Um casal denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por matar e ocultar o corpo de um bebê, porque não aceitava a gestação, deve ser ouvido em audiência de instrução no próximo dia 4 de julho. Jamile Rolim da Silva e o pastor Antônio José Cardoso Cunha foram acusados pelo crime, no fim de 2021.
De acordo com documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o casal mantinha relacionamento extraconjugal e tentou abortar o feto. Aos oito meses de gestação, Jamile tomou remédio com propriedades abortivas e a criança foi expelida precocemente, mas ainda com vida. Segundo a investigação, quando a mulher se deparou com o filho vivo, teria asfixiado a criança provocando nela lesões corporais.
O pastor é suspeito de incentivar a manobra abortiva, conforme a denúncia do MP a qual a reportagem também teve acesso. Quando o homem foi informado sobre a morte da criança, supostamente tentou se livrar do cadáver jogando-o em um bueiro na cidade de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
A defesa de Jamile pediu que ela passasse por perícia psiquiátrica sob alegação de insanidade mental na época dos fatos. Até o momento, não há informações sobre o que aponta o laudo.
A reportagem apurou que ainda no mês de dezembro a Justiça acolheu a denúncia contra o casal, os tornando réus. A denúncia do MPCE traz detalhes sobre o caso. De acordo com o órgão acusatório, a motivação do crime foi torpe "traduzindo baixeza moral repugnante".
"A delatada era membro de uma igreja evangélica liderada pelo autor, vindo a com ele estabelecer um relacionamento extraconjugal, já que é ele casado. Descobrindo-se grávida, Jamile comunicou o fato a Antônio, tendo este passado a lhe informar sobre a existência do abortivo, inclusive se comprometendo a ressarcir Jamile caso a mesma o adquirisse", diz trecho do documento obtido pela reportagem.
A defesa de Jamile disse que "o fato narrado na denúncia não corresponde a realidade fática, reservando-se o direito de apresentar em audiência todos os fatos e provas que atestam sua inocência".
A reportagem entrou em contato com o advogado de defesa do pastor, que disse preferir se posicionar apenas nos autos: "a participação dele foi apenas na ocultação de cadáver e não no suposto homicídio nem no induzimento ao aborto", afirmou o advogado.
INVESTIGAÇÃO
O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Harley Filho, apontou que as investigações começaram após os agentes receberem a informação de que a mulher foi atendida em um hospital, ao qual se dirigiu machucada após realizar o aborto.
A partir das investigações iniciais, os policiais chegaram aos nomes dos suspeitos e ao cadáver da criança.
O pastor morava com a esposa no primeiro andar de um imóvel, no qual também mantinha uma igreja no pavimento térreo. Nos fundos do local, ele possuía alguns cômodos, nos quais abrigava pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre homens e mulheres.