O reto é a porção final do intestino grosso, a seção do trato digestivo acima do ânus. A maioria dos pacientes que se submetem a cirurgias no reto são para o tratamento do câncer colorretal.
A abordagem cirúrgica preferida, sempre que possível, é a minimamente invasiva, seja por meio de laparoscopia ou cirurgia robótica, técnicas que permitem a realização do procedimento por meio de pequenos cortes abdominais de cerca de 1 a 2 centímetros, explica André Nunes, cirurgião-geral e do aparelho digestivo, e chefe do serviço de Cirurgia Geral do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), em entrevista ao Diário do Nordeste.
Segundo o especialista, pode ser necessário um corte ao redor do ânus em casos mais complexos. Quando o tumor apresenta maior extensão, um corte maior no abdome pode ser requisitado para garantir a segurança e a eficácia do procedimento.
Recentemente, a cantora Preta Gil revelou que foi submetida a uma cirurgia para amputar o reto durante o tratamento contra o câncer. A artista enfrenta a doença desde janeiro de 2023 e, meses após a recuperação, voltou a ser diagnosticada com quatro tumores em lugares diferentes. A artista retomou o tratamento oncológico em agosto após recidiva da doença.
O que é câncer colorretal?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCOO), o câncer colorretal atinge a região que vai do intestino grosso ao reto e origina-se, de forma mais comum, a partir do desenvolvimento de pólipos - lesões benignas causadas pelo crescimento de tecidos nas paredes internas do intestino.
A doença está fortemente relacionada com maus hábitos alimentares e possui uma incidência alta no Brasil, com mais de 40 mil novos casos e cerca de 20 mil mortes todos os anos. Se o câncer for diagnosticada a tempo, o tratamento tem grandes chances de cura.
Como é feita a cirurgia do reto?
O tipo de cirurgia no reto, que pode ser realizada para tratamento de câncer, depende da localização do tumor em relação ao esfíncter anal, estrutura muscular que mantém o ânus fechado e participa da continência do intestino, esclarece o médico André Nunes.
"Nos casos em que o tumor se encontra a uma distância considerável do esfíncter, a cirurgia visa a completa remoção do câncer e preservação da integridade funcional dessa musculatura. Para tumores mais próximos ou que envolvam o esfíncter, pode ser necessária a realização de uma cirurgia para retirada completa do reto e do ânus", detalha o profissional.
Quanto tempo dura o procedimento?
O tempo médio das cirurgias do reto é de cerca de 2 a 3 horas, no entanto, o tempo da cirurgia está relacionado com a extensão da doença. Em casos mais avançados, nos quais o câncer atinge órgãos próximos, a cirurgia pode se estender por um período mais longo.
Para quem a cirurgia é indicada?
O cirurgião-geral afirma que a maioria dos pacientes que se submetem a cirurgias no reto são para tratamento de câncer. No entanto, pacientes com enfermidades benignas, como a doença inflamatória intestinal, ou que apresentem sequelas de radioterapia, também podem precisar de procedimentos cirúrgicos no reto.
Tumor retal tem cura?
Sim, e quanto mais cedo ele for identificado, maiores são as chances de cura. André Nunes explica que, quando o tumor é tratado em estágios iniciais, as chances de cura são acima de 90%. Já em casos mais avançados, em que a doença já se espalhou para tecidos próximos ou para órgãos distantes (metástases), a chance de cura cai para menos de 30%.
Para os cânceres de cólon e reto, existem diversas opções de tratamento multidisciplinar, que permitem um bom controle da doença, mesmo em estágios avançados. O diagnóstico precoce representa a melhor chance de cura para qualquer tipo de câncer.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica informa que, quando descoberto na fase inicial, a cirurgia é a principal forma de tratamento, podendo ou não ser combinada com outras abordagens como a quimioterapia e a radioterapia. Para cada situação, haverá a melhor indicação conforme a análise da equipe médica que acompanha cada paciente.
Como vive o paciente que retirou parte do reto?
O paciente que necessita de cirurgia com retirada apenas parcial do reto tem grandes chances de ter uma vida normal após a recuperação. Quanto maior a parte do reto for preservada, maiores as chances de o intestino funcionar de forma semelhante ao que era antes da cirurgia.
Já os pacientes que necessitam retirar o reto por completo, mas que o ânus é preservado, as chances de mudanças nos hábitos intestinais são maiores, como a Síndrome Pós-Ressecção Anterior Baixa (LARS), que pode causar aumento na frequência e urgência para evacuar, além de incontinência para gases e fezes.
Como é o pós-operatório da amputação do reto?
O paciente que necessita da cirurgia de amputação do reto (amputação abdominoperineal) realiza um procedimento mais extenso, que envolve a retirada tanto do reto quanto do ânus, e complicações como infecções podem ocorrer.
"Neste caso, é feita uma cirurgia no períneo, a área localizada entre os órgãos genitais e o ânus, e toda esta região é fechada e cria-se uma colostomia definitiva, onde as fezes são eliminadas por uma abertura no abdome. As complicações mais comuns estão relacionadas a infecções no local da cirurgia no períneo", sublinha o cirurgião do HGF.
Com o uso de técnicas minimamente invasivas, a recuperação após a cirurgia é cada vez mais rápida, permitindo que o paciente retome suas atividades normais mais cedo.
Quais os cuidados indicados para a recuperação?
Uma boa recuperação após a cirurgia no reto depende da disciplina do paciente em seguir todas as recomendações médicas como:
- Tomar os medicamentos prescritos pelo especialista;
- Respeitar o tempo de repouso adequado;
- Evitar atividades físicas intensas;
- Cuidar das feridas cirúrgicas, mantendo-as limpas e protegidas.
Essas medidas são fundamentais para uma recuperação rápida e sem complicações. Além disso, a prevenção é sempre o melhor caminho, aconselha André Nunes. "Seguir as recomendações médicas de acompanhamento e prevenção pode evitar problemas futuros. Em caso de dúvidas, é importante procurar o médico para esclarecer todas as questões e garantir que o tratamento seja o mais eficaz possível", finaliza o especialista.