Menos de uma semana após a concessão de mais de 20 cartas de anuências para parlamentares estaduais e federais cearenses, o PDT Ceará sofreu mais um duro revés nesta terça-feira (14). Durante encontro com senador Cid Gomes (PDT), 43 prefeitos pedetistas anunciaram que irão se desfiliar da sigla. O grupo de deputados, prefeitos e vereadores se diz perseguido dentro da agremiação.
Cid Gomes, inclusive, preside o diretório cearense sob decisão liminar, após o diretório nacional da legenda, comandado interinamente pelo deputado federal André Figueiredo (PDT), destituí-lo da função.
A saída dos mandatários municipais também é uma reação a uma série de angústias dos políticos, que já veem no horizonte a proximidade das eleições do próximo ano. O Diário do Nordeste listou cinco pontos que explicam o desembarque em massa dos gestores. Confira:
Insegurança partidária
Um dos pontos apontados para saída em massa de prefeitos é a insegurança partidária dentro do PDT. Para gestores municipais da sigla, a agremiação não dá garantias de legenda e apoios de peso para as eleições municipais do ano.
De olho na disputa, eles querem lideranças ao seu lado na campanha que estão em lado oposto ao do grupo ligado a André Figueiredo (PDT). O objetivo é que os caciques ajudem a emplacar sucessores ou apoiem chapas em busca da reeleição.
Dentre os nomes apontados, estão: o senador Cid Gomes, o ministro Camilo Santana (PT), o governador Elmano de Freitas (PT) e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), o deputado Evandro Leitão (PDT).
Por isso, os gestores dizem não haver mais clima para continuar no partido e, agora, é hora de buscar outra legenda. A missão, todavia, deve ser encabeçada por uma comissão formada pela ala cidista do PDT — composta pelos deputados estaduais Guilherme Landim, Osmar Baquit e Marcos Sobreira; pelo federais Eduardo Bismarck, Idilvan Alencar, Mauro Filho e Robério Monteiro; além de Cid Gomes.
Crise interna
A crise interna no PDT já se arrasta desde a pré-campanha eleitoral do ano passado, mas entrou em ebulição após desgastes sobre o comando da agremiação no Ceará em meados deste ano.
Dividido em dois grupos — o de Cid, que defende aliança com o Governo do Estado, e o de Ciro Gomes e André Figueiredo, que defende ser oposição —, os atritos se intensificaram entre correligionários após carta de anuência ser concedida, em agosto, para Evandro Leitão se desfiliar sem perder o mandato. O lado cidista ventila o nome dele como possível candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2024, já os ciristas querem que o prefeito José Sarto (PDT) concorra à reeleição.
Depois do ato, a Executiva Nacional reagiu, questionando na Justiça a carta de anuência. No entanto, última decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) validou a anuência, liberando Evandro para se desfiliar.
Depois da carta de anuência, André Figueiredo suspendeu a licença e retomou o comando do PDT no Ceará; o diretório estadual convocou reunião extraordinária e elegeu Cid como presidente da agremiação cearense de forma permanente; ações na Justiça foram abertas questionando a deliberação; uma intervenção nacional foi aprovada, postergada, formalizada e, mais recentemente, invalidada liminarmente pela Justiça.
Decisão antecipada de desfiliação de deputados estaduais e federais
A possível saída dos gestores já era prenunciada por deputados da legenda, que alegavam que muitos queriam aliança formal do Governo do Estado. Esse, inclusive, foi um dos motivos citados pelos parlamentares que pediram carta de anuência ao partido.
Pelo menos nove deputados estaduais titulares, cinco suplentes, e quatro deputados federais, e dois suplentes, receberam no dia 8 de novembro autorização formal do diretório estadual para deixar a agremiação. A deliberação foi aprovada quando o diretório estava sob o comando de Cid com a justificativa de perseguição.
Na noite do dia 8, a cúpula nacional anulou todas as cartas de anuência. No dia 9, oficializou a destituição de Cid Gomes. Na manhã do último dia 10, foi dado posse a comissão provisória instalada no PDT Ceará. No mesmo dia, mais tarde, a Justiça decidiu, em caráter liminar, que o comando era de Cid, desinstalando a comissão. Com isso, deputados acreditam que as cartas de anuências estão mantidas.
A medida acabou incitando a debandada dos prefeitos. Nessa terça, os gestores, inclusive, pressionaram para formalizar a saída. Houve votação e até o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), que é irmão de Cid e Ciro, foi favorável a anunciar a saída da legenda em apoio a Cid. Na ocasião, prefeitos disseram que o senador tentou adiar o anúncio, mas nenhum dos presentes queria mais fazer parte do PDT.
Proximidade com governo
Historicamente, a ampla maioria dos mandatários cearenses tende a ser situacionista, aproximando-se da liderança estadual. Agora, diante da ameaça de uma ala do PDT fazer oposição ao Governo do Estado, os mandatários se dizem incomodados e veem uma ameaça à manutenção da parceria com o Executivo do Ceará.
Poucos antes do encontro de Cid com os prefeitos, um dos gestores municipais comentou sobre essa angústia dos mandatários. O prefeito da cidade Senador Pompeu, Antônio Maurício Pinheiro, disse que alguns pedetistas até pensavam em ficar na sigla, mas precisavam da garantia de que poderiam “conciliar” com o Governo do Estado.
“Nós somos prefeito no sertão e ninguém até hoje pensou como seria a nossa relação nos municípios pobres sem o apoio do Estado, então é isso que traz a indefinição para nós prefeitos (...) Hoje mesmo o Governo distribuiu 33 ambulâncias e fez questão de dizer que está botando ambulância para municípios, como no meu caso, em que prefeitos não votaram nele e para municípios que votaram, de forma igualitária”,
Caminhos favoráveis para o futuro partidário do grupo
Mesmo sendo até então o maior partido do Ceará em número de mandatários, o pleito eleitoral de 2022 deixou o PDT em situação vulnerável com a derrota de Ciro Gomes (PDT) na disputa pela Presidência da República, ficando em quarto lugar na disputa, e com o candidato ao Governo do Ceará, Roberto Cláudio (PDT), sendo derrotado ainda no primeiro turno para Elmano de Freitas. Soma-se a isso o racha na sigla.
Ao mesmo tempo, outras legendas se fortaleceram no Estado e começaram a aparecer como alternativa para o grupo político comandado por Cid Gomes. O PT foi o partido que saiu mais fortalecido de 2022. Além da vitória de Elmano no Ceará, Lula (PT) virou presidente da República e o ex-governador Camilo Santana foi eleito senador e nomeado ministro da Educação. A sigla também tem ganhado novos prefeitos. Só no ano passado foram 12 novas filiações e, atualmente, a sigla contabiliza cerca de 30 prefeituras.
O movimento de duas lideranças também indicou possíveis alternativas para aliados de Camilo Santana e de Cid Gomes. Um aliado de primeira ordem do pedetista, o prefeito Bismarck Maia, de Aracati, se filiou e foi alçado à Presidência do Podemos no Ceará. Ao mesmo tempo, o pai de Camilo Santana, principal liderança política hoje do Estado, o ex-deputado Eudoro Santana assumiu como presidente do PSB e já sinalizou o interesse de abrigar egressos do PDT.