A ofensiva russa sobre o território da Ucrânia, deflagrada na madrugada desta quinta-feira (24), colocou o mundo em alerta. A movimentação das tropas e o tom ameaçador adotado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, fizeram muitos se questionarem sobre a possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial. No entanto, para especialistas em relações internacionais, esse cenário está distante e a diplomacia deve ser suficiente para frear a escalada do conflito.
Os territórios que atualmente formam a Rússia e a Ucrânia já foram um só, a União Soviética. Com o desmembramento da área em diversos países, as fronteiras passaram a ser motivo de impasse. Historicamente, esse é o foco de tensão entre as duas nações, já que o país comandado por Putin reivindica pedaços do território ucraniano.
Mais recentemente, as tensões aumentaram quando a Ucrânia fez movimentos para tornar-se integrante Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar com 30 países, incluindo Itália, França, Reino Unido, Portugal, Espanha e Estados Unidos. O temor de Putin é de que a Ucrânia abra caminho para que a Otan estabeleça bases militares no país.
Risco de guerra
A onda de bombardeio já atingiu diversas cidades ucranianas, no entanto, para Sidney Leite, doutor em História Social e professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, uma guerra em grandes proporções só ocorreria se a Rússia avançasse sobre território que atualmente integra a Otan, o que não é o caso da Ucrânia.
Ainda assim, a tensão se eleva, já que os ucranianos fazem fronteiras com países como Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, esses sim territórios da Otan. “É muito pouco provável uma guerra de escala que envolva a Otan, com os Estados Unidos e seus aliados, contra a Rússia. Se isso acontecesse, teríamos uma 3ª Guerra Mundial, porque estamos falando de potências nucleares dos dois lados. Teríamos um cenário de apocalipse”, afirma.
Segundo o professor, as chances da Otan se envolver em uma guerra dessas proporções são mínimas. “Será feita uma escalada das sanções econômicas e até um embargo total à Rússia, se for o caso. A perspectiva de uma guerra em escala maior é quase próxima de zero. Temos um cenário de uma superpotência militar que já está entrando em um território de outro estado que não tem a menor condição de enfrentar de igual para igual”, conclui.
A especialista em Direito Internacional Sarah Lima reforça essa análise. Para ela, os países devem seguir aplicando sanções econômicas à Rússia para isolar financeiramente o País. “Não há necessidade de intervir (com poder bélico) agora, mas esses países tem todo um serviço de inteligência que está em ação”, acrescenta.
Quem também é cauteloso sobre a possibilidade de uma guerra global é o professor de Direito Internacional Público na Universidade de Fortaleza (Unifor), Paulo Henrique Gonçalves Portela.
Para ele, o caminho será impor sanções à Rússia. “Os países vão procurar mecanismo para estabelecer sanções econômicas. A própria Alemanha já interrompeu o processo de certificação do gasoduto russo Nord Stream 2 e os Estados Unidos estão aplicando restrições financeiras, por exemplo”, lista.
“Se tudo isso vai funcionar ou não, não é possível saber no momento, porque a Rússia acumulou grandes reservas internacionais, ela consegue se manter bem por um tempo razoável, ela tem apoio da China”, acrescenta.
De acordo com o professor, antes que uma guerra maior seja deflagrada, os países voltarão a negociar. “O que deve ocorrer, à preço de hoje, é que a situação na Ucrânia vai ser consolidada, muito provavelmente a Rússia vai colocar um governo alinhado a seus interesses e os países terão de negociar para normalizar o comércio e o sistema financeiro (...) Mais cedo ou mais tarde a situação precisará ser negociada”, conclui.
EUA e Rússia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nega que irá enviar tropas para atuar no território ucraniano. No entanto, ele tem reforçado o envio de tropas para os países membros da Otan que fazem fronteira com a zona de conflito. Conforme o tratado estabelecido pelas nações que integram o grupo, toda a aliança militar é obrigada a agir caso um Estado-membro seja atacado.
"Nossas forças armadas não vão para a Europa combater na Ucrânia, mas para defender nossos aliados da Otan e tranquilizar estes aliados do Leste", declarou Biden na tarde desta quinta-feira (24).
Em seu discurso na última segunda-feira (21), Putin atacou a Otan. Ele acusou os países de cruzarem uma linha vermelha ao tentar incluir a Ucrânia no grupo. “Se a Ucrânia entrar na Otan, isso serviria como uma ameaça direta à segurança da Rússia”, declarou.
Sanções
Ainda em seu discurso feito nesta quinta, Biden disse que o G7 – grupo que reúne as sete maiores economias do mundo – concordou em impor sanções econômicas "devastadoras" contra a Rússia por sua invasão da Ucrânia.
"Esta manhã, me encontrei com meus colegas do G7 para discutir o ataque injustificado do presidente Putin à Ucrânia e concordamos em avançar com pacotes devastadores de sanções e outras medidas econômicas para responsabilizar a Rússia. Estamos com o bravo povo da Ucrânia", tuitou Biden.
Ele afirmou ainda que irá limitar as transações em dólar de empresas russas, "É a maior sanção econômica já vista na história", disse. "Há uma ruptura completa agora nas relações EUA-Rússia", acrescentou o presidente americano.
Já a Rússia apresentou uma série de exigências para encerrar os ataques ao território ucraniano. "O presidente russo, Vladimir Putin, expressou sua disposição de se engajar em discussões com seu colega ucraniano, com foco na obtenção de uma garantia de status neutro e a promessa de não ter armas em seu território", disse o porta-voz Dmitry Peskov à agência oficial russa RT.