Confira casos de pessoas que se contaminaram de propósito com a Covid-19 no mundo

De grupos antivacinas a jovens desejosos de conseguir a imunidade contra o novo coronavírus à prêmio em dinheiro para infectados, conheça algumas histórias pelo globo

Parece absurdo falar sobre a decisão de se contaminar propositalmente com a Covid-19 após dois anos de pandemia, período em que inúmeros debates e fatos foram compartilhados na busca de informar a população sobre os riscos da doença e a importância de se vacinar. No entanto, ainda hoje, existem pessoas que se recusam a ser imunizadas, e outras que se expõem deliberadamente ao novo coronavírus.

Em ocorrência recente que ganhou notoriedade mundial, está o caso da cantora tcheca Hana Horka, 57 anos, que se expôs ao vírus desejando obter o passaporte de vacinação. Porém, depois de sofrer de complicações relacionadas à doença, a artista faleceu no último domingo (16)

A decisão de se contaminar com o novo coronavírus não é um fenômeno recente e apresenta distintos casos registrados no mundo. Confira alguns deles:

“Festa Corona” na Itália 

Em novembro do ano passado, conforme o Portal G1, um austríaco de 55 anos morreu de Covid-19 após ir a uma festa para se infectar com o coronavírus na Itália. O homem desejava, assim como Hana, obter um passaporte sanitário de vacinação, já que as autoridades italianas adotaram a infecção prévia como alternativa à vacina em algumas circunstâncias. 

O caso acendeu o alerta de Patrick Franzoni, coordenador da unidade anti-Covid de Bolzano, cidade italiana perto da fronteira com a Áustria. Segundo o profissional de saúde, grupos de jovens e idosos estavam participando de "festas do coronavírus" para tentar se infectar propositalmente e não precisar se vacinar, o que amplia os riscos para os infectados e as pessoas do convívio próximo.

Prêmio para infectados no Alabama (EUA)

Já o estado do Alabama, nos Estados Unidos, foi palco de competições organizadas por estudantes universitários logo no primeiro ano da pandemia, em julho de 2020. Em eventos com entrada privativa, as pessoas que se contraíssem a Covid primeiro recebiam prêmios em dinheiro. As informações são do Estado de Minas.

Especificamente em Tuscaloosa, Alabama, cidade com cerca de 100 mil habitantes, a disputa entre os participantes para propositalmente se contaminar ocorreu em múltiplos eventos e localidades. O "vencedor" da disputa recebia um valor em dinheiro arrecadado com as entradas do evento

"No início, pensamos que eram rumores. Mas fizemos algumas investigações, médicos confirmaram e o Estado também confirmou que tinha a mesma informação".
Sonya McKinstry
Vereadora

Entre o início da pandemia e o mês de julho de 2020, o Alabama contabilizou 995 mortes decorrentes da Covid-19 e aproximadamente 39 mil contaminações, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins

“Covid Party” no Texas (EUA)

Também em julho de 2020, o portal de comunicação francês France 24, noticiou a morte de um estadunidense de 30 anos, natural do Texas, por conta da doença. O homem contraiu o vírus após ir a uma confraternização intitulada “Covid Party”, organizada por um anfitrião já infectado pelo coronavírus. 

Na matéria, a médica responsável pelo atendimento de casos da doença no Methodist Hospital de San Antonio, Jane Appleby, relatou que o homem acreditava que o vírus era uma “farsa”, apesar de, na época, os Estados Unidos contabilizar mais de 135 mil mortes pela Covid. 

"Uma das coisas que foi de partir o coração que ele disse à enfermeira foi: 'Sabe, acho que cometi um erro'. Ele achava que a doença era uma farsa. Ele achava que era jovem e invencível, e que não seria afetado pela doença."
Jane Appleby
Médica

A médica ainda detalhou que muitos pacientes jovens normalmente não percebiam quão grave estavam ao chegar nos hospitais. "Eles não pareciam realmente doentes. Mas quando você verificava seus níveis de oxigênio e seus testes de laboratório, eles realmente estavam mais doentes do que pareciam", relatou.

Da festa à UTI no Canadá

Em setembro de 2021, moradores da cidade de Edson, em Alberta, no Canadá, foram internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após participarem de uma “festa da Covid”. Segundo a Forbes, os foliões tinham ido ao encontro com a intenção específica de contrair o Covid-19 para obter “imunidade natural” contra o vírus SARS-CoV2.

Porém, muitos deles acabaram internados no hospital, alguns necessitando dos serviços de UTI, em Edmonton, capital da província de Alberta. Para a Forbes, o médico de doenças infecciosas e professor assistente da Universidade de Alberta, Dr. Ilan. Schwartz, relatou frustração. 

“Estou desmoralizado e furioso porque as pessoas intencionalmente adicionam combustível ao inferno, arriscando a transmissão para outras pessoas e potencialmente indo para a UTI em um momento em que temos literalmente um punhado de leitos para toda a província”.
Dr. Ilan. Schwartz
Médico Infectologista.

“Não há vantagem em se contaminar de propósito”

Para a médica infectologista Mônica Façanha, coordenadora da Graduação em Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse movimento de tentar ganhar imunidade por meio da contaminação pode ser motivada pelo antigo hábito de mães levarem os filhos para se contaminar com o vírus da catapora

“Mas a catapora dá imunidade permanente, porque quando você tem uma vez, não vai ter catapora de novo. Então, possivelmente, pensando nisso, as pessoas achavam que se contaminassem com o vírus da Covid, ficariam imunes. Mas desde 2020 a gente sabe que a Covid não dá imunidade natural”.
Mônica Façanha
Infectologista

A médica relembra que a pessoa não fica protegida contra uma nova infecção e que há sempre o risco do quadro de saúde agravar para casos mais sérios. “Não há vantagem em se infectar de propósito. Se a pessoa quer se imunizar, tome a vacina. É mais seguro, mais prático e tem a certeza que vai ter uma quantidade de antígeno predefinido”.