Mobilização. Este é o termo que pode explicar, o rápido trabalho de limpeza realizado nas praias de Icapuí, no extremo Leste do Ceará, a 205 km de Fortaleza. Pelo menos três praias foram afetadas pelas manchas de óleo. A primeira delas, e a de maior concentração dos resíduos, foi a Praia de Barreiras. Em menos de 48 horas, cerca de 40 voluntários e 50 oficiais da Marinha se mobilizaram para realizar a limpeza da faixa de areia. Ontem (23), o cenário nas praias já era bem diferente do verificado no início da semana.
"Foi um trabalho árduo e minucioso. Quando vimos as nossas praias manchadas, prontamente nos mobilizamos através das redes sociais e formamos um grupo para realizar a limpeza. Somamos forças aos homens da Marinha e conseguimos, juntos, retirar quase todo o material", relatou o fotógrafo Gelton Duarte Soares. O volume de resíduos retirado, segundo o Instituto Municipal de Fiscalização e Licenciamento Ambiental (Imfla), soma o montante de quase 800 kg.
Todo esse material foi levado ao lixão da cidade. A prefeitura estuda, agora, a destinação correta deste resíduo. Essa indefinição preocupa alguns moradores. "A gente não sabe exatamente pra onde tudo isso será levado. Algumas pessoas falam sobre a questão da incineração para evitar que esse óleo contamine outros locais, como os solos", resignou-se a enfermeira Ilana Farias Andrade de Moura. A reportagem tentou contato com a Marinha para saber o que seria feito com o óleo recolhido em Icapuí, no entanto, até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Partículas
Apesar da limpeza realizada, pequenas partículas de óleo, com tamanhos variando entre 2 e 5 centímetros, ainda estão presentes nas praias de Redonda, Ponta Grossa e Barrinhas. "Apesar de serem pequenas, elas causam muito estrago. Talvez até mais que as manchas grandes", pontuou Tobias Soares, coordenador do Sindicato dos Pescadores do Município. Ele explica que os peixes conseguem visualizar as manchas quando volumosas, no entanto, as pequenas, "acabam sendo confundidas com alimento".
"Esse óleo se mistura ao capim-agulha e acaba sendo ingerido pelos peixes. O resultado é a mortandade de várias espécies", lamentou Tobias. Na Praia de Redonda, onde está instalado o Sindicato, a reportagem do Sistema Verdes Mares flagrou pelo menos três peixes mortos. "Não podemos afirmar que seja devido ao óleo, mas os indícios são fortes. Alguns deles estão até sujos de uma substância preta", acrescentou Soares.
Essa preocupação quanto à fauna marinha está em evidência no Município. A socióloga e coordenadora do Projeto "De Olho na Água", Ana Paula Lima, explica que foi formado um Comitê para "analisar e estudar os impactos dessa substância no litoral de Icapuí". O grupo é composto por membros da Fundação Brasil Cidadão, Imfla, Aquasis, Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente do Município (Sedema) e pescadores.
Nosso maior temor é a morte desses peixes. O manatins, uma espécie de peixe-boi que está na rota da extinção, se alimenta do capim agulha que está sendo poluído pelo óleo. É uma combinação fatal", detalhou Ana Paula.
Corrente
Embora o trabalho voluntário seja digno de reconhecimento, o biólogo e coordenador de projetos marinhos da Fundação SOS Mata Atlântica, Diego Igawa Martinez ressalta que "é importante ter alguns cuidados para não se colocar em risco". O óleo traz substâncias perigosas e que podem gerar riscos à saúde humana, fazendo com que deva ser evitado o contato com a pele. Ele pode gerar alergias ou até, dependendo da absorção da pele, entrar na corrente sanguínea e trazer danos. Em casos mais severos pode inclusive levar ao câncer.
"Estou vendo em campo muita gente engajada em ajudar a limpar as praias, mas é importante que as pessoas que querem ajudar verifiquem se de fato têm os equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados. É importante usar traje de limpeza e não de banho", destacou o pesquisador e professor Ícaro Moreira.