Assim como no mercado do futebol, a atração de reforços é importante no mundo político, sobretudo em um ano eleitoral como 2024. Assim, ao menos nove parlamentares da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) já sinalizaram que irão deixar seus atuais partidos ou contam com destinos certos, bastando apenas a abertura da janela partidária.
Durante o período, que vai de março a abril, estipulado assim pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), políticos com mandatos eletivos proporcionais - neste caso, vereadores - poderão mudar de legenda sem que percam suas cadeiras no Parlamento.
Na capital cearense, seja pelas disputas políticas observadas ao longo de 2023 ou pela busca de agremiações com maior envergadura, alguns dos interessados em usufruir do benefício concedido pela Justiça Eleitoral demonstram o intento desde o ano passado.
Com base nestas demonstrações e em declarações de lideranças partidárias, o Diário do Nordeste fez um compilado sobre as movimentações, elencando o que já está certo até aqui.
Metade da bancada
O Partido Liberal, por exemplo, pode perder metade da atual formação na Casa, uma vez que os vereadores Bruno Mesquita, Ana Aracapé e Tia Francisca explicitaram a vontade de sair do quadro de filiados. A questão se tornou pública em janeiro, quando Mesquita revelou a questão.
"Como já anunciei na tribuna, o PL que fui convidado era o do deputado Júnior Mano e do prefeito Acilon Gonçalves, como eles não estão no comando do partido, já avisei que, quando abrir a janela partidária, irei sair e procurar outro destino", disse o liberal na ocasião.
Ao que disse o vereador, a agenda política que defende é “antagônica” à do pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza pelo seu partido, André Fernandes. “A candidatura do André não me atende em nenhum quesito. Não me sinto representado pelo deputado. Não tenho ligação com 'candidatos de internet', tenho com candidatos que fazem alguma coisa pelo povo, que têm um projeto político para a cidade”, salientou, afirmando que a discordância não tem nenhum cunho pessoal.
A mesma postura foi adotada pela vereadora Tia Francisca, que manifestou, através da sua assessoria de imprensa, o desejo de pedir a desfiliação do partido. "Estou analisando o cenário e avaliando qual a melhor opção. De fato, não permaneço no PL, mas ainda não sei qual será nossa próxima sigla", informou por meio de nota.
Ana do Aracapé também alegou naquela época que iria se despedir do PL. "Estou ainda naquele trâmite de avaliação", declarou à reportagem. "Com certeza eu saio do PL", falou, revelando que já havia iniciado conversas com outras legendas. "A Priscila (Costa) permanece e o Inspetor (Alberto) também", avaliou.
Segundo ela, sem detalhar o assunto, são muitas as motivações para a mudança. Aliada do prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves, a parlamentar comentou que ainda não teve um encontro para tratar o tema. "Ainda não conversei com o Acilon. Tenho uma proximidade muito grande e até aguardo pela conversa com ele, principalmente com o filho dele, o Bruno Gonçalves", completou.
Naquela época, nas palavras de Ana do Aracapé, uma coisa seria certa: a sua permanência na base do governo pedetista. "Sou gestão, 100% gestão Sarto. Minha preferência é ir para um (partido) totalmente na base", definiu a entrevistada, confirmada depois no Partido Democrático Trabalhista (PDT).
PDT ganha mais filiados
No dia 12 de janeiro, durante uma reunião do diretório municipal do PDT, o nome de Aracapé foi anunciado como uma futura filiada. Ela ingressa junto com vereador licenciado Fábio Rubens (PSB) e com Kátia Rodrigues (Cidadania).
Rubens é secretário da Regional VIII desde março do ano passado, quando o Partido Socialista Brasileiro (PSB) era aliado do Governo Municipal.
A conversão de Rodrigues ao pedetismo, em especial, era ventilada nos bastidores desde outubro do ano passado, quando uma comissão de tática da eleição proporcional foi criada para articular candidaturas que possibilitem a agremiação a eleger o maior número de membros no Parlamento municipal.
Na data do encontro da cúpula trabalhista de Fortaleza, Alexandre Pereira, presidente estadual do Cidadania e secretário de Turismo de Fortaleza, estava presente.
Baixas no PDT
Apesar dos acréscimos, uma dupla está de saída do PDT: os vereadores Júlio Brizzi e Ana Paula. Ambos estiveram envolvidos no conflito entre alas pedetistas, protagonizado por grupos liderados pelo senador Cid Gomes e pelo deputado federal e dirigente nacional André Figueiredo, e também pediram cartas de anuência durante a reunião em que dezenas de correligionários solicitaram o direito de sair sem perder seus mandatos.
Ao que disse a própria Ana Paula, no dia 1º de fevereiro, ela e Brizzi devem ir para o PSB que, no último domingo (4), filiou o própio Cid, uma legião de prefeitos cearenses e a secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC), Izolda Cela.
