Em entrevista ao Jornal Nacional, na noite desta segunda-feira (22), o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), voltou a criticar as urnas, mas ressaltou que respeitará o resultado das eleições "se elas forem limpas".
Bolsonaro foi o primeiro entrevistado em série do telejornal da TV Globo que seguirá com outros candidatos durante a semana (veja cronograma abaixo).
O presidente chegou a trocar farpas com William Bonner quando o jornalista relembrou que Bolsonaro ameaçou não deixar as eleições acontecerem.
Em dado momento, ao falar sobre ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem negou ter dirigido palavrões, o presidente frisou que "teremos eleições".
O candidato citou, ainda, que é constantemente perseguido pelo TSE, quando Bonner perguntou por que ele "tem xingado ministros do STF e feito ataques e ameaças sem provas": "Você pretendeu criar um ambiente que de alguma forma permitisse um golpe?, questionou o jornalista.
"Primeiro: você não está falando a verdade quando fala xingar ministros, isso é fake news da sua parte. Eu quero é transparência nas eleições. Vocês com toda certeza não leram o inquérito de 2018 da PF", comentou Bolsonaro, voltando a levantar a hipótese de que as eleições de 2014 e de 2018 tenham sido fraudadas.
Pandemia de Covid-19
O presidente foi questionado também sobre a política de governo e a postura dele durante os momentos críticos da pandemia de Covid-19. A jornalista Renata Vasconcellos relembrou que Bolsonaro fez campanha para o "tratamento precoce", imitou pessoas com falta de ar e desestimulou a vacinação - inclusive afirmando que as pessoas que se vacinassem se tornariam "jacarés".
O presidente respondeu dizendo que o que não foi correto foi o "trabalho forte da grande mídia" na pandemia, "desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce. Isso [a terapia] é liberdade médica". Ele ainda afirmou que falar sobre tornar-se jacaré foi uma "figura de linguagem" que é "parte da língua portuguesa".
Bolsonaro também retornou a criticar o lockdown e o isolamento social, falando que durante "mais de um ano", pessoas continuaram morrendo em casa e ainda ficaram desempregadas.
Aliança com o Centrão
Questionado por Bonner sobre a polêmica aliança com o Centrão, Jair Bolsonaro foi irônico e disparou para Bonner: "Você está me estimulando a ser ditador".
Segundo o candidato do PL, o trabalho de um ditador é justamente ter "controle" sobre 300 deputados do bloco político. Bonner relembrou que em 2018 Bolsonaro negou ser do Centrão, mas recentemente chegou a assumir ser integrante do bloco. “No meu tempo não era Centrão, não existia Centrão”.
Meio ambiente
Em meio à discussão sobre meio ambiente, quando questionado acerca do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro defendeu que tratores não devem ser queimados. No início do governo, o presidente já havia criticado a destruição de equipamentos durante ações de fiscalização.
Em sua justificativa, relatou que a lei aponta que se deve atear fogo no trator caso não seja possível tirar o material do local.
Porém, o presidente acrescentou que, muitas vezes, os órgãos ambientais colocam fogo antes de possibilitar a retirada. Bonner, por sua vez, perguntou a quem interessa defender a posse de um equipamento que contribui para a derrubada de árvores da Amazônia. Ainda assim, Bolsonaro respondeu: "não desautorizo a lei, não é para ser destruído (o trator)".
Criação do Pix
Durante as declarações finais da entrevista, Bolsonaro afirmou que seu governo foi o responsável pela criação do Pix.
"Criamos o Pix, tirando dinheiro de banqueiros, fazendo com que a população pudesse transformar muitos em pequenos empresários. Um Pix sem qualquer taxação em cima dele", disse.
No entanto, apesar de o Pix ter sido desenvolvido pelo Branco Central, com processo evolutivo que se deu entre 2019 e 2020, a ideia do projeto surgiu ainda no governo de Michel Temer (2016-2018).
Ainda em 2016, o então presidente do BC, Ilan Goldfajn, sinalizou que a instituição se preparava para lançar uma ferramenta inspirada no Zelle, plataforma similar ao Pix nos Estados Unidos.
Entrevistas ao Jornal Nacional
As entrevistas com os candidatos seguem durante a semana e têm duração prevista de 40 minutos.
Foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Instituto Datafolha em 28 de julho: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante).
William Bonner e Renata Vasconcellos conduzem as entrevistas ao vivo, direto dos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro.
Pela ordem definida em sorteio no último dia 1º, o cronograma de entrevistas é o seguinte:
- Segunda-feira (22): Jair Bolsonaro
- Terça-feira (23): Ciro Gomes
- Quinta-feira (25): Lula
- Sexta-feira (26): Simone Tebet
O candidato André Janones retirou a candidatura à Presidência no dia 4.