Banho de lua pode ser fator de risco para câncer, diz pesquisa da UFC

Estudo foi motivado por história de paciente sem histórico de câncer na família que morreu devido a uma síndrome mielodisplásica. Ela fazia banho de lua semanalmente

Uma pesquisa produzida na Universidade Federal do Ceará (UFC) concluiu que pessoas que se submetem a procedimentos de banho de lua — tratamento estético para clareamento dos pelos — estão propensas a desenvolver leucemia (câncer de medula) e síndrome mielodisplásica, um distúrbio referente à produção de células sanguíneas.

O estudo foi feito no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas e é assinado pela doutoranda Letícia Rodrigues e pelo professor Ronald Feitosa, da Faculdade de Medicina da UFC. "Alguns estudos já indicavam uma possível associação entre o uso dessas substâncias com câncer de medula óssea. Agora, nosso trabalho trouxe mais indícios de que a combinação peróxido de hidrogênio e amônia pode ser fator de risco para o câncer", afirma Letícia.

O peróxido de hidrogênio nada mais é do que a água oxigenada utilizada para descolorir os pelos. "Temos um alerta para a comunidade científica. São indícios fortes de que o banho de lua pode induzir alterações no DNA e na medula óssea, o que pode levar a uma leucemia aguda", reforçou o professor Ronald Feitosa, que orientou o trabalho.

Prevenção

Os pesquisadores são categóricos ao afirmar que a possibilidade não significa que, necessariamente, alguém que fez banho de lua irá desenvolver câncer. No entanto, eles alertam para que as pessoas que se submetem a esses tratamentos estejam atentas para a frequência e a concentração de água oxigenada e amônia utilizadas. 

"É bom evitar o uso do banho de lua e de outros procedimentos que utilizem essas substâncias químicas, como a tintura", comenta Letícia. O procedimento, inclusive, tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas há um parecer técnico publicado em 2020 pelo órgão que estabelece critérios para a aplicação. 

>> Veja o parecer técnico da Anvisa sobre o uso de produtos cosméticos para clareamento de pelos

Aplicado de diversas maneiras e em diferentes espaços, desde o banheiro de casa até lajes, praias e clínicas de estética, o banho de lua é considerado potencialmente prejudicial de qualquer jeito, uma vez que o fator de risco é a exposição da solução sobre a pele. No entanto, inalar o produto em ambientes fechados, bem como aplicá-lo em exposição ao sol, podem ser fatores agravantes.

"Não há, entretanto, estudos conclusivos que tenham realizado essa comparação entre os riscos do uso da solução em ambientes fechados e em contato com os raios solares. É algo que ainda precisa ser analisado cientificamente", pondera Letícia.

Caso que motivou a pesquisa

Segundo a UFC, a pesquisa teve início em 2019, quando o professor Ronald teve contato com uma paciente de 22 anos com síndrome mielodisplásica hipoplásica, cuja medula não conseguia mais produzir células sanguíneas, e que não tinha nenhum caso de câncer na família. A jovem morreu pouco tempo depois, deixando um filho de seis meses.

Um fato na história da mulher, porém, chamou a atenção do pesquisador: ela havia relatado que fazia banho de lua semanalmente, por períodos de até quatro horas.