O Ministério Público Federal (MPF) decidiu instaurar um procedimento administrativo para investigar as consequências do uso de plataformas de apostas online às pessoas vulneráveis socialmente e economicamente no Ceará.
As investigações podem indicar quais medidas deverão ser adotadas tanto na Justiça como extrajudicialmente para controlar a atividade.
O procurador da República Alessander Wilckson Cabral Sales, responsável pelo inquérito no MPF, afirmou que o procedimento está embasado em estudos recentes que mostram que pessoas vulneráveis socialmente e economicamente estão comprometendo o próprio orçamento familiar pelo uso excessivo das plataformas de apostas, impactando o sustento básico e afetando o usufruto de direitos humanos essenciais, como saúde, alimentação e habitação.
'Bets' e jogos de azar comprometem renda de estudantes e aumentam inadimplência
O Diário do Nordeste publicou no último dia 20 de setembro que as "bets" já invadiram até salas de aula no Estado, afetando não apenas a aprendizagem como, também, a vida financeira de adolescentes, sobretudo os de escolas públicas.
Um dos estudantes ouvidos pela reportagem à época confessou, inclusive, ter usado parte do dinheiro do Pé-de-Meia, incentivo financeiro-educacional bancado pelo Ministério da Educação, para pagar apostas. "Peguei R$ 50 dos R$ 400 [recebidos pelo benefício], botei todo no Ceará [o time de futebol], e perdi", admitiu.
A colunista Ingrid Coelho também trouxe à tona que a lista de inadimplentes no Ceará ganhou 8,9 mil nomes entre julho e agosto deste ano e que não se descarta a possibilidade de bets e jogos online de azar estarem corroendo a renda dos cearenses e limitando a capacidade de consumo. "Parcela significativa das pessoas, principalmente as que têm um nível de renda mais baixo, tem direcionado parte da remuneração para apostas como 'tigrinho' e outras", reconheceu o economista Ricardo Coimbra.
Risco de endividamento preocupa Banco Central
Nesta semana, o Banco Central também divulgou um estudo que aponta que os brasileiros gastam em torno de R$ 20 bilhões por mês em apostas online. Uma outra pesquisa, da fintech Klavi, revelou que 30% da população do País com contas em banco buscou empréstimo nos últimos 12 meses para financiar apostas em "bets".