A Rússia estimou nesta segunda-feira(14) que há uma "possibilidade" de resolver a crise ucraniana por meio do diálogo com os países ocidentais, em um momento em que a diplomacia se intensifica, mas parece não dar frutos nesta crise, a pior desde a Guerra Fria. A declaração foi do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, durante uma conversa por vídeo com o presidente Vladimir Putin.
O caminho do diálogo "não se esgotou, mas também não pode durar indefinidamente", acrescentou Lavrov, enfatizando que a Rússia está pronta para "ouvir contrapropostas sérias".
Em outro sinal de desescalada, pouco depois, Serguei Shoigu, o ministro da Defesa russo, afirmou que os exercícios militares realizados ao lado de Belarus estavam "terminando".
Visita
As declarações do governo russo coincidem com a visita do chanceler alemão Olaf Scholz a Kiev, de onde exortou a Rússia a aproveitar as propostas de "diálogo" para resolver esta crise.
A Alemanha, muitas vezes acusada de ser muito complacente com a Rússia por causa de seus interesses econômicos, endureceu o tom nos últimos dias. Nesta segunda-feira, Scholz garantiu que o seu país vai continuar a apoiar economicamente a Ucrânia "com determinação".
Durante o dia, os primeiros reforços militares alemães começaram a chegar à Lituânia, membro da Otan, onde até agora havia cerca de 550 soldados.
A viagem de Scholz a Moscou é "provavelmente a última chance" de alcançar a paz, disse o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andrii Melnik, à TV alemã Bild neste domingo.
"Temos a sensação de que a guerra está se tornando cada dia mais inevitável", disse ele. "Temos que nos preparar para o pior."
Tom alarmista
Os Estados Unidos continuam insistindo que a Rússia pode lançar uma invasão militar "a qualquer momento" e pediram a seus cidadãos que deixem a Ucrânia, um gesto ecoado por outros países.
Em mensagem com tom alarmista, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu nesta segunda-feira a Putin que se afaste do "precipício" da crise com a Ucrânia.
Johnson garantiu que as evidências são claras: "Há 130.000 soldados na fronteira ucraniana e outros sinais que mostram que há preparativos para uma invasão".
"Como disse Joe Biden, há sinais de que eles estão pelo menos preparando algo que pode acontecer nas próximas 48 horas", disse ele.
Johnson planeja viajar para o norte da Europa esta semana, especialmente os países bálticos. O líder já esteve em Kiev há duas semanas e o Reino Unido entregou armas de grande escala, incluindo mísseis antitanque, para a Ucrânia pela primeira vez.
A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014 e apoia os separatistas armados pró-Moscou no leste da Ucrânia, nega qualquer intenção de invadir o país vizinho, mas vincula a desescalada a uma série de exigências, começando pela garantia de que a Otan não admitirá a Ucrânia como membro, algo que os países ocidentais consideram inaceitável.
"Acreditamos que a adesão à Otan garantiria nossa segurança e nossa integridade territorial", insistiu Zelensky nesta segunda-feira.
Nesta segunda-feira, os ministros das Finanças do G7 afirmaram que estão dispostos a impor "em um prazo muito curto" sanções "com consequências importantes e imediatas para a economia russa", em caso de agressão militar contra a Ucrânia.
A respeito das possíveis sanções e para desagrado da Alemanha, as autoridades do Estados Unidos já mencionaram o futuro do gasoduto Nord Stream 2, construído para transportar gás russo até o território alemão, evitando a Ucrânia.
Também nesta segunda, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski reiterou a Scholz que o oleoduto é uma "arma geopolítica".
Biden convidado
Em uma conversa por telefone no domingo à noite, o presidente americano Joe Biden e o presidente ucraniano Volodimir Zelensky "concordaram com a importância de prosseguir na via da diplomacia e da dissuasão".
A presidência ucraniana acrescentou que Zelensky fez um apelo para que Biden visite Kiev "nos próximos dias", uma viagem que seria um "sinal de grande peso e contribuiria para estabilizar a situação".
A Ucrânia exigiu ainda uma reunião urgente com a Rússia e os 57 países membros da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).
Kiev acusa Moscou de não respeitar as regras da OSCE ao não compartilhar informações sobre as movimentações de tropas nas fronteiras.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, afirmou que a Rússia ignorou uma exigência de Kiev sobre o Documento de Viena, um texto da OSCE que promove medidas de transparência entre as Forças Armadas dos países membros da organização.
A Rússia respondeu nesta segunda-feira que são "movimentos de tropas russas em território russo".