A Prefeitura de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, publicou um decreto na terça-feira (5) desobrigando o uso de máscaras de proteção facial na cidade, que tem aproximadamente 924 mil pessoas.
A medida, que contraria a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, vale para locais abertos e fechados.
De acordo com a gestão municipal, a decisão foi tomada considerando a diminuição de infecções por Covid-19 na região e o aumento do número de vacinados.
Segundo a Prefeitura do município da Baixada Santista, a proteção facial será exigida se a pessoa estiver com a doença ou com suspeita de estar contaminada com o coronavírus durante o período de transmissão.
Em nota, a gestão municipal informou ter aplicado mais de 900 mil doses da vacina contra a Covid-19. O número de aplicações de primeira dose ultrapassou 70% do público-alvo. A segunda dose alcançou, até o momento, 46,8% dele.
Críticas
Em abril deste ano, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), foi criticado depois de aparecer em um vídeo aparentando estar aplicando a vacina contra a Covid-19 em uma pessoa.
Por nota, a Prefeitura explicou se tratar de uma "encenação". Na época, a imunização na cidade era marcada por filas e aglomeração.
Em entrevista à TV Globo, o prefeito disse que não tinha culpa da desorganização.
"Eu não sou hipócrita. Eu não organizo fila, eu não chamo ninguém para vir para a fila. A gente comunica pelas redes sociais. A gente não domina as pessoas. Não sabemos de onde vêm as pessoas, a iniciativa de cada país. Isso é hipocrisia. Eu não engano ninguém", afirmou.
Polêmicas
Desde o início da pandemia, Washington Reis teve o nome envolvido em polêmicas. Em março de 2020, ele defendeu a abertura de igrejas.
"Nossa orientação desde a primeira hora foi manter as igrejas abertas porque a cura virá de lá, né? Dos pés do Senhor. Vamos, se Deus quiser, orar. Agora mesmo estou indo para o monte, daqui a pouco. Estamos buscando... Duque de Caxias tem uma proteção de Deus para que escape dessa epidemia que vem ceifando milhares de vidas pelo mundo afora".
Ele, que é hipertenso e diabético, teve reinfecção por Covid-19. Em julho deste ano, deu entrada em um hospital da capital com falta de ar e saturação de 88%.
Na primeira internação, em abril deste ano, Washington Reis foi levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e precisou de oxigênio.
Recomendação da OMS
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), “as máscaras são uma medida fundamental para suprimir a transmissão e salvar vidas”, especialmente em comunidades onde a circulação da Sars-CoV-2 é significativa.
Fique seguro tomando alguns cuidados simples, como distanciamento físico, uso de máscara, especialmente quando o distanciamento não pode ser mantido, mantendo os quartos bem ventilados, evitando multidões e contato próximo, limpando regularmente as mãos e tossindo em um cotovelo ou lenço de papel dobrado”
Infecções e transmissões permanecem
Conforme a epidemiologista, virologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Caroline Gurgel, embora uma parcela da população esteja imunizada, isso não impede que o vírus entre em contato com o organismo e haja transmissão aos demais, que podem, inclusive, não ter tido acesso às vacinas ainda.
“Mesmo que você esteja vacinado, você não forma um escudo anatômico que impeça o vírus de entrar no seu corpo. Não é como se ele não entrasse em contato e não causasse infecção, ele vai causar infecção, mas vai ser de forma branda a moderada”, explica.
Neste sentido, a especialista reitera que, independentemente do perfil vacinal dos indivíduos, eles permanecem sendo transmissores do vírus. “Por isso que não é nem para se cogitar a ideia de abandonar as máscaras por enquanto. Ela é para ser utilizada como mais uma medida sanitária básica apra você conseguir controlar a circulação do vírus e diminuir a probabilidade do surgimento de novas variantes”.
Caroline Gurgel pontua também que é imprescindível que, em primeiro lugar, haja uma estabilização evolutiva do coronavírus - sem a disseminação de variantes - antes de ocorrer o relaxamento dos cuidados de prevenção, ainda que sejam em locais onde exista alta cobertura vacinal.
“Vários países conseguiram vacinar uma quantidade enorme de pessoas e aboliram as máscaras, mas tiveram que voltar atrás: os Estados Unidos foi um, Israel foi outro. Isso mostra que não adianta avançar na vacinação sem permanecer usando as máscaras, pois o vírus passa a circular de novo”, prossegue.
Máscaras reforçadas
Além disso, para Thereza Magalhães - epidemiologista, enfermeira e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) -, as pessoas devem ficar mais atentas atualmente à qualidade das máscaras de proteção utilizadas.
Se a gente quiser fazer uma contenção da Delta sabendo que ela transmite mais, a gente vai ter que fazer os bloqueios de vias respiratórias com bastante ênfase. Então, é investir em máscaras melhores, com maior proteção”
A docente da Uece explana também que o Estado conta hoje com uma falsa sensação de segurança, como se a pandemia já tivesse sido finalizada, mas que a chegada da variante Delta pode ocasionar uma elevação de infecções novamente.
“No caso da variante Delta, a transmissão é muito acelerada, então a gente pode vir a ter isso [aumento de casos] antes do que a gente imagina. E, como a replicação dela é mais célere do que nas variantes anteriores, a gente tem que permanecer em sobreaviso”, continua.
Incentivo à vacinação
Nesta conjuntura, a enfermeira Thereza Magalhães destaca que o ideal é investir cada vez mais e com maior rapidez no processo de vacinação, “porque aí a gente contém mais esse movimento da Delta; só que até lá deve-se continuar o distanciamento social, o cuidado respiratório, não compartilhar objetos e alimentos, etc. Isso vai ter que ser feito por um bom tempo ainda, e com reforço a essas medidas”.
Conforme a epidemiologista Caroline Gurgel, o Ceará tem tentando avançar na imunização, mas o ritmo do vírus consegue ser mais rápido devido à falta de doses suficientes sendo aplicadas e ao difícil acesso à tecnologia enfrentado por muitas pessoas para o cadastramento e consulta de agendamentos nas plataformas de saúde.
"Ainda tem o deslocamento das pessoas para tomar a vacina, às vezes em locais realmente distantes de onde elas residem e às vezes as pessoas não tem nem o dinheiro da passagem, então há vários fatores que estão implicando diretamente o não acesso a essa vacina e a gente precisa ter um olhar diferenciado agora”, conclui Caroline.