Três mil combatentes do Estado Islâmico se rendem na Síria

Último reduto no leste da Síria foi atacado nesta terça

Cerca de três mil combatentes do grupo Estado Islâmico (EI), se renderam nesta terça-feira (12) às Forças Democráticas Sírias (FDS), que atacam seu último reduto no leste da Síria, informou um porta-voz das FDS. 

"O número de combatentes do Daesh [acrônimo em árabe do EI] que se renderam desde ontem [na segunda-feira] na tarde chega a 3.000. Três mulheres yazidis e quatro crianças também foram resgatadas", reportou o porta-voz, Mustefa Bali, no Twitter.

De acordo com o porta-voz das FDS, Adnane Afrine, os evacuados estão sendo transferidos do vilarejo de Baghuz, na província de Deir Ezzor, para um posto de controle da coalizão curdo-árabe. 

Após uma noite de intensos bombardeios, um precário acampamento de tendas é tudo o que resta do "califado" autoproclamado pelo EI em 2014 em vastos territórios na Síria e no Iraque. As FDS lançaram em dezembro a ofensiva final contra este reduto, mas a suspendeu várias vezes para permitir a evacuação de civis e combatentes.

No domingo, retomaram a ofensiva. Após duas noites de bombardeios, muitos jihadistas se renderam. Nesta manhã, a calma prevalecia na região. Os aviões sobrevoavam as posições sem realizar bombardeios. "A operação militar continua, mas desacelera durante o dia", afirmou um comandante das FDS.

'Violentos' combates

Os combates em terra provocaram na segunda-feira a morte de 40 jihadistas e de três combatentes das FDS, segundo um porta-voz da força árabe-curda, Mustefa Bali.

Os aviões da coalizão anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos bombardearam a área e destruíram veículos blindados e depósitos de armas, segundo Bali.

Ali Sher, comandante de uma unidade das FDS, participou com três grupos de homens de seu batalhão de "violentos" combates na segunda à noite.

Ele explicou que a tática de priorizar ações noturnas foi adotada porque durante a noite "os aviões da coalizão visam tudo o que se move, enquanto que aqueles que se rendem o fazem de manhã. Então, interrompemos nossos disparos para que se rendam", afirmou.

Cerca de 59.000 pessoas já deixaram Baghuz desde dezembro, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A maioria foi levada ao campo de deslocados de Al Hol (noroeste), onde vivem atualmente mais de 66.000 pessoas, segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

"Os últimos que chegaram (...) estão fisicamente pior", acrescentou.

Desde dezembro, 113 pessoas - das quais dois terços com menos de cinco anos - morreram a caminho ou pouco depois de chegara ao acampamento, segundo a organização.

'Qual é o nosso crime?'

Diante de sua iminente derrota em Baghuz, o EI enviou uma mensagem aos jihadistas entrincheirados na última fortaleza do grupo no leste da Síria pedindo para que resistam ao cerco porque "a batalha não acabou".

O vídeo, publicado nas mensagens do Telegram e intitulado "The Sense of Perseverance", mostra quatro homens conversando. 

Como pano de fundo, é possível ver imagens da última fortaleza do grupo na cidade de Baghuz, no leste da Síria.

"Embora tivéssemos vários milhares de quilômetros e tenhamos agora poucos quilômetros restantes e que digam que perdemos (...) Deus tem outros critérios", afirma um homem com um kufiya preto e branco, que se diz chamar Abu Abdel Athim.

"Eles cortam as estradas e nos colocam sob cerco, mas o caminho de Deus está aberto (...) a batalha não acabou", continua ele, cercado por dois homens e um menino vestido com uma jaqueta com capuz.

O vídeo é datado no mês de "Rayab 1440", que começa na sexta-feira de acordo com o calendário islâmico. 

"Por que os aviões estão nos bombardeando? Por que todas as nações do mundo infiel se unem para lutar contra nós?", pergunta o homem que introduz vários versos do Alcorão em seu discurso. "Qual foi o nosso erro? Qual é o nosso crime? Queremos aplicar a lei de Deus", acrescenta o jihadista.

"Não tenham medo", afirma outro homem.  Ao fundo, é possível ouvir explosões ao longe, seguidas do barulho de um avião.

O vídeo também mostra imagens de distribuição de sopa nos acampamentos do EI, bem como homens, mulheres e crianças que andam entre as barracas, caminhões e motocicletas em meio ao caos. O vídeo não pôde ser autenticado, mas essas cenas são semelhantes às vistas por jornalistas da AFP no último reduto da EI durante os últimos dias.