Soldado da PM nega participação na Chacina do Curió e não responde perguntas da acusação em júri

Wellington Veras Chagas chegou a ficar nove meses preso e negou ter participado das buscas aos suspeitos da morte de um PM, um dos episódios que culminou na chacina

Terceiro réu a ser interrogado no Júri do Curió, o soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Wellington Veras Chagas, 35, negou participação nas mortes na Grande Messejana e não quis responder às perguntas da acusação nesta quinta-feira (22). O policial de 35 anos passou nove meses preso sob acusação de participação no caso. 

Na tarde desta quinta, ele depôs ao Colegiado de Juízes e contou que no dia dos assassinatos estava em casa quando soube das ocorrências. O agente disse ter sido informado que balearam o policial Serpa — caso que teria levado culminado na Chacina — e, mesmo sem conhecê-lo, quis "prestar solidariedade" no Frotinha da Messejana.

Segundo a acusação, a placa do carro que ele usou para circular pela região da Messejana foi adulterada. Ao júri, ele disse que seu carro "costumava ficar do lado de fora" e que se as placas foram adulteradas "foi alguém que fez" e não ele. 

"Eu, em espírito solidário que eu tinha, fui até o Frotinha da Messejana, não lembro a hora. Estava sozinho, desarmado, celular ficou em casa. Fui ao Frotinha ver o que tinha acontecido com o policial baleado e levado pra lá", apontou 

O soldado comentou que "não foi o primeiro PM por quem saí de casa para prestar solidariedade". À época do crime, ele estava há dois anos na PMCE e atuava na área do bairro Parque Dois Irmãos. 

Relação com morte que motivou chacina 

Ainda no interrogatório nesta tarde, o PM negou conhecer o colega de farda Marcílio Costa de Andrade, apontado como um dos autores da morte do adolescente Francisco de Assis de Moura de Oliveira Filho, o 'Neném'. Esse crime é tido com o primeiro acontecimento de episódios que culminaram na Chacina do Curió. 

Apesar da negativa, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), no processo de acusação, acredita que o policial "exibiu versões repletas de contradições" e "não agiu com ímpeto de colaborar com a Justiça na apuração dos fatos criminosos", sob suspeita que "agiu não só para se vingar da morte do policial Serpa, e também, para prestar, no seu juízo de valor, apoio ao policial Marcílio, participando ativamente das ações delituosas".

'Silêncio' 

Antes de encerrar sua fala para o Colegiado de Juízes, o PM Wellington disse que é inocente.  "Os fatos atribuídos a mim não são verdadeiros" 

Após isso, foi a vez das perguntas da acusação, mas ele se manteve em silêncio e optou por não respondê-los. Assim, a defesa dos réu, representada pela advogada Fabrícia de Castro, entrou e começou os questionamentos. 

Defesa

A defesa de Wellington apresentou a tese de que durante a investigação o réu não foi chamado para reconhecimento facial e nem teve a arma recolhida para passar por comparação balística com os projéteis encontrados nos corpos das vítimas da chacina. 

'Eu achei que ia ser impronunciado, não tem nada contra mim, mas estou aqui até hoje. Até hoje o Ministério Público não diz como foi que matei alguém. E aqui estou hoje no banco dos réus", diz o réu. 

Último interrogatório 

O último interrogatório do primeiro julgamento foi o do soldado da PMCE Ideraldo Amâncio, apontado pela acusação como o dono do carro Siena Preto, visto pelas vítimas no dia da chacina e usado para cometer as execuções. Ele negou autoria nos assassinatos e disse que estava em casa. 

Ele era PM há dois anos à época e afirmou que nunca prestou serviço na Messejana. Assim como o réu anterior, disse que soube da morte do policial Serpa somente depois e por meio de um grupo de WhatsApp. 

Assim como o soldado Wellington, Ideraldo ficou preso nove meses. Ele testemunhou na Delegacia de Assuntos Internos (DAI) em 2016 e disse que só conheceu o PM Marcílio quando ficou encarcerado no presídio militar. Na hora das perguntas da acusação e dos assistentes de acusação, Amâncio se manteve em silêncio.