Cérebro de mosca é mapeado em estudo inédito e mais de 140 mil neurônios são analisados

Segundo cientistas, mapeamento pode auxiliar em futuras descobertas sobre distúrbios mentais

O cérebro completo de uma mosca-das-frutas foi analisado por cientistas do MRC Laboratory of Molecular Biology e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Essa é a primeira vez que um animal capaz de andar e enxergar teve o órgão mapeado, coletando dados que podem elucidar como circuitos neurais de outros seres funcionam.

Quase 140 mil neurônios foram estudados em um órgão de apenas um milímetro, todos eles conectados por mais de 150 metros de fiação. Segundo o estudo, o comprimento é maior do que quatro baleias-azuis uma atrás da outra. Ao todo, foram registradas 50 milhões de conexões.

Um dos pontos abordados pelos pesquisadores foi de como os sinais sensoriais fluem pelo cérebro e o levam a produzir comandos. Outra ação consistiu na criação de uma simulação de computador do cérebro completo da mosca.

"As moscas podem realizar vários tipos de atividades complexas, como caminhar, voar, se orientar, e os machos cantam para as fêmeas. Diagramas de fiação cerebral são um primeiro passo para entender tudo o que nos interessa — como controlamos nossos movimentos, atendemos o telefone ou reconhecemos um amigo", explicou Gregory Jefferis, do MRC Laboratory of Molecular Biology e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

A colaboração internacional inclui 76 laboratórios e 287 pesquisadores em todo o mundo, além de voluntários. Os resultados das análises foram publicados na revista Nature nesta quarta-feira (2), além de colocados em um banco público e gratuito para permitir o desenvolvimento de outras pesquisas.

Longo mapeamento

A iniciativa de mapeamento começou em 2013, com Davi Bock. O neurocientista do Janelia Research Campus do Instituto Médico Howard Hughes na Virgínia (Estados Unidos), junto dos colegas de pesquisa, mergulhou o cérebro de uma mosca adulta em um banho químico, endurecendo-o em um bloco sólido. Em seguida, cortaram uma camada extremamente fina do topo do bloco e usaram um microscópio para tirar fotos dele.

Mais de 21 milhões de imagens foram registradas por eles, que também desenvolveram um software para interpretar as imagens. A programação consistia no reconhecimento das seções transversais dos neurônios em cada imagem.

Agora, a pesquisa cresceu. "No futuro, esperamos que seja possível comparar o que acontece quando algo dá errado em nossos cérebros, como em condições de saúde mental", disse Mala Murthy, da Universidade de Princeton e uma das colíderes da pesquisa.

Uma das principais descobertas aponta que 0,5% dos neurônios possuem variações que podem causar conexões incorretas. Assim, no futuro, talvez seja possível pesquisar se essas mudanças estão conectadas à individualidade ou a distúrbios cerebrais.