O Sistema Penitenciário cearense voltou a registrar brigas, fugas e até um motim, nos últimos meses. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que houve uma intensificação da guerra entre as facções criminosas nos presídios, mas a Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP) nega.
A tensão chegou ao ponto de detentos promoverem um motim, na Unidade Prisional Professor Clodoaldo Pinto (UP-Itaitinga 2) - antiga CPPL 2, no dia 31 de janeiro deste ano. Segundo a SAP, policiais penais foram agredidos com garrafas cheias de água e objetos de dentro das celas e tiveram que agir "com uso diferenciado da força através de equipamentos não letais de elastômetro (bala de borracha) e bombas de efeito moral".
Cinco dias antes, 26 de janeiro último, um interno foi agredido por outros dois detentos, com um objeto perfurocortante, na Unidade Prisional Professor José Jucá Neto (UP-Itaitinga 3, antiga CPPL 3). A agressão foi filmada por câmeras do presídio.
Veja o vídeo da agressão:
A SAP afirma que "o episódio ocorreu no momento em que os detentos retornavam às suas celas, após atendimento jurídico corriqueiro. O ato foi interrompido pela rápida ação de policiais penais plantonistas da unidade".
O preso vitimado pelo ataque recebeu atendimento médico imediato e hoje se encontra com a saúde plena e recuperada. Por fim, a SAP destaca que os agressores já estão sob investigação, por mais este crime, através da Delegacia de Combate às Ações Criminosas (DRACO), em parceria com a Coordenadoria de Inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária."
A presidente do Conselho Penitenciário do Ceará (Copen) e coordenadora da Pastoral Carcerária no Ceará, advogada Ruth Leite Vieira, afirma que tem recebido informações que os episódios de violência têm se multiplicado nos presídios cearenses, nas últimas semanas, motivados pela intensificação da guerra entre facções.
"As famílias (dos presos) têm nos relatado que muitos incidentes têm acontecido, em razão de as facções ter voltado a se digladiar. As famílias estão apavorados, porque os presos estão misturados", afirma Ruth Vieira, referindo-se ao fim da separação das facções por presídios no Ceará.
A advogada acredita que o Sistema Penitenciário tem encontrado mais dificuldade de controlar as facções devido ao baixo efetivo de policiais penais, que inclusive foi desfalcado por uma grande quantidade de licenças para tratamento psiquiátrico.
A Secretaria da Administração Penitenciária rechaça a informação que a guerra entre as facções criminosas tenha se intensificado nos presídios e nega que essa seja a motivação do motim registrado na UP-Itaitinga 2. Sobre o caso de agressão na UP-Itaitinga 3, a Pasta garante que esse foi um caso isolado.
Fugas no Sistema Penitenciário
Pelo menos cinco fugas de presos foram registradas no Sistema Penitenciário cearense, entre o mês de outubro de 2022 e este mês de fevereiro de 2023 (em um intervalo de 4 meses). Confira a lista:
- Três internos fugiram da Unidade Prisional de Sobral, no último dia 3 de fevereiro. Um deles já foi recapturado e dois seguem foragidos;
- Um preso, suspeito de invadir uma casa e estuprar uma idosa, fugiu do Centro de Triagem e Observação Criminológica (CTOC), em 14 de janeiro deste ano, e foi recapturado cinco dias depois;
- Três homens fugiram de uma viatura da SAP, logo após serem condenados a prisão por participação em uma chacina, na noite de 25 de novembro de 2022. Dois deles já foram recapturados;
- Um interno se fingiu de visita e fugiu, na Unidade Prisional Professor Olavo Oliveira (UPPOO II), em 19 de novembro do ano passado;
- Doze internos, que participavam de uma capacitação profissional, fugiram da UPPOO II, no dia 14 de outubro do ano passado.