Um grupo de cientistas conseguiu "ressuscitar" células e órgãos de porcos mortos. De acordo com um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (3), os especialistas fizeram retomar o fluxo sanguíneo e o funcionamento por algumas horas de células do corpo dos animais que morreram pouco tempo antes.
Em 2019, a equipe de pesquisadores nos Estados Unidos havia conseguido restaurar a função celular do cérebro de porcos horas após sua decapitação. Já nesta última pesquisa, os mesmos cientistas tentaram estender a técnica a todo o corpo do animal.
Como acontece o processo
Os cientistas provocaram um ataque cardíaco em porcos anestesiados, interrompendo o fluxo sanguíneo e privando suas células de oxigênio (sem oxigênio, as células dos mamíferos morrem).
Uma hora depois, as carcaças foram injetadas com um líquido contendo o sangue dos porcos (retirado enquanto estavam vivos) e uma forma sintética de hemoglobina, a proteína transportadora de oxigênio nos glóbulos vermelhos.
Os cientistas também injetaram substâncias que protegem as células e impedem a formação de coágulos sanguíneos. O sangue começou a fluir novamente e muitas células voltaram a funcionar, inclusive em órgãos vitais como coração, fígado e rins, nas seis horas seguintes.
Processo pode "salvar órgãos"
"Essas células estavam funcionando horas depois, quando não deveriam estar funcionando. Isso mostra que você pode impedir a morte de células", disse Nenad Sestan, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Yale, em entrevista coletiva.
Sob o microscópio, era difícil distinguir um órgão normal e saudável de um órgão tratado pós-morte, acrescentou o coautor do estudo David Andrijevic, também de Yale.
A equipe espera que a técnica, batizada de OrganEx, possa ser usada para "salvar órgãos" prolongando sua função. Isso poderia salvar a vida de pessoas à espera de um transplante.
De acordo com Anders Sandberg, da Universidade de Oxford, a OrganEx também pode permitir novas formas de cirurgia, dando aos "médicos mais margem de manobra". A técnica, no entanto, levanta uma série de questões médicas, éticas e até filosóficas.
Poderia, por exemplo, "aumentar o risco de que as pessoas ressuscitadas não consigam sair do suporte de vida", alertou Brendan Parent, bioeticista da Grossman School of Medicine da Universidade de Nova York, em um comentário publicado em paralelo pela Nature.