Entenda o que está por trás da 'guerra' entre facções e os ataques recentes a veículos em Fortaleza

A SSPDS montou uma rápida operação na região, com a atuação de pelo menos 170 policiais civis e militares

Uma guerra entre facções criminosas, na Zona Oeste de Fortaleza, foi acentuada pela morte de um suspeito, em uma intervenção policial. Como consequência, a capital cearense voltou a sofrer ataques criminosos: veículos de populares foram incendiados, na manhã desta quinta-feira (10).

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) montou uma rápida operação na região, com a atuação de pelo menos 170 policiais civis e militares, segundo o governador Elmano de Freitas. Até a edição desta matéria, 11 suspeitos foram capturados, dentre eles homens com extensa ficha criminal. 

A reportagem apurou, com fontes da Polícia, que já existiam vários pontos de confronto, entre pelo menos três facções, na Zona Oeste. Uma nova facção cearense tomou o território do Morro Santiago, na Barra do Ceará, que antes pertencia a uma facção carioca.

'GUERRA DE FACÇÃO'

A motivação para os tiroteios, mortes e ataques na região do Grande Pirambu foi causada pelo conflito entre facções, conforme o delegado Elcimar Rabelo, do 1º Distrito Policial (Monte Castelo), em entrevista ao vivo para a Verdinha.

 

Segundo o delegado, um dos responsáveis pelo tráfico de drogas na região foi assassinado e a partir daí houve um "racha" entre facções. Um dos integrantes teria rasgado a camisa de uma facção carioca e ido para uma facção cearense. Conforme apurado pelo Diário do Nordeste, o traficante morto era identificado pelo apelido de "B". 

Os dois grupos criminosos se digladiam, desde o fim do ano passado, em vários pontos da cidade. Na região, ainda há a presença de uma facção cearense antiga - que também entra em brigas para proteger os seus territórios.

Ao fim da tarde dessa quinta-feira (10), o titular da SSPDS, Samuel Elânio disse que: "todas as providências estão sendo adotadas. Os menores encaminhados para a DCA e os demais para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado. Não vamos recuar enquanto não realizarmos todas as prisões e apreensões".

DISPUTA PELO TRÁFICO

A nova facção cearense, com o apoio de armamento de uma facção paulista com atuação nacional, está em expansão em Fortaleza. E, nos últimos dias, o grupo tentou tomar também o domínio do Conjunto Habitacional Dom Hélder Câmara, conhecido como Carandiru (no bairro Jacarecanga) da outra facção local; e uma área na região da Colônia (bairro Cristo Redentor), que pertence à facção carioca. Quando a facção toma um novo território, vários moradores antigos são expulsos de suas residências.

Uma fonte ligada à Inteligência da Pasta disse à reportagem que há dois meses, quando aconteceu uma expulsão no Conjunto Palmeiras, a facção que está por trás dos ataques atuais intensificou sua expansão.

"A Massa tomou o Lagamar, a Aerolândia, tomou partes da Caucaia, como Potira, Araturi e Tabapauazinho. Nesse meio tempo, cade a Polícia? Cade a Segurança", questionou o agente, sobre a falta de antecipação das autoridades para prevenir ataques.

Homicídio e intervenção policial

Em uma dessas brigas, um homem foi assassinado no bairro Carlito Pamplona, na tarde da última quarta-feira (9). A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social confirmou a morte e a prisão de dois suspeitos de cometerem o homicídio. Com a dupla, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) apreendeu um revólver calibre 38 e munições.

Os suspeitos foram identificados como Jamerson Bruno Alves (20), com antecedentes por porte ilegal de arma de fogo, furto de veículo, receptação e histórico de atos infracionais análogos aos crimes de porte ilegal de arma de fogo, furto, roubo e crime contra a administração pública; e Wesley de Brito Ferreira (25), com antecedentes criminais por tráfico de drogas."
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
Em nota

A reportagem apurou que outro suspeito de participar do homicídio acabou morto, em um confronto com a Polícia Militar, nas proximidades do Carandiru, na noite da última quarta (9). Com ele, teria sido apreendida uma pistola calibre 9mm, com mira a laser, e várias munições.

O suspeito morto ocuparia uma função de chefia dentro de uma facção criminosa, o que teria sido a motivação final para os criminosos irem às ruas e atacarem veículos da população, como forma de "retaliação", segundo a principal linha de investigação dos ataques criminosos.

QUEM SÃO OS SUSPEITOS

"As primeiras capturas ocorreram ainda pela manhã, quando dois adolescentes, com idades de 14 e 17 anos, suspeitos de incendiar um veículo no bairro Carlito Pamplona, foram apreendidos por policiais militares. A dupla foi localizada no bairro Pirambu e conduzida para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde um procedimento análogo ao crime contra a incolumidade pública por causar incêndio foi registrado. Outro adolescente foi levado a uma unidade de saúde com queimaduras e está sob escolta policial", conforme a SSPDS.

Em seguida, outras cinco pessoas foram capturadas, em posse de pistolas e munições.

Na Barra do Ceará, um homem, identificado como Lindeson Nunes da Silva, de 33 anos, "foi preso em posse de drogas por equipes do 33º Distrito Policial (DP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE)".

"Ele foi autuado em flagrante por tráfico de drogas e integrar organização criminosa. Outro homem, identificado como Edequias Gonçalves de Oliveira, de 34 anos, foi preso por equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O homem é suspeito de envolvimento em homicídios na AIS 8".

No Pirambu, foram presos Paulo Anderson Vieira da Silva, em posse de maconha, cocaína, crack e 45 munições. 

Veículos são parados e incendiados

Motoristas que trafegavam por vias dos bairros Carlito Pamplona e Pirambu foram surpreendidos por criminosos, na manhã desta quinta-feira (10). Pelo menos três veículos foram incendiados, nas avenidas Dr. Theberge e Leste-Oeste e na Rua João Nogueira.

Os ataques criminosos também afetaram o comércio da região, que fechou durante horas; escolas, já que os pais de dezenas de alunos não levaram seus filhos para as aulas, por medo; e até uma agência da Caixa Econômica Federal (CEF), que foi fechada, também por motivo de segurança.