Coceira na região anal, sangue nas fezes, nodulação anal dolorosa ou sensação de “inchaço” são sintomas comuns das hemorroidas. Segundo estudos de cientistas norte-americanos, 75% da população irá experimentar, em algum momento da vida, um sintoma associado à doença hemorroidária.
Afetando igualmente homens e mulheres, a doença pode se manifestar em qualquer idade, mas com pico de incidência entre 45 e 65 anos, informa a médica coloproctologista Carla Camila Rocha*. A especialidade médica cuida de doenças do cólon, reto e ânus.
Uma das enfermidades mais pesquisadas na internet, a doença hemorroidária é responsável por mais de 3 milhões de consultas ambulatoriais por ano nos Estados Unidos.
Outras patologias da região anorretal podem apresentar sintomas semelhantes. O mais indicado é procurar o médico especialista.
"Embora comum, sua real prevalência é subestimada, devido às dificuldades de um diagnóstico preciso pelo médico não especialista e pela omissão do paciente, que oculta ou minimiza seus sintomas, muitas vezes por pudor, medo ou desconhecimento, e acaba optando pela automedicação", afirma a especialista.
O que é hemorroida?
Hemorroida é uma espécie de “almofada” vascular especializada, formada por veias, arteríolas, tecido conectivo e músculo liso, que estão presentes no canal anal normal.
Quando ocorre a degeneração e dilatação dessa “almofada”, o paciente desenvolve a doença hemorroidária e começa a apresentar sintomas, define a médica.
De acordo com a sua localização, as hemorroidas podem ser classificadas em:
Externas
São revestidas por pele e localizam-se na borda do ânus, podendo causar sintomas que incluem coceira, dor (quando estão inflamadas ou trombosadas) e dificuldade de higiene. São mais facilmente identificáveis, pois podem ser detectadas por meio de uma visualização direta da região anal.
Internas
Originalmente estão localizadas dentro do ânus e, dessa forma, só são vistas pela inspeção, quando são grandes o suficiente para saírem pelo ânus (prolapso). Caso contrário, ficam “escondidas” dentro do canal anal, necessitando de um exame mais detalhado e especializado.
Sintomas
De acordo com a especialista, os sintomas são variáveis, a depender da localização e estágio da doença hemorroidária, mas incluem:
- Sangramento vermelho vivo e indolor
- Sensação de prolapso e/ou protusão de nodulação anal
- Coceira
- Dificuldade de higiene
- Muco
- Sensação de pressão retal
- Desconforto anal
Pacientes com hemorroidas mais graves, como trombose hemorroidária externa e hemorroidas internas estranguladas, podem apresentar dor e nodulação na borda anal.
"Importante ressaltar que é incomum que pacientes com hemorroidas não complicadas manifestem qualquer dor anal. Portanto, a dor anal intensa deve levantar a suspeição de outras doenças anorretais", alerta a profissional.
Tratamento
O tratamento inicial envolve medidas comportamentais que reduzam o esforço evacuatório, dieta rica em fibras (frutas, verduras e cereais), aumento da ingestão de líquidos e atividade física regular.
"Algumas orientações como não ficar muito tempo sentado no vaso sanitário (lendo revistas ou utilizando o celular), evitar o uso de papel higiênico, abuso de alimentos apimentados e de bebida alcoólica também são importantes", indica Carla Camila.
O coloproctologista poderá prescrever, de acordo com o caso, pomadas anestésicas e/ou medicações orais que incluem anti-inflamatórios ou venotônicos e orientar a realização do banho de assento.
"Para os casos refratários ao tratamento inicial, existem outros tratamentos ambulatoriais como ligadura elástica, escleroterapia, crioterapia, entre outros. Devido à superioridade nos resultados da ligadura elástica, com menor recidiva dos sintomas, baixo risco de complicações, facilidade e rapidez de realização, os demais métodos ambulatoriais estão em desuso", explica a especialista.
Cirurgia
A cirurgia é indicada para refratários ao tratamento clínico e em algumas hemorroidas complicadas com estrangulamento e/ou trombose.
O tratamento cirúrgico pode incluir e associar técnicas como a hemorroidectomia excisional clássica, hemorroidopexia grampeada e a desarterialização hemorroidal transanal (THD).
O coloproctologista especializado irá avaliar cada caso e propor, de forma individualizada, a melhor terapêutica cirúrgica.
Quais os fatores de risco para desenvolver a doença?
O esforço evacuatório associado à constipação e/ou à diarreia crônica é considerado um dos principais fatores de risco.
No entanto, pacientes que frequentemente fazem manobra de Valsalva (prensa abdominal), como portadores de tosse crônica ou como levantadores de peso excessivo, seja associado à atividade física (Crossfit, musculação, halterofilismo) ou ocupacional, também podem estar em risco.
Gestação, sobrepeso, ficar muito tempo sentado no vaso sanitário e idade mais avançada são outros fatores relacionados.
Perguntas frequentes
Como saber se estou com hemorroida?
Procurar um médico especialista é a melhor opção para definir um diagnóstico preciso. O coloproctologista irá não apenas diagnosticar, mas esclarecer dúvidas, dar orientações e propor o tratamento mais adequado para cada paciente.
Hemorroida causa cansaço nas pernas?
Não. Paciente com doença hemorroidária frequente apresenta fatores de risco como obesidade e sedentarismo, que também são fatores de risco para o desenvolvimento de insuficiência venosa periférica, as populares varizes nas pernas, e, essas sim, podem causar sintomas de cansaço nas pernas.
Hemorroida dá febre?
Febre não é um sinal comum da doença hemorroidária não complicada. Pode se apresentar em situações de infecção e formação de abscessos decorrentes de uma doença hemorroidária complicada ou de outras doenças da região anorretal. Em situações de febre associada a dor anal, o indicado é procurar imediatamente atendimento médico.
O que não fazer quando se está com hemorroidas?
Dieta pobre em fibras, consumo excessivo de alimentos apimentados, abuso de bebidas alcoólicas, esforço evacuatório e levantamento de peso excessivo devem ser evitados. A automedicação, como aplicação de pomadas à base de mentol e asseios com vinagre, também não está indicada.
*Carla Camila Rocha é médica coloproctologista graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) com residência em coloproctologia pelo Hospital Universitário Walter Cantídio; especialista da Sociedade Brasileira de Coloproctologia; mestre em ciências médico-cirúrgicas pela UFC; preceptora da residência médica de cirurgia do Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC e coloproctologista do serviço de cirurgia do Hospital José Martiniano de Alencar.