O mês de abril no Ceará foi de recorde de homicídios em um só mês, nos últimos quatro anos. Um total de 320 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) foram registrados, maior número mensal desde novembro de 2020, quando 343 pessoas morreram.
Os dados foram extraídos do portal da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará (Supesp-CE), órgão vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), nessa terça-feira (14).
O local com mais CVLIs, que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, foi a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), com 104. A Capital cearense vem em seguida, com 81 mortes violentas em abril. Até o momento, o Ceará já tem 1.139 homicídios em 2024 e já ultrapassou a parcial de igual período de 2023, quando entre janeiro e abril ocorreram 947 CVLIs, o que resulta em um aumento de 20% nos casos.
Procurada pela reportagem, a SSPDS informou que os trabalhos investigativos e preventivos resultaram na queda da taxa de latrocínios em 2023. Fortaleza teve a terceira menor taxa de crimes do tipo entre as 10 capitais mais populosas do Brasil, conforme a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda segundo a Supesp-CE, a maioria dos homicídios se deu pela noite (37,58%) e em dias de domingo (16.94%). Os tipos de crimes violentos se dividiram desta maneira:
- Feminicídio: 1,05%
- Homicídio doloso: 97,10%
- Lesão corporal seguida de morte: 0,18%
- Roubo seguido de morte (latrocínio): 1,67%
Fonte: Supesp-CE/Abril 2024
Durante os 30 dias de abril, diversos casos violentos foram destaque no Diário do Nordeste. No dia 23 de abril, um homem invadiu o Instituto Doutor José Frota (IJF) e matou e decapitou um funcionário. Já no dia 28, o vereador de Camocim, César Veras, morreu após ser esfaqueado em um restaurante.
No último dia 29, uma mulher morta em via pública enquanto estava ao lado da filha em uma moto, em Juazeiro do Norte. No dia seguinte, 30 de abril, um advogado foi assassinado a tiros na rua de sua casa, no Crato, com tiros de uma escopeta calibre .12.
'Gangorra de insegurança'
O cenário de violência no Ceará mostra uma "gangorra de insegurança", para o sociólogo e fundador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) César Barreira.
Ele analisa o recorde de abril como "preocupante" e pontua que convivemos há muitos anos com números elevados de homicídios, mas que estão sempre oscilando, como se fosse uma gangorra: "É uma instabilidade muito forte, com uma sensação de insegurança".
É um dado muito preocupante. Estamos há muito anos convivendo com uma taxa muito elevada de homicídios. Nós não podemos naturalizar essas taxas. É interessante ver o que proporcionou esse número, porque podem ter tido massacres, mas eu continuo batendo na tecla que temos que compreender esses homicídios, não adianta classificar eles somente como sendo disputa de facção, ou se a pessoa que morreu já tinha marcas no mundo do crime
Nos últimos dias, segundo a SSPDS, o secretário da Segurança tem participado de encontros com representantes da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) e da Polícia Militar do Ceará (PMCE), na Região Metropolitana de Fortaleza e Interior para ampliar o reforço de segurança nas regiões e entender as demandas.
Em 2024, até abril, os Crimes Violentos Letais intencionais estão assim:
- Janeiro: 284 mortes
- Fevereiro: 257 mortes
- Março: 278 mortes
- Abril: 320 mortes
Fonte: Supesp-CE
Foco em inteligência e pesquisa pode diminuir índices
Assim como a Secretaria da Segurança pontua, o sociólogo César Barreira também indica que é necessário focar no reforço de inteligência policial, e também em trabalhos de pesquisa. Segundo o pesquisador, "o uso mais racional do serviço de pesquisa e inteligência aponta para uma possível solução dessas taxas muito elevadas.
Em nota, a SSPDS informou que tem se esforçado para reduzir os indicadores de CVLIs: "Para tanto, é realizado um alinhamento entre o trabalho ostensivo, investigativo e de inteligência".
"A SSPDS ressalta também a atuação do Grupo Integrado de Inteligência e Investigação, composto por equipes dos setores de inteligências da SSPDS e da PCCE, com apoio da inteligência da Polícia Militar do Ceará (PMCE). O grupo realiza capturas, visando o fortalecimento do combate aos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) em todo o território cearense, uma vez que tem como uma de suas atribuições investigar e elucidar ocorrências de homicídios", diz a pasta.
Conforme a SSPDS, os trabalhos investigativos e preventivos resultaram na queda da taxa de latrocínios em 2023. Fortaleza teve a terceira menor taxa de crimes do tipo entre as 10 capitais mais populosas do Brasil, conforme a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).