Filha do médico que aparece no suposto laudo divulgado por Pablo Marçal nas redes sociais para acusar Guilherme Boulos de uso de drogas, Carla Maria de Oliveira e Souza disse que o documento é uma falsificação grosseira.
Segundo ela, vai processar Marçal e o dono da clínica Mais Consultas, de onde supostamente teria saído o laudo.
Marçal utilizou o Instagram nessa sexta-feira (4) para publicar um receituário médico falso descrevendo um atendimento em que Boulos estaria “com um quadro de surto psicótico grave, em delírio persecutório e ideias homicidas” e ligou o fato a um suposto uso de cocaína, o que foi negado pelo candidato do PSOL.
Analista de sistemas, Carla mora em Valinhos e é inventariante da herança do pai. "Essa assinatura nunca foi do meu pai. Ele nunca se envolveria nesse tipo de coisa", disse ela em entrevista à colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Conforme a coluna, José Roberto de Souza era hematologista e morreu em 2022, de Covid. Ele atuava em Campinas, nunca atendeu em São Paulo e nos últimos anos de vida clinicava no hospital da PUC na cidade.
Provas contundentes
Carla foi despertada às 3h30 deste sábado (5) por um oficial de Justiça que queria conferir se assinatura no documento divulgado por Marçal era verdadeira. Portadora de esclerose múltipla e acamada, não conseguiu atender o oficial.
Mas recebeu o documento por mensagem e atestou que a assinatura não é verdadeira. A médica Aline Garcia de Souza, uma das irmãs de Carla, também já se pronunciou nas redes sociais atestando que a assinatura de José Roberto não confere.
“Esse documento não faz nem sentido”, diz Carla. “No cabeçalho está escrito receituário. Receituário de quê? Ele não está receitando nada. Também não tem carimbo e erros grosseiros de ortografia”, completa ela, que pretende acionar Marçal por danos morais.
Inquérito aberto
Por isso mesmo, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o laudo médico falso. O caso já está em investigação — e peritos estão analisando as inconsistências do documento.
Diante dos indícios de fraude, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo determinou na manhã deste sábado a exclusão imediata de vídeos publicados nas plataformas Instagram, TikTok e Youtube que faziam referência ao laudo médico falso divulgado por Marçal às vésperas das eleições municipais.
A decisão foi dada em resposta a contestações protocoladas no TRE de São Paulo pela campanha de Guilherme Boulos. A defesa do psolista fez uma notícia-crime pedindo a prisão de Marçal e outras medidas como apreensão e quebra de sigilo telefônico e telemático.
Nas redes sociais, o candidato que foi alvo de ataque de Marçal desmentiu o teor do documento forjado. "O dono da clínica do documento que ele publica tem vídeo com Pablo Marçal é apoiador dele. Ele falsificou um documento com um CRM de um médico que faleceu há dois anos para que ninguém fosse responsabilizado", disse Boulos.
Procurada pelo jornal O Globo, a campanha de Marçal não se manifestou sobre documento médico falso divulgado pelo candidato do PRTB.
A campanha de Boulos disse em nota que "o documento publicado por Pablo Marçal é falso e criminoso e ele responderá e arcará com as consequências em todas as instâncias da Justiça — eleitoral, cível e criminal".