Diário do Nordeste

Banho de lua pode ser fator de risco para câncer, diz pesquisa da UFC

Estudo foi motivado por história de paciente sem histórico de câncer na família que morreu devido a uma síndrome mielodisplásica. Ela fazia banho de lua semanalmente

Escrito por
Luana Severo luana.severo@svm.com.br
(Atualizado às 18:00, em 14 de Janeiro de 2025)
Braços femininos passando descolorante de pelos em praia

Uma pesquisa produzida na Universidade Federal do Ceará (UFC) concluiu que pessoas que se submetem a procedimentos de banho de lua — tratamento estético para clareamento dos pelos — estão propensas a desenvolver leucemia (câncer de medula) e síndrome mielodisplásica, um distúrbio referente à produção de células sanguíneas.

O estudo foi feito no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas e é assinado pela doutoranda Letícia Rodrigues e pelo professor Ronald Feitosa, da Faculdade de Medicina da UFC. "Alguns estudos já indicavam uma possível associação entre o uso dessas substâncias com câncer de medula óssea. Agora, nosso trabalho trouxe mais indícios de que a combinação peróxido de hidrogênio e amônia pode ser fator de risco para o câncer", afirma Letícia.

O peróxido de hidrogênio nada mais é do que a água oxigenada utilizada para descolorir os pelos. "Temos um alerta para a comunidade científica. São indícios fortes de que o banho de lua pode induzir alterações no DNA e na medula óssea, o que pode levar a uma leucemia aguda", reforçou o professor Ronald Feitosa, que orientou o trabalho.

Letícia Rodrigues e Ronald Feitosa posam para a foto sorrindo. Os dois estão usando jaleco e crachá da UFC. Ela é uma jovem branca e de longos cabelos loiros. Ele é um homem de meia idade, barba rala e calvo. Os dois usam óculos

Prevenção

Os pesquisadores são categóricos ao afirmar que a possibilidade não significa que, necessariamente, alguém que fez banho de lua irá desenvolver câncer. No entanto, eles alertam para que as pessoas que se submetem a esses tratamentos estejam atentas para a frequência e a concentração de água oxigenada e amônia utilizadas. 

"É bom evitar o uso do banho de lua e de outros procedimentos que utilizem essas substâncias químicas, como a tintura", comenta Letícia. O procedimento, inclusive, tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas há um parecer técnico publicado em 2020 pelo órgão que estabelece critérios para a aplicação. 

>> Veja o parecer técnico da Anvisa sobre o uso de produtos cosméticos para clareamento de pelos

Aplicado de diversas maneiras e em diferentes espaços, desde o banheiro de casa até lajes, praias e clínicas de estética, o banho de lua é considerado potencialmente prejudicial de qualquer jeito, uma vez que o fator de risco é a exposição da solução sobre a pele. No entanto, inalar o produto em ambientes fechados, bem como aplicá-lo em exposição ao sol, podem ser fatores agravantes.

"Não há, entretanto, estudos conclusivos que tenham realizado essa comparação entre os riscos do uso da solução em ambientes fechados e em contato com os raios solares. É algo que ainda precisa ser analisado cientificamente", pondera Letícia.

Caso que motivou a pesquisa

Segundo a UFC, a pesquisa teve início em 2019, quando o professor Ronald teve contato com uma paciente de 22 anos com síndrome mielodisplásica hipoplásica, cuja medula não conseguia mais produzir células sanguíneas, e que não tinha nenhum caso de câncer na família. A jovem morreu pouco tempo depois, deixando um filho de seis meses.

Um fato na história da mulher, porém, chamou a atenção do pesquisador: ela havia relatado que fazia banho de lua semanalmente, por períodos de até quatro horas.