"Nós vamos com o senador Cid para onde ele for. Se for PSB, a gente vai. Se for para ir compor chapa de vice-prefeitura a pedido dele, nós iremos. Se for pra compor chapa em outro partido, também. Ele é nosso líder maior e o que ele determinar nós iremos", discorreu a parlamentar.
Incompatibilidades e razões ideológicas
Entre as entradas e partidas, o PL ganhará um vereador, Julierme Sena (União). Ele deve, conforme disse, por motivos ideológicos, alterar a rota para fortalecer a campanha do deputado federal André Fernandes, pré-candidato liberal ao Paço Municipal.
"Tenho conversado com alguns partidos, especialmente com o PL, pois, do ponto de vista ideológico, se assemelha ao que penso, ao que realmente prego em minha atuação política", acenou Julierme, ponderando que a possibilidade será tratada de maneira oficial próximo da data de abertura do prazo. "Se sair, irei, provavelmente, para o PL", finalizou.
Em outubro do ano passado, Estrela Barros (REDE) também comentou sobre a mudança de casa. "Eu já estou vendo a questão de procurar um outro partido. Estamos pensando ainda", revelou.
O destino de Estrela, segundo a própria, está quase certo. "Não tenho muito o que esconder, até porque é o partido que eu tenho visto a possibilidade ainda, que é o PSD", disse. A falta de aproximação com a atual legenda, a identificação com a casa almejada e o convite do deputado federal Luiz Gastão (PSD) estariam sendo determinantes para a decisão.
Questionada novamente sobre o assunto durante a sessão solene que marcou a abertura dos trabalhos na Câmara, ela esclareceu que ainda não bateu o martelo sobre o seu destino e que irá falar publicamente sobre o assunto apenas no momento oportuno, em março.
Mas se o PSD pode ganhar uma nova integrante, a permanência de um dos atuais membros, PP Cell, é incerta. Ele é um dos vice-líderes do prefeito José Sarto (PDT) na Câmara e busca uma reaproximação do atual partido com a plataforma governista, depois da agremiação bater em retirada da base de sustentação, em agosto do ano passado.
Segundo ele mesmo informou, no início do mês passado, ainda há uma esperança sua quanto ao possível retorno da legenda para a situação. "Tenho conversado muito com o deputado que sou aliado, Luiz Gastão, que é com quem ando junto. Na verdade, o PSD saiu, mas está meio que neutro. Ainda não foi decidido nada. Tem muita água para rolar debaixo dessa ponte", salientou.
Sua permanência estaria condicionada a esse movimento. "Hoje sou aliado do (deputado federal Luiz) Gastão, mas também sou do prefeito Sarto. E torço muito para que haja esse alinhamento. Se não houver, vai ser uma decisão difícil de tomar", completou.
Por incompatibilidade, outro que irá se despedir do time é Márcio Martins (SD), próximo do Governo Sarto. O fim do elo foi comunicado pelo presidente estadual do Solidariedade no Ceará, George Lima, em entrevista ao Diário do Nordeste, logo que assumiu a direção.
"Ele sai", pontuou o dirigente. Indagado sobre o parlamentar ter comunicado seu êxodo partidário, Lima falou que não houve nenhuma conversa, mas que o partido não irá oferecer legenda para a candidatura dele: "No partido, ele não deverá ter esse apoio".
A reportagem procurou Martins a fim de obter uma posição sobre seu diálogo com a atual presidência do partido e qual seria o seu destino político, caso sua saída se concretize. O conteúdo será atualizado quando houver uma resposta do parlamentar.
Parlamentar sem legenda
No quadro atual, há ainda um vereador sem partido: Ronivaldo Maia. Como prevê a legislação eleitoral, ele terá que optar por um novo destino caso queira participar do processo eleitoral para uma vaga no Legislativo em outubro.
Ele está sem legenda desde que foi expulso do Partido dos Trabalhadores (PT), em junho de 2022, acusado de tentativa de feminicídio. Ao longo do ano passado, pelo que alegou Maia, lideranças fizeram convites ao parlamentar, que prefere não comentar sobre o assunto até que defina seu percurso. Entretanto, interlocutores sinalizam que o ex-petista deve continuar na oposição.
Cotados nos bastidores
Quando da publicização da saída dos três vereadores do PL, o nome de Pedro Matos também foi ventilado como mais um dissidente. Ele é filho do ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, atual presidente da Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), e estaria negociando com uma agremiação aliada ao chefe do Executivo municipal.
Consultado, Matos negou que tenha tal pretensão: "Até o momento não tenho discutido saída do PL e pretendo permanecer. Vou deixar pra analisar alguma mudança somente na janela partidária", disse.
Outra possibilidade que circula nos corredores é a desfiliação de Luciano Girão do Progresistas, que deve ficar do lado oposto ao prefeito Sarto na corrida eleitoral. "Não abrimos ainda esse diálogo, essa conversa, tenho que sentar com o presidente do Progresisstas para ver o que o partido também está pensando", frisou, admitindo que recebeu convites de diversas siglas, entre elas o PSD, o Republicanos e do próprio PDT.