não pode se defender. Enquanto isso, o Exército mata quem eles querem. O Luciano já tinha saído do tráfico há muito tempo, já tinha saído dessa vida", disse Dayana.

"Eu já esperava que eles acusariam o Luciano. Mas a justiça de Deus tarda, mas não falha. Eu tenho um filho para criar e preciso seguir a minha vida. Mas a justiça vai ser feita" afirmou Luciana Nogueira, esposa de Evaldo.

Teses

Inicialmente, o advogado Paulo Henrique de Mello relatou que Evaldo foi morto por traficantes de Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, onde o fato aconteceu.

Depois, ele contou que Luciano era olheiro do tráfico e, no fim das alegações, falou que o disparo que assassinou Evaldo partiu de Luciano. As provas, no entanto, não foram apresentadas pela acusação.

Na ocasião, a defesa dos 12 militares apresentou trechos de depoimento que a viúva do catador de latinhas prestou à Justiça Militar. Dayana disse que ela e o marido tinham antecedentes criminais por tráfico de drogas.

O advogado Paulo Henrique de Mello também exibiu um trecho do depoimento prestado pelo comandante da brigada, general Miranda Filho, sobre confrontos com o tráfico que teriam acontecido na manhã do dia dos crimes.

De acordo com o general, um Ford Ka Branco — mesmo modelo e cor do veículo de Evaldo— cometeu assaltos na ocasião.

A defesa ainda afirmou que os militares reagiram a tiros efetuados por traficantes que atuam na região. No entanto, mais uma vez, as provas não foram apresentadas.