Pescadores do Ceará amargam o atraso do Seguro Defeso

Presidentes de colônias de pescadores relatam que muitos trabalhadores estão passando necessidade

Iguatu. Cerca de seis mil pescadores artesanais no Ceará reclamam do atraso no pagamento do Seguro Defeso, no valor total de três salários mínimos. O benefício deveria ter sido liberado a partir de março passado. A demora gera revolta entre os profissionais, que alegam dificuldades mediante o crescimento das dívidas pessoais.

Em 2017, houve atraso e o benefício somente foi liberado em novembro, após protestos e queda de braço entre as colônias de pescadores e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Neste ano, a questão se repete. "Isso é um absurdo", disse a presidente da Colônia de Pescadores Z-54, em Quixelô, Genilda Araújo. "Há muitas famílias sofrendo, sem dinheiro e com dívidas acumuladas", acrescentou.

Entre 1º de fevereiro e 30 de abril, a cada ano, os pescadores de águas continentais, em rios, açudes e lagoas, ficam impedidos de pescar por causa do período de defeso das espécies de piracema de água doce, segundo portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por isso, há a previsão legal do pagamento em três parcelas de um salário mínimo, cada, do Seguro Desemprego ou Defeso.

A situação dos pescadores artesanais é de necessidade. "A gente não trabalha desde fevereiro e as contas estão atrasadas nas mercearias", disse a presidente da Colônia de Pescadores Z-41, Neide França, em Iguatu. "O quadro é de sofrimento para todas as famílias", afirmou. Na região Centro-Sul, são cerca de mil profissionais esperam o desembolso do benefício.

Nos últimos anos sempre houve atraso na liberação das parcelas do seguro desemprego, mas desde 2016 quando o encaminhamento saiu do Sistema Nacional de Emprego / Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) para o INSS a situação complicou-se mais ainda, segundo avaliam os dirigentes de colônias de pescadores.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Iguatu, Evanilson Saraiva, o seguro desemprego para os pescadores artesanais já foi liberado no Rio Grande do Norte e na Paraíba. "De forma lamentável, no Ceará, a liberação do benefício tem atrasado em demasia e isso traz sofrimento, dificuldades para as famílias", disse.

Portaria

A gerência regional do INSS em Juazeiro do Norte esclareceu que o Seguro Defeso era regulamentado pela Portaria Nº 4/2008 do Ibama. Em 29 de dezembro de 2017, houve a publicação da Portaria Nº 78 conjunta do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que revogou a norma anterior e criou novos critérios para a concessão do benefício.

Segundo a Portaria Nº 78, o seguro defeso só seria pago se não houvesse alternativa de pesca de espécies de não piracema e exóticas, como o tucunaré e tilápia. Em outras palavras, a norma prevê que, se existe possibilidade de pesca alternativa, o benefício não deve ser pago. Ocorre que, em 7 de junho de 2018, nova Portaria interministerial alterou a vigência da Portaria Nº 78 para 30 de novembro.

"Ficou o impasse e solicitamos à direção central uma análise e uma decisão a esse respeito, se devemos ou não liberar o benefício", explicou Jarbas Freitas, técnico de Seguro Social do INSS, em Juazeiro do Norte. "Estamos aguardando essa decisão da Procuradoria Federal, cobramos todos os dias e também somos cobrados por meio das colônias de Pescadores", completou.

Na abrangência da regional de Juazeiro do Norte do INSS há 15 colônias e cerca de 2.000 pescadores artesanais aptos a receber o benefício. Segundo Freitas, as audiências entre as colônias de pescadores e o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) já foram realizadas, assim como os requerimentos para a concessão do benefício foram encaminhados dentro do prazo legal que foi até 30 de abril.

O Senado aprovou, em abril passado, a sustação da Portaria Nº 78. Entretanto, a medida ainda precisa ser aprovada na Câmara Federal. Os pescadores questionam a viabilidade prática da seleção de espécies durante o trabalho e alegam risco de que a chamada "pesca alternativa" poderia atingir o equilíbrio ambiental, além de danos às famílias e ao meio ambiente.