Tiros certeiros fizeram tombar quatro suspeitos de assalto. Os reféns João Batista, Vinícius, Cícero, Gustavo e Claudineide correm para se esconder dos tiros da PM no poste de luz ao lado do Bradesco. Deitam próximos à calçada. O que não atingiu o poste foi direto para a cabeça e outras partes dos corpos dos reféns. Às 2h36min58s, câmeras da Farmácia Coelho e do supermercado Burundanga mostram a composição liderada pelo capitão Azevedo disparando na direção da família. Os militares seguem avançando, até ficarem na distância da largura da rua estreita. Não mais que sete metros separavam os reféns dos fuzis. A equipe do capitão Azevedo vinha de outras ruas, conforme já estava planejado no grupo do WhatsApp criado horas antes para a operação: 12 homens divididos em três equipes avançariam para a frente dos bancos de diferentes ruas.
A equipe de Azevedo entrou pela rua Abílio Cruz, dobrou à esquerda na Rua Joaquim Furtado, entrando à direita pela rua Almir Braga até a Prefeitura. A essa altura, os suspeitos do assalto estavam em movimentação na frente das agências. A rua continua, com o nome de Esmeraldo da Silva. Pronto: já estão no raio da cena principal do crime. Com o cabo Costa na retaguarda, capitão Azevedo, cabo Silva e sargento Carmo tinham possibilidade de disparo à frente. A equipe vê duas caminhonetes paradas na frente dos bancos e o sistema de fumaça do Bradesco acionado.
Equipe avança
Azevedo ordena a Silva que avance até uma árvore na praça da Prefeitura; no mesmo instante, o capitão vê o veículo Ranger (pertencente à família de Pernambuco) sair do local. Na esquina da Farmácia Santa Cecília, um dos suspeitos é morto por outra equipe, a do major Cavalcante. Um outro suspeito de assalto teria aparecido atirando pela retaguarda da equipe de Azevedo. Costa, então, atira, mas o homem foge. Ainda seguindo pela rua, a equipe vê um dos assaltantes com lanterna na mão - ele já tinha se afastado dos bancos após os primeiros disparos. Era Claudervan Santana de Araújo, que morre entre dois canteiros de flores, na frente da Prefeitura.
Não mais que dois minutos antes de matar todos os reféns, capitão Azevedo e equipe avançam pela calçada da Farmácia Coelho. Uma das câmeras mostra o oficial disparando na direção dos cinco reféns. As pessoas, poucas horas antes saídas do Aeroporto de Juazeiro do Norte, vindas de São Paulo para Serra Talhada (PE), estavam com roupas comuns e cara limpa, enquanto todos os assaltantes estariam encapuzados. "Não havia mais assaltantes vivos na cena do crime", aponta o relatório da Polícia Civil, ainda enfatizando que "no momento em que a equipe chega à posição dos disparos, a situação de confronto inexistia". Mesmo assim, insistiu em disparar na direção do poste.
2h40: várias composições começam a chegar para dar apoio na localização e prisão dos demais integrantes do grupo que fugiram.
3h04: chegada do carro do tenente Georges, secretário Municipal de Segurança em Milagres; 3h11: Abraão Sampaio, vice-prefeito, chega em seu veículo Amarok.
O relatório diz que tenente-coronel Henrique e o tenente Georges, com o vice-prefeito Abraão Sampaio, atuaram "no intuito de desconfigurar a cena do crime, no afã de dificultar o trabalho investigativo, uma vez que era perceptível, desde o início, que ali havia acontecido uma tragédia: vítimas reféns foram mortas pela ação policial".
Os embaraços teriam se seguido. A guia recebida do Hospital Municipal de Milagres informava que as mortes dos reféns (incluindo Edineide, morta dentro do Celta da família tomado pelos assaltantes em fuga) teriam se dado uma hora e 20 minutos após a ocorrência. A Perícia contesta, "uma vez que pelo aspecto externo do corpo, com grau de destruição da calota craniana encontrado, não se permite duvidar que o corpo tivesse sofrido morte instantânea mesmo a um leigo". Esperavam, menos ainda, essa sugestão de 'socorro' vinda do médico e vice-prefeito, que desde então afirma ter agido no intuito de socorrer as vítimas.
"Excludente de ilicitude"
O advogado Ricardo Valente Filho, do Conselho de Defesa do Policial no Exercício da Função (CDPEF), da Secretaria de Segurança, defende que a ação policial configura excludente de ilicitude. "Os policiais estavam de serviço. No cumprimento do dever legal. Foram recebidos a bala, precisavam agir". Sobre a situação dos reféns pernambucanos, Ricardo afirma que "elas não gritaram, não pediram socorro, não acenaram, sem comunicação verbal ou visual".