Comércio informal mostra cenários distintos no interior do Estado

Estruturas para funcionamento de comércio informal no interior 'transitam' entre a precariedade e a modernização. Espaços são considerados fundamentais para a geração de renda de milhares de famílias

Foram quase quatro décadas funcionando em um espaço que, inicialmente, contava com apenas 40 barracas instaladas de forma apertada, sem proteção do sol ou da chuva e em chão batido. Esta estrutura do antigo camelódromo do Crato deu lugar ao moderno Shopping Popular Belizário de Souza Primo, inaugurado em 2018, que passou a acolher 179 comerciantes. Em pouco mais de um ano, a mudança de cenário atraiu novos clientes e tem agradado a vendedores. No entanto, em outras regiões do Ceará, o comércio informal ainda mantém precariedade - cenário comum da maioria dos municípios do Estado.

Com investimentos de R$ R$ 1,8 milhão, o Shopping Popular do Crato recebeu uma praça de alimentação, banheiros e nova fachada. As melhorias eram uma velha demanda dos permissionários, já que o camelódromo não contava com acessibilidade, instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e pluviais adequadas. O antigo espaço chegou a ser classificado como "inapropriado e inseguro" pelo Corpo de Bombeiros do Município.

De acordo com a presidente da Associação dos Comerciantes Informais do Crato (Acic), Marta Fontes, o conforto é um dos principais destaques do novo equipamento. "Aqui, era muito ruim de trabalhar. Muito apertado, sem falar que era arriscado", ressalta. Com a boa localização, o shopping popular aumentou o fluxo de pessoas. "Trouxe um público diferente. Muita gente não entrava aqui", completa Marta. O espaço é mantido pelos membros da própria associação, que pagam, por mês, R$ 50 para os custos de limpeza, água e energia elétrica.

Contraste

Já em Iguatu, maior cidade da região Centro-Sul, no entorno do antigo mercado público, foram improvisadas dezenas de barracas que vendem frutas, verduras, grãos, refeição e outros produtos. Após 43 anos, o espaço está descaracterizado com a presença de barracas e feirantes tanto na lateral quanto atrás do imóvel. Vista do alto, a imagem revela um amontoado de cobertas de plástico, madeira, telha de amianto e de zinco. As calçadas foram ocupadas pelos feirantes.

As condições de trabalho são precárias. O prédio não foi ampliado e passou apenas por pequenas reformas. Por falta de espaço, vendedores ocupam as calçadas dos dois lados e obrigam os pedestres a caminharem pelo meio da rua. O risco de acidentes com carros e motos é constante. Falta higiene para armazenamento e comercialização dos produtos. Quando chove, a situação fica mais grave ainda.

Há dois anos, foi construído o Centro de Feirantes de Iguatu, que permanece sem ocupação total dos 60 boxes. Ainda falta ligação de energia elétrica e de água. O projeto original não previa cobertura do imóvel, e os feirantes reclamam: "Não dá para suportar o calor, o sol que é muito forte depois das dez horas", disse a comerciante Zuíla Rocha.

O secretário de Infraestrutura do Município, Jocélio Viana, informou à reportagem que o antigo mercado público ganhou, na atual gestão, pequenas intervenções e que, no futuro, deve receber uma reforma mais ampla.

Melhorias

Em Quixadá, maior cidade do Sertão Central, o espaço do comércio informal funciona há quase duas décadas em um trecho da Rua Dr. Eudásio Barroso. São menos de 1.500 m² de área para acomodar 110 camelôs. A expectativa é que, em breve, o local passe por uma intervenção de urbanização, explicou o secretário de Trânsito, Cidadania, Segurança e Serviços Públicos, Higo Carlos Cavalcante.

"O Sebrae será nosso parceiro na capacitação desses trabalhadores dentro do plano de mobilidade que estaremos iniciando em breve. Todas as barracas serão padronizadas e estarão locadas para deixarem corredores livres para os transeuntes. O investimento no projeto total, incluindo toda a área do Centro da cidade, está estimado em, aproximadamente, R$ 5 milhões", completou o secretário.

Improviso

O arquiteto e urbanista Paulo César Barreto lembra que os antigos espaços de comercialização dos produtos originários da agricultura familiar nas cidades eram abertos. "Só depois surgiram os mercados fechados, e que hoje enfrentam concorrências de mercadinhos", observou. "Os atuais mercados públicos precisam ser melhorados e são importantes porque mantêm tradição e incrementam o varejo", completa o especialista.

Por causa desse cenário de precariedade, o presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, chamou a atenção para o aspecto da higiene e da necessidade de fiscalização por parte da vigilância sanitária. "Temos de observar o lado da estética, da modernização desses mercados que devem oferecer condições adequadas de limpeza para venda de frutas, carnes", pontuou. "São espaços que precisam ser preservados por tradição e pelo aspecto cultural, além de ser fonte de renda familiar para milhares de vendedores", acrescenta o presidente da Aprece